tag:blogger.com,1999:blog-26667409731311097342023-11-15T05:31:33.261-08:00teórico como pêssegomoonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.comBlogger107125tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-49552493062121964412020-03-18T12:43:00.000-07:002020-03-18T12:43:12.219-07:00postal a Pondichèrymelhor ser joalheiro do que mau poeta<br />
disse Diderot ao homem de Pondichèry<br />
(e também à Adília)<br />
<br />
eu fico pensando nos joalheiros<br />
sem ironia<br />
penso no preço da obra, naquelas<br />
lentes fixadas ao olho<br />
na beleza pura e sem explicações<br />
<br />
palavras são coisas feiosas que a gente disfarça<br />
insetinhos tortos que comem a casa<br />
larvas pela carcaça<br />
palavras são desculpas esfarrapadas<br />
para o orgulho feio de velhos carecas<br />
(coisas de românticos meio necrófilos)<br />
mas mulheres carecas também escrevem feias palavras.<br />
<br />
o único jeito de entender Diderot<br />
é fingindo demência da sua ironia:<br />
jóias, gioia, folia!<br />
melhor ser má poeta, madrasta má<br />
e má entendedora,<br />
talhar sem tesão<br />
nem trocadilhos<br />
ver a coisa nascer do brilho:<br />
<br />
<i>beleza pura, dinheiro yeah</i><br />
<i><br /></i>
todo poeta quer ser joalheiro.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-65493286141919864512019-12-09T14:17:00.003-08:002019-12-09T14:17:55.313-08:00translating A Kissher oblique kiss avoids the english language<br />
across<br />
as it gives it color.<br />
a kiss on the wrong lane<br />
on the horizon<br />
out of reach,<br />
corner of our lips.<br />
A kiss lost under a rug, left<br />
on the porch of an old house<br />
flies<br />
with liftoff bubbles.<br />
<br />
A kiss, like yours,<br />
undone in spy tones<br />
through a keyhole,<br />
over a fence,<br />
timid in iced coke:<br />
dark.<br />
A kiss in blue<br />
the disappearing lips<br />
of a poem<br />
<br />
<br />
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-70548423693400282082019-10-10T20:01:00.002-07:002019-10-10T20:02:09.117-07:00Morar demora <div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Morar demora.</span></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">primeiro a casa, que se habita aos poucos: a casa cheirando a livro novo, cheiro que se vai esquecendo à medida da leitura das páginas. O sabor dos cantos e as manchas na parede que se parecem com lagartos e dinossauros. O papel de presente rasgado de cada abrir da porta de entrada. A novidade da casa é sedutora para uma pessoa que sempre disse: meu lugar mais confortável é a estrada. Não sinto mais o cheiro da casa, como não sinto o meu cheiro, mas gosto de apertar as narinas contra meu braço direito e me lembrar que também tenho novidade. </span></div>
<div class="p1" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span class="s1" style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Morar, ainda, demora, mesmo quando já se mora a casa (não se mora na, nem em, assim como não se namora em alguém: se namora e se mora a casa). Mas mesmo quando já se mora a casa, até mesmo o quintal (com sua particular translação, as linhas do sol de mês a mês que começam por acordar o pé de manhã e vão subindo para a cabeça, com seus grilos que se tornam cigarras e suas acerolas que se tornam ipê, e novamente acerola), ainda não se mora. Não completamente. Morar demora. É preciso então morar aos poucos a rua, o latido do cão do vizinho, que parece grande mas é pequena, que conversa com o nosso como conversamos com o alecrim, é preciso morar o mercado, a praça, tudo onde se come onde se bebe, a tua presença (morena morena). Como se conhece um grande amor, é preciso conhecer o mercado, as cores dos caminhos, o moço que vende mel na frente do banco, e o melhor café. Morar o bairro, ou se chama cidade isso onde moro? Onde estou morando, com cuidado, cautela, com a contra-mão da voracidade da cidade antiga se chama bairro, mas é a minha cidade. Quando digo minha já a perco, como perco tudo o que quero ter, porque morar, como namorar, não é ter. Morar a universidade foi reencontro, continuidade do flerte constante do nosso apaixonado relacionamento à distância. A cidade ainda me olha com olhos de bicho meio domesticado meio arisco, com os quase amigos, os vens e vais. Morar tem demorado. Sem pressa, no tempo do bastante. Essa semana, depois de floridas as sibipirunas escondidas, choveu. Chove pouco aqui. Frases que eu não posso dizer, porque não te conheço. Nosso amor é novo, desde sempre. Essa semana choveu e deitaram-se as flores das sibipirunas pelo chão. As árvores de ovos mexidos. Essa semana eu fui encontrando os caminhos, esbarrando os semi-desconhecidos, os rostos que pairam por aqui, escutando os sons que aqui se tocam, trabalhando no que aqui se trabalha, com pessoas que aqui estão, e fazem aos poucos caminhos leves em mim. Essa semana eu vi os chãos de ovos mexidos que penteavam as ruas das minhas antigas casas. Essa semana eu tenho sentido, de rosto meio corado, que quero dizer, como quem pergunta pela primeira vez se posso te chamar de namorado, que tenho morado, estou morando em Barão Geraldo. </span></div>
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-49480828007143561092019-05-13T12:56:00.000-07:002019-05-13T12:56:32.114-07:00the girl with glassesI missed you today,<br />
small blond girl<br />
small pink<br />
red<br />
blond girl.<br />
<br />
It finally happened<br />
I missed your glasses.<br />
<br />
It was as simple as that,<br />
I placed my chin on my left hand<br />
I pushed my glasses up with the back<br />
of my fingers<br />
and I saw you<br />
adorable and cruel,<br />
the Sylvia Plath of soft skin,<br />
the serious look as you scratched your nose.<br />
It took me long years to relate to your allergies.<br />
<br />
maybe because I read her,<br />
maybe because it's long over<br />
due<br />
<br />
Our friendship and<br />
a thick book of quotes,<br />
the rushed instances of activism.<br />
Like the water died<br />
from a red dress<br />
washed for the first time.<br />
red, but not quite<br />
Lovely, over,<br />
and out.<br />
clear is now, for my thirst<br />
clear is needed, for some strange sort of<br />
peace.<br />
<br />
I can miss you;<br />
your soft glasses<br />
your acid stare<br />
something lovely and acre in our past.<br />
I can miss you like I can read<br />
Lady Lazarus<br />
and still be<br />
alive.<br />
<br />
I push my glasses up my nose<br />
the way I learned from watching you.<br />
<br />moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-44740074894822891632019-04-03T12:31:00.003-07:002019-04-03T13:31:17.997-07:00com cuidado para não borrar o esmalteinverno novaiorquino<br />
os navios no espaço carregam correntezas<br />
ou a próxima neve (sempre difícil de ancorar)<br />
<br />
(como se diz chover, só que para neve?<br />
como se diz quando está chovendo neve?, ela me perguntou)<br />
<br />
eu não sei escrever de memória<br />
só escrevo o último sabor<br />
antes de escovar os dentes.<br />
borro o caderno de esmalte de tanta impaciência,<br />
como uma criancinha<br />
e gosto de dar mordidas grandes em punhados de neve.<br />
<br />
Lá o desconforto é menos largo,<br />
a meia-calça aperta: dentro de casa é seco,<br />
fora de casa é frio.<br />
gosto do frio, mas sinto dores como uma velha.<br />
<br />
(aqui não. aqui tem acerolas e o escritório é um<br />
forno. quando tento me lembrar,<br />
coço no ar as patas de um verso mal escrito)<br />
tinha o amor a poucas esquinas<br />
aquele que está sempre perto e longe demais,<br />
como o cartão postal<br />
que chega em casa depois de mim,<br />
Vem me receber na porta<br />
com olhos de cachorro velho<br />
e flocos de neve já sem cheiro.<br />
<br />
me pergunto se isso de exercitar a caneta serve mesmo pra alguma coisa<br />
<br />
me pergunto se é possível escrever sobre qualquer<br />
outra coisa, que não essa paixão antiga<br />
de enlatado, esse ready-made<br />
luzinha que pisca num farol a cada seis meses<br />
(o farol que demora seis meses para girar<br />
poderia ser um conto, mas não será)<br />
me pergunto se aquele abraço,<br />
ou aquele, ou aquele outro,<br />
valem alguma coisa, no rosto da página seguinte.<br />
<br />
escrevo sempre mais uma linha, pra ver se a próxima<br />
descongela a anterior:<br />
passo quarenta minutos com a perna debaixo da água quente,<br />
faço massagem com o sabonete,<br />
desempedro minhas coxas de velha, faço alongamentos,<br />
procuro deixar o músculo vivo, hidratar a dobra.<br />
Bertha Young aposentada,<br />
ou a criança trancada no armário da prosa de Dickinson.<br />
O que é, afinal, uma mulher adulta?moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-37180449912086469542019-02-14T18:02:00.001-08:002019-02-14T18:05:25.866-08:00cartilha da light <div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Desligue as luzes de dia </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Abra as janelas </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Acenda velas</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Tome banho frio </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Guarde energia pro amor.</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;"></span><br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Não ligue o carro.</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Vá a pé </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Não veja televisão </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Não telefone </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Desça de escada </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Economize pro amor </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;"></span><br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Silencie o grupo de família </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Esqueça a conta em cima da mesa</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Não pegue trânsito </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Desligue o Wi-Fi </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Salve um pouco pro amor </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;"></span><br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Regue as plantas </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Todos os dias </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Escute o barulho da semente </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Corte cebolas </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Destranque a porta dos fundos </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Tire as roupas </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Desconecte os pontos </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Assista as veias azuis nos teus braços </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal; min-height: 20.3px;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;"></span><br /></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Pise descalço no asfalto molhado da chuva</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Escute o som do dia acabando </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Abra cartas com um cortador de papel</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Deixe a caneta tinteiro formando uma poça</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Roxa </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Inundar a sua escrivaninha </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Repare na folha, na asa, na núvem escura </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Invente energia </span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">Num laboratório escuro,</span></div>
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">no meio da noite</span></div>
<br />
<div style="color: #454545; font-family: ".SF UI Text"; font-size: 17px; font-stretch: normal; line-height: normal;">
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;">invente energia pra nós.</span></div>
<div>
<span style="font-family: ".sfuitext"; font-size: 17pt;"><br /></span></div>
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-76090466560079077052018-10-30T16:38:00.000-07:002018-10-30T16:38:22.576-07:00quinze minutosem momentos breves<br />
imperceptíveis<br />
que piscam entre uma xícara de café<br />
e o próximo copo d'água<br />
quando nada se vê debaixo da minha pele<br />
rosada<br />
naqueles instantes lisos<br />
em que a minha alma corre perigo<br />
solta num vazio de signos<br />
<br />
(luzes coloridas acendem<br />
apagam<br />
a frase musical que não comunica)<br />
<br />
nos momentos em que um pedaço<br />
fundo e escuro dentro de mim,<br />
velho como a arena de Verona,<br />
flutua perdido no espaço<br />
<br />
momento em que nenhuma palavra ancora<br />
o lastro grosso do traço<br />
(não do silêncio, mas do ar condicionado)<br />
ruído branco, espesso, pálido<br />
<br />
nesse quarto de hora em que não se espera nada<br />
minha alma quieta está em perigo.<br />
<br />
é de repente nessas horas que eu torço<br />
por uma notícia tua.<br />
<br />
não tem nem nome de saudade isso<br />
é a ponta de um pé que desliza procurando<br />
a areia do fundo<br />
não chega nem a ser saudades isso<br />
porque não é coisa que se mate:<br />
é a mão que tateia o interruptor<br />
é o pé no freio,<br />
o corrimão na escada escura.<br />
<br />
eu espero notícias tuas<br />
que o mundo não acabe,<br />
- como se espera a previsão do tempo -<br />
que chegue a eleição<br />
que não chova amanhã de manhã<br />
que chova na cantareira<br />
<br />
eu espero notícias tuas como espero a voz da vizinha<br />
cantora lírica pela janela<br />
como espero que não tenha acabado o azeite,<br />
que volte o sinal do wi-fi.<br />
As tuas notícias são menos notícias tuas<br />
mais a prova dos nove:<br />
a luz que bate no objeto e<br />
carrega até os meus olhos,<br />
o vento que me lembra que tenho pele.<br />
<br />moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-12233681215153829702018-04-08T21:15:00.001-07:002018-04-08T21:15:21.179-07:00bem me querolho perdida para a página que não é lisa<br />
já estão escritas todas as coisas que faltava te dizer<br />
<br />
- você quer dizer algo...<br />
- eu quero dizer algo?<br />
- eu quero dizer algo<br />
<br />
nos falta mesmo falar? só o que fazemos é escorrer palavras por essa pedra macia<br />
seixo<br />
seixo<br />
seixo<br />
pedra que rola o rio, a gente é feito dessa maciez dura, lisa, azul.<br />
<br />
já estão escritas e ditas todas as coisas. ainda assim meus olhos não pregam. quero te dizer<br />
a última palavra diante do portão de embarque<br />
quero te dizer que existem livros nas bibliotecas do mundo<br />
quero te dizer que existe um poema perfeito<br />
que se esconde debaixo de um tronco comido pelo tempo<br />
um cogumelo cor de laranja<br />
alucinação e febre, o ápice de uma ideia que se esgueira para fora da fenda,<br />
o jorro de vozes, alguém que canta em meio às buzinas<br />
existe o poema, que eu não escrevi<br />
existe o poema<br />
o poema pulsa debaixo da terra<br />
o poema escala arranha-céus<br />
o poema venta<br />
correntes de ar e avisos prévios<br />
ordens de despejo<br />
a senhora derrama pela janela as roupas de dentro de uma mala<br />
uma criança segura uma margarida<br />
e a rosa despetalada.<br />
<br />
existe o poema que te espera num porto<br />
que te espreita detrás do cinema<br />
que leu teus dedos na biblioteca<br />
que encontra as duas pintas de tinta no teu braço<br />
existe o poema que te quer entre as páginas rasas<br />
existe um poema que te espera<br />
<br />
eu quero te dizer coisas que não se escreve<br />
eu quero te dizer coisas mas o teclado escreve girafas<br />
rinocerontes e séries de tv<br />
eu quero te dizer que fique e vá embora sem olhar para trás<br />
<br />
não saia nunca desse frame<br />
esse frame em que estão dois olhos pretos, pequenos, dois planetas<br />
o espaço entre aqui e a terra do nunca<br />
não saia nunca desse segundo, não saia<br />
não me perca na multidão dos próximos dias,<br />
não se esqueça do pierrot molhado e vamos se embora ladeira<br />
abaixo o mar que se estende à frente, não vá.<br />
quero guardar a fotografia desses anos, quero falar até perder a voz<br />
um telefone antigo, o bill murray, cigarros.<br />
<br />
me rodeio de silêncios que vão formando um manto. de novo escuto a voz que me pede cale-<br />
de novo preciso que a telefonista me confirme o código e ninguém atende<br />
de novo estou no escuro de um corredor frio<br />
eu estarei na asa do avião<br />
eu serei a asa do avião<br />
eu sou a núvem, eu sou o copo de água, eu sou a primeira folha amarela.<br />
<br />
cartas<br />
soluciona? precisa haver solução para esse silêncio que estou sentindo agora<br />
precisa haver solução<br />
cartas?<br />
me escreva, desenha de giz no chão uma linha azul<br />
estou segurando com as duas mãos um machado de saudades<br />
quero te desejar a leveza de uma revoada na piazza Navona<br />
mas só tenho nas mãos um machado<br />
nada é leve, nada rasga o ar fora o grito<br />
quero que você esqueça quero que me prometa o mundo<br />
<br />
algo não pode ser o símbolo de si mesmo<br />
é preciso que haja um símbolo para a partida<br />
é preciso que haja um símbolo para que eu sobreviva a essa explosão que está acontecendo agora<br />
é preciso que haja um símbolo para me salvar desse afogamento súbito, previsto por todas as profecias.<br />
é preciso ler os cacos de vidro colorido<br />
girar<br />
girar<br />
para você guardo o buquê das flores que se formam<br />
mundo caquinho de vidro<br />
<br />
respiro mais fundo do que o mergulhador<br />
as velas estão içadas<br />
levantem os braços, acenem<br />
os lenços são gaivotas<br />
eu vou em busca de um tesouro<br />
você, busque o poema<br />
<br />
é preciso que haja uma missão, é preciso um chamado, é o vento norte.<br />
a saída é o herói<br />
vamos separados,<br />
e juntos<br />
é preciso que o herói atravesse os três mundos,<br />
antes a divina comédia do que o amor no sofá<br />
eu tento te dizer mas o teclado faz girafas, rinocerontes,<br />
e séries de tv<br />
<br />
procure o poema que eu não escrevi<br />
leia cada rusga de asfalto<br />
encontre as palavras que pichei transparentes para te esperar<br />
<br />
hoje eu vejo a minha vida toda nos teus olhos.<br />
<br />moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-20863620206403243262017-10-20T06:41:00.003-07:002017-10-20T06:41:34.060-07:00Amar ou não amar o nosso corpo, eis a questão.<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Minha amiga Mel tem um blog super legal chamado Repete Roupa. Lá ela está contando sobre essa experiência de repetir uma peça de roupa por semana ao longo de um ano, além de alguns pensamentos sobre consumo minimalista e outras paradas. Recentemente ela postou um texto sobre esse lance de body-positivity, e como talvez seja uma pressão não muito positiva (é...) essa de termos de “amar nossos corpos”. A ideia dela, bem resumida (vão ler lá: http://repeteroupa.blogspot.com.br/2017/10/semana-41-por-favor-parem-de-falar-pra.html) é defender uma certa neutralidade, uma tranquilidade maior ao lidar com o corpo, sem tantos julgamentos de positivo ou negativo, mais um “esse aqui é meu corpo, cada um tem um e bora lá, ta tudo certo”. Achei super bacana o texto da Mel, e ele me inspirou a escrever um também, não porque eu concordasse ou discordasse dela, mas porque a pergunta ressoou pra mim: Será que eu amo meu corpo? Será que eu acho importante amar o meu corpo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A resposta imediata que surgiu na minha cabeça como momento de mais verdadeiro amor pelo meu corpo foi o seguinte: Eu estava na fase mais deprê da minha vida, mal mesmo. E a fase mais deprê da minha vida não foi aos 14 quando eu ouvia Nirvana no escuro no quarto a tarde toda, tá? Isso era saúde. Foi uma fase em que poucas pessoas sabiam que eu estava passando por uma crise bastante profunda de identidade (inclusive sexual), amorosa, de culpa, e muitos etcs. Bem, nessa fase eu parei de comer direito, e no meio disso também tive alguma gripe pesada ou infecção urinário ou algum cazzo assim que me fez tomar remédio. O remédio me deu uma diarréia dos diabos, e além de não comer eu passei uma semana em que, digamos, o pouco que eu comia também não me alimentava. Bem, o momento que me veio à mente foi depois dessa semana – ótima – . Eu estava pelada para entrar no banho e olhei minhas coxas. Elas estava finas. Eu nunca tive coxas finas. Eu nunca achei elas particularmente bonitas, e em alguns momentos mais cheinha achei feias mesmo. Mas nesse momento eu olhei as minhas coxas e tive a impressão de que elas estavam sumindo, de que eu estava mesmo aos poucos desaparecendo no ar. A minha carne (representada aqui pelas minhas coxas) diminuía e eu deixava de ser eu. Eu chorei muito olhando pra elas. Nesse dia eu tive uma certeza muito grande de que amava meu corpo. Eu queria ele aqui, inteiro, não queria me perder. Não era sobre achar minhas coxas grossas bonitas e perder essa beleza estética, era sobre um amor que está muito colado a existir: amar estar viva mesmo. Esse estar viva estava diretamente ligado ao meu corpo e até ao seu formato, a forma como eu o reconheço e, portanto, me reconheço. Meu maior momento de “amor ao meu corpo” tratava-se de amar ter carne e osso e querer ser eu, e poder tocar numa existência sólida que me define e me aterra. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lembrando disso, a partir do texto da Mel, comecei a refletir sobre esse amor ao próprio corpo. Será que amar o meu corpo tem que significar achar ele belo? O momento mais verdadeiro de amor ao meu corpo teve pouco a ver com beleza. Talvez outros momentos em que me achei bela estejam relacionados a amor, mas nenhum deles é tão marcante. Tenho certeza que construímos socialmente uma relação entre amor e beleza, e não pretendo dizer que ela seja necessariamente ruim. Fico lembrando de amores de amizade e de amores românticos por pessoas que não considerava especialmente “belas”, e o quanto a beleza delas crescia nos meus olhos quanto mais eu as amava. Então na minha experiência o amor puxa a beleza estética, facilita, abre a porta para ela. Mas será que o contrário é verdade? Nas minhas experiências de amor pelos outros acho que não. Não acho que eu tenha passado a amar alguém mais pela sua beleza. Aí tesão e admiração podem ser puxados por esse bonde da beleza, mas amor mesmo, acho que não. De outro lado esse texto também não vem pra criticar os projetos das migas que estão buscando na beleza estética feminina (com desenho, fotografia, etc) um gancho pra algum tipo de salto de auto-estima (como a própria Melzinha fala indiretamente no post dela). Vejo uma pá de amiga encontrando um sentido importante pra sua relação com o corpo a partir de uma parada estética. Eu estudo poesia e ensino teatro: longe, muito longe de mim querer tirar o valor da estética das nossas vidas. Beleza é um troço importante, poderoso. Mas perigoso também, né? Como tudo isso que é grande, alimenta e consome. É uma reflexão que não tem intenção de normatividade, mas de conversa (será que é possível fazer isso na internet? A gente vai tentando). E a conversa é com a Mel e com as leitoras da Mel, e com as minhas amigas e tal. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei se consigo curtir muito essa ideia da neutralidade, porque acho essa palavra quase impossível. Mas acho que a gente tem uma certa tendência a ver nossos corpos como algo separado de nós, uma posse, um objeto que temos e ao qual reagimos. Nesse episódio das coxas e da sensação de desaparecer eu senti que eu e meu corpo éramos uma coisa só. E eu amo essa coisa. Mas esse amor muitas vezes está, ou pode estar, lá no seu íntimo, bastante descolado do juízo estético. E também não é todo dia que a gente se ama. Aliás, não é a maior parte do tempo, né. E isso vai muito além do corpo. Mas se eu acho que a gente tem que se amar? Acho, bicho. Porque não entendo esse lance de se amar como uma ausência de auto-crítica, nem um lugar de arrogância. Mas concordo com a Mel quando ela questiona essa “body-positivity” que nos exige agora que “ao invés de” odiar nossos corpos e nos julgarmos feias invertamos o jogo e nos julguemos divas belíssimas, esculturas de perfeição e beleza. Esse bonito em resposta ao feio talvez deva mesmo ser repensado, porque ele pode repetir um tipo de relação similar, não é? Mas por quê amar meu corpo deve querer dizer achar ele bonito? Eu posso amar meu corpo porque ele sou eu e estou teclando esse texto agora e olhando para essa tela, e sentindo fome, e gosto de café na boca, e só experiencio a vida de dentro dele. Amar meu corpo também é amar as ideias que meu cérebro tem, e a minha imaginação que me dá prazer e que gera coisas belas. E aí a beleza voltou, pela porta dos fundos, sorrateira. Não tem hierarquia dessas belezas, eu creio, mas que a gente está acostumada a resumir beleza à superfície do espelho, ah, estamos né? E o amor não precisa ser belo não. Outra: é incrível ter uma experiência estética de beleza num lugar q não esperamos, tipo olhar as gotas escorrendo em um copo de água e pensar “eita que coisa linda” é incomum e prazeroso, mas a gente não pega o copo de água pra beber e pensa “ai, copo, você não tá tão bonito assim hoje, preciso te deixar o mais belo possível”, pensa? Tá, a gente gosta de ter copos bonitos também, mas vocês entenderam meu ponto. A exigência de beleza com o corpo é exaustiva. Talvez dê pra amar sem exigir tanto prazer estético constante.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No fundo o que eu percebi refletindo sobre o texto da Mel é que o amor pelo meu próprio corpo que mais me resgatou e me resguardou, o que mais me fez bem, foi um amor bem primário de reconhecimento de mim. Para mim estar viva é estar num corpo, ser um corpo, até porque não estou nadinha interessada nesse papo de iluminação e ascender ao Nirvana (reparem no segundo Nirvana do texto), mas na existência plena de comer e dormir e ler e falar e cortar a unha do pé, e pesquisar poesia, e trocar ideia com as amigas e pisar no chão. Existir assim é mais do que com um corpo que se faz, é sendo um corpo. Um corpo que mais do que ter eu vivo, e que eu amo sim, não necessariamente porque o admiro esteticamente, mas porque sinto que amor é força motriz de estar aqui viva. (Aliás posso dizer que eu amo cada um dos meus pelos, e continuo achando eles meio feios na verdade.)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A Regina Spektor resumiria assim: “I have a perfect body, but sometimes I forget. I have a perfect body cause my eyelashes catch my sweat, yes they do.” </div>
<div>
<br /></div>
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-51317233621537442016-10-05T06:48:00.003-07:002016-10-05T06:48:22.863-07:00O Globo da Morte de Tudo de Nuno Ramos e a Resistência dos Valores Velhos<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">Ontem
fomos ao Sesc Pompeia ver a performance de Nuno Ramos e Eduardo
Climachauska. Uma estrutura cúbica de estantes enormes ligadas a
dois Globos da Morte, daqueles de circo, na parte interna do cubo.
Nas estantes, objetos. Quatro categorias: vidro cerveja, vidro
nanquim, cerâmica e porcelana. Antes de tudo, caminhávamos em torno
e por dentro da obra. Esculturas de porcelana estilo casa de vó,
feno, filtros de barro, utensílios antigos, moldes de dentes
daqueles que a gente fazia na ortodontista. Mais um sem número de
outras coisas. Por dentro encontramos um retrato do Paulo Coelho, uma
prateleira inteira de exemplares do Memórias Póstumas de Brás
Cubas (eu dei risada e disse: nossa que bom que isso vai cair). Entre
a sensação ambígua de quarto de colecionador e acúmulo exaustivo
de 'horder', curioso e levemente sufocante. Eu que costumo curtir
observar obras em silêncio estava aliviada pela multidão
conversando, sentia vontade de falar muito: a obra não pede
contemplação. A ideia é: dois motoqueiros rodam nos globos da
morte, a estrutura sacode, as coisas se destroem. </span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-variant: normal;"><span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Ficamos
bem para trás na multidão, na hora em que os motoqueiros entraram.
O choque do circense e da galeria naquele espaço do Sesc Pompeia,
pelo qual tenho um carinho nostálgico (passei ali carnavais vestida
de Sininho enquanto ela ainda não se chamava TinkerBell), me
arrancou um sorriso. O circo e a performance no fundo estão de mãos
dadas, pensei, com um puta frio na barriga. Deram partida, as pessoas
aplaudiam e gritavam animadas para o começo de um show. Eles
começaram a girar. De fora, e ainda mais de longe, o olhar tem duas
opções: foco nas coisas da estante, mais óbvio, ou foco nos
motoqueiros lá dentro, zunindo. As estantes tremem, começam, aos
poucos a cair coisas. O jogo está aí: as coisas demoram muito mais
para cair do que a gente imagina. Caíram, do lado que nós víamos,
apenas algumas coisas maiores, e a cada uma gritos de alegria da
plateia. Se você foca, com esforço, o olhar no motoqueiro lá
dentro, porém, eles estão zunindo de ponta cabeça numa velocidade
estonteante: Globo da Morte como a gente via no circo mesmo,
aterrorizante, barulhento, intenso. A pessoa com corpo de gente roda
lá dentro numa velocidade de prender a respiração. A velocidade da
queda dos objetos é outra: algo entre o tempo humano e o tempo
histórico? Geológico? Superiterpretei? Ouvíamos, na ponta dos pés,
o barulho de algo que se quebrava, aos poucos, e a cada barulho eu
pensava que devia ter ficado do outro lado, “onde as coisas devem
estar caindo mais rápido”. Nós queremos ver, nós queremos sentir
a tal da morte desse tudo. A menina na minha frente grita “Quebra
tudo!” É isso que nós estamos sentindo, e a coisa tem um
crescente, quando mais eles rodam mais treme. Alguém no meio da
plateia grita “Fora Temer!” e eu entendo que é isso: essa é a
catarse da esquerda. Essa era pra ser a catarse da esquerda. Mas o
que acontece é muito mais brilhante do que o script. Tudo isso em
poucos minutos para. Eu não sei por que, não consigo ver. O
motoqueiro de trás parou. Dizem que ele caiu. Parece estar tudo bem.
Demora a recomeçar. O outro motoqueiro faz mais duas rodadas: a
sensação não é menos intensa. Eles estão se falando, o outro,
parado em cima da moto parece dar sugestões. Como fazer essa porra
toda cair sozinho. A real é: mesmo em dupla aposto que essa porra
toda não cai.<br /><br />Depois de mais duas tentativas ainda intensas e
espetaculares, em que vemos cair um violão-celo (eu tinha ficado com
dó quando vi o instrumento ali, na estante de cima. Na hora H torci
com todo mundo pra ver ele se espatifar: a gente comemora cada
momento), eles decidem acabar a performance. Não rolou? Rolou. Rolou
pra caralho. Rolou mais do que o previsto: rolou que o mundo é um
lugar cheio de metáforas e a catarse da esquerda está difícil,
muito difícil. A gente grita Fora Temer, mas a porcelana brega e
impositiva, aquela que ocupa um espaço que não lhe cabe, não cai.
Aliás, por aqui, ela anda vencendo no primeiro turno. O brilhante da
obra é que ela abre espaço pra se significar sozinha, ali. Os
motoqueiros descem e recebem os aplausos da plateia. É impossível
fugir das metáforas, impossível não se sentir elite intelectual
que aplaude a força de trabalho, que no fundo é artística, é
estética, é revolucionária. É artista de Globo da Morte (que não
é Rede, pelo contrário) tentando detonar essas porras todas. Mas
elas não caem. Algumas. A gente vibra pelas poucas. O genial da obra
ontem foi esse coito interrompido da esquerda paulistana. Depois de
domingo, depois de impeachment, não poderia ter sido diferente. A
gente quer brincar de sentir alívio, a gente quer brincar de
catarse, mas a obra ganha vida própria, e manda tapão na cara.
Curte aí essas poucas peças que caem, curte aí essa vontade
coletiva de cair, o barulho, o cheiro de diesel, curte aí e aplaude
agradece os caras que estão tentando. Um deles saiu mancando. Espero
que ele esteja bem. </span></span></span></span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-variant: normal;"><span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">É
claro que parte dessa sensação já está na proposta da obra: mesmo
com os dois motoqueiros rodando a toda, as coisas demoram mais a cair
do que a gente pensa, e isso é brilhante. Mas no vídeo da
performance que rolou no Rio a gente ve que a coisa vai se
intensificando, tem um gosto sim de catarse, que a gente, de São
Paulo, não teve. “É como um bichão que se sacode, que quer se
livrar dessas coisas, desses mosquitinhos nas costas”, diz o Nuno
no vídeo. Pois é, os mosquitinhos dos valores velhos resistem. Aqui
em sampa eles são mais duros ainda. Aqui em sampa em pleno 2016 está
difícil gritar Fora Temer e ver algo cair. Ontem foi quase sem
vandalismo, e a grande sacada Brechtiana de tudo isso é que catarse
às vezes não transforma. Quem sabe esse coito interrompido da
esquerda deixe uma pulga atrás da orelha, para sacudir depois.</span></span></span></span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-variant: normal;"><span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Fica
o desejo que na performance do segundo turno no Rio a casa caia pras
velhas dentaduras: “Quebra tudo!” eu grito junto dela, aqui em
silêncio.</span></span></span></span></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-variant: normal;"><span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Parabéns,
Nuno e Eduardo, porque mesmo o implanejável se planeja numa obra, de
alguma forma: essa capacidade de dar vazão àquilo que o mundo
propõe, e não vice versa. </span></span></span></span></span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-variant: normal;"><span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-style: normal;"><span style="font-weight: normal;">Sampa
do meu coração, onde eu já pulei outros carnavais, bora levar essa
pra casa, quem sabe pegar nuns bastões, aprender a rodar essa porra
direito.</span></span></span></span></span></span></div>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="line-height: 0.48cm; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: #1d2129;"><span style="font-family: helvetica, arial, sans-serif;"><span style="font-size: 10pt;">Vaso
ruim não quebra. Vamos ter que sacudir mais.</span></span></span></div>
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-52368330499573735062016-09-30T06:34:00.001-07:002016-09-30T06:34:47.516-07:00Um poema para Margaret Atwoodacho que não existe uma mesa sequer nessa cidade<br />
com uma janela ou um vão ao lado<br />
em que não se ouça o som de serras<br />
britadeiras<br />
furadeiras<br />
essa ampliação até o limite<br />
do som das máquinas de dentista<br />
o agudo que pulsa dentro da raiz do dente<br />
até o topo da espinha<br />
e de retorno ao estômago:<br />
tudo no mundo está em obras<br />
<br />
existe uma ansiedade pulsante<br />
que a gente lê e acredita e assina embaixo<br />
ser nossa<br />
minha<br />
particular<br />
intransferível<br />
íntima e inconfessável<br />
todos os horóscopos dizem a mesma coisa<br />
o pulso logo abaixo da garganta<br />
é unânime<br />
<br />
o mundo é uma cobra que se prepara para o bote<br />
a minha esofagite<br />
a sua rinite<br />
a nossa cólica<br />
não é minha<br />
<br />
pai nosso, mãe de ninguém<br />
<br />
minha loucura, não te acalma<br />
te caçam na esquina se você vacila<br />
não te acalma, te apruma<br />
veste o waterproof dos sorrisos de batom<br />
tece uma mortalha de dia<br />
escreve poemas de noite<br />
passa por baixo da porta<br />
para a cela ao lado<br />
<br />moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-35767961841992834742016-07-14T14:29:00.000-07:002016-07-14T15:58:06.358-07:00Relendo A Imaginação Feminina no Poder 30 anos depois ou: Por que ler Ana C.<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal;">
<span style="font-family: times new roman;">Relendo A Imaginação Feminina no Poder 30 anos depois ou: Por que ler Ana C.</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Em 1981 Heloisa Buarque de Holanda publica no Jornal do Brasil o artigo intitulado A Imaginação Feminina no Poder, discutindo uma aparente nova cena de mulheres poetas brasileiras, e tendo Ana Cristina Cesar como porta de entrada e centro para a discussão. Heloisa abre seu artigo pela seguinte descrição:</span><br />
<span style="font-family: times new roman;">"Trajando knickers amarelo, sandálias chinesas, cabelo punk, com diploma M. A em tradução literária from Essex, e um livro editado em Londres, acaba de retornar ao Brasil Ana Cristina Cesar. Pelo desempenho e visual não deixa margem à dúvida: trata-se do que se convencionou chamar de uma mulher moderna, independente e bem-sucedida."</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">A introdução da imagem, descrição de uma persona da mulher moderna, independente, bem sucedida introduz a aparente contradição discutida pela autora no texto: A figura daquilo que seria uma convenção de “mulher moderna bem sucedida” é contraposta ao título ("que desconcerta essa imagem") do livro publicado por Ana: Luvas de Pelica, e pela descrição da capa: "que traz um manequim em primeiro plano, oferecendo pó de arroz e perfumes numa vitrina de moda em semitons rosa shocking. Um diário de alcova? Rabiscos e sonhos de uma moça bem-comportada?"</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Essa discussão dá o tom do artigo de Heloisa Buarque de Holanda: A imagem da autora mulher bem sucedida e independente não corresponde aos estereótipos da época na sua escrita: O momento histórico pedia da “mulher independente” uma poesia da recusa às imagens de feminilidade tradicionais. Das escritoras da década anterior ao universo institucional em transformação, e aos programas de televisão voltados para a voz feminina, Heloisa faz um breve apanhado do cenário contemporâneo a seu texto no que diz respeito à voz feminina no Brasil. Comenta a linguagem de uma poesia feminina da década de setenta que denomina como "fala feminina liberada", que se permite tomar espaços do discurso resguardados ao homem, e aponta com precisão a premiação da poeta Gilka Machado (a quem inclusive elogia), como reconhecimento tardio, mas que representa o início de um ganho de espaço das reivindicações femininas dos anos setenta.</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Por outro lado, diante de tal cenário Heloisa vê surgir uma nova geração de mulheres na poesia, que parecem trazer de volta à tona os temas do cotidiano íntimo e especificamente doméstico. Depois de uma comparação de títulos entre as gerações, Heloisa se atém ao pequeno livro de Ana C: Luvas de Pelica seria um diário de viagem, e aqui as observações da autora aprofundam a aparente contradição. Ao invés de relatar idas, descobertas, etc, o diário de viagem de Ana C surpreende o leitor que busca as expectativas tradicionais do gênero:</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">"O que parece interessar aqui é precisamente o não ir, o ficar, o voltar e o exercício obsessivo de escrever inúmeras cartas para o ponto de partida, a empenhadíssima construção de um pequeno espaço silêncios, em vez da conquista e da exploração do mundo." comenta Heloisa.</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Para a autora, a proposta do livro é justamente uma retomada do tom íntimo e das imagens de universo doméstico, sensibilidade e confinamento. O livro estaria construído em torno dos "estigmas femininos", que seriam, segundo ela, "tabus para o feminismo". Fazendo uma crítica bastante direta e dura, porém coerente em sua argumentação, Heloisa Buarque de Holanda parte de sua análise da obra de Ana C para falar mais diretamente ao discurso feminista:</span><br />
<span style="font-family: times new roman;">"Sem que se possa duvidar dos objetivos de sua luta, o discurso feminista supõe algumas simplificações e uma certa incapacidade, enquanto linguagem, para enfrentar seus fantasmas mais delicados. Na busca da igualdade, o discurso que informa as lutas feministas de certa maneira legitima os mitos que sustentam o modo de produção capitalista."</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Para a autora, Ana Cristina Cesar, em conjunto com uma série de outras poetas a quem vai acrescentando à discussão (Mara Lucia Alvin, Lucia Villares, e Maria Rita Kehl), parece apresentar uma saída poética para essa linguagem feminista à qual ela deseja criticar. Algo de novo na linguagem feminina se apresenta para a autora a partir desse lugar do discurso feminino que retoma os temas característicos do espaço tradicionalmente feminino. O livro em forma de diário de viagem que trabalha muito mais as imagens de confinamento, segredo, cartas enviadas à casa, construiria poeticamente justamente esse espaço, uma retomada da linguagem “feminina” rejeitada anteriormente.</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">É interessante porém nos ater ao momento em que Heloisa menciona uma conversa com Ana Cristina, na qual a poeta fala do livro em questão a partir de uma imagem bastante interessante:</span><br />
<span style="font-family: times new roman;">"Ela, ao se referir ao livro, conta, como numa parábola, a história da passividade do óvulo: 'Sem dar a menor atenção à verdade fisiológica, diz-se que o óvulo, imóvel, fica à espera do exercício tumultuoso e valente de espermatozoides para ser fecundado. Ninguém fala da longa e perigosa viagem solitária percorrida pelo óvulo através de túneis obscuros'. E conclui: 'Esse livro que aborda as viagens pelo lado do confinamento é uma contribuição à biologia do segredo e à maldade desse tom'.</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">A relação que a poeta faz entre a pressuposta inatividade/passividade do óvulo e sua proposta no livro de "viagens pelo lado do confinamento" é bastante interessante para pensar, como o faz Heloisa, essa proposta da retomada do lugar do confinamento feminino, das imagens do ambiente doméstico na linguagem da poesia feminina. Parece importante lembrar, no entanto, que a ideia do papel ilusoriamente passivo do óvulo, e a crítica ao sustento machista desse pressuposto se remete a ninguém menos que Simone de Beauvoir, na base da teoria feminista. Talvez, portanto, o que ocorra nessas propostas poéticas que surgem ali, das mulheres do início da década de 80, sensivelmente observadas por Heloisa Buarque de Holanda, seja antes uma reorganização dessa linguagem crítica da mulher, feminista mesmo, e uma forma de trazer à tona a discussão dessas imagens de passividade e reclusão, suas ambivalências e contradições inerentes, do que uma recusa direta da tal linguagem feminista criticada por Buarque de Holanda. A autora detecta nessa nova geração de mulheres na poesia, aquilo que ela chama de "sintomas de um discurso pós-feminista, um novo espaço para a reflexão sobre o poder da imaginação feminina."</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Para aquelas que lêm o artigo de Heloisa aqui dessa distância temporal de já mais de trinta anos, talvez o termo pós-feminista cause estranhamento (ou para algumas, como esta que vos fala, bastante incômodo) e não é à toa. Num momento em que o feminismo se tornou, novamente, assunto pop, e se discute longamente nos blogs, redes sociais, e tantos outros ambientes reais e virtuais a importância de um movimento que parece aos poucos ganhar de fato novas caras, em constante transformação, mais inclusivo aliás, soa bastante estranho falar em "pós feminismo". O que me parece, no entanto, é que as palavras de Heloisa Buarque de Holanda refletem um momento bastante específico da nossa história cultural, e o que se havia produzido em termos de literatura informada e inspirada pelo feminismo nos anos 70 por grande parte das poetas no Brasil se reduzia, de certa forma, a esse feminismo no qual Ana C e suas companheiras de geração já não cabem. O significado do termo 'feminismo' muda (atualmente talvez mais plural do que nunca) imensamente nesses últimos trinta anos, e talvez o feminismo ao qual Heloisa se referisse em 81 seja bastante específico dessa estética do choque e do desrecalque. Nesse contexto poetas como Ana C vêm inaugurar um novo momento em que, cansadas dos brados, buscam novos significados (bastante críticos, aliás) para o universo da suposta "feminilidade", pelo lado de dentro.</span><br />
<span style="font-family: times new roman;"><br /></span>
<span style="font-family: times new roman;">Vale observar, por outro lado, que seria ilusório acreditar que tenha sido superada a necessidade dos brados e afirmações severas de direito a um espaço para além do doméstico na nossa cultura, e que mesmo nos idos de 2016 ainda se precisa publicamente lutar contra a imagem imposta por veículos de comunicação da mulher "bela, recatada e do lar". Mas notemos que, para isso, hoje a militância feminista, talvez mais massificada, parece querer se constituir inclusiva, ditando menos as regras do "desrecalque". Mais a mulher do "lugar de mulher é onde ela quiser", do que a negação completa do lar. Que a mulher possa ser "do lar" ou "do bar", em momentos diferentes, pediam algumas das hashtags usadas na resposta à revista Veja e sua descrição redutora porém exaltante de Marcela Temer. Hoje parece haver maior investimento no protagonismo e no poder de escolha, com todos os problemas de individualismo que isso poderá nos trazer, e também as vantagens. Tudo são fases. Ainda assim talvez esse "pós-feminismo" poético que Heloisa anunciava em 81 (e eu preferia hoje chamar de feminismo mesmo, apenas num momento específico, em movimento como todo conceito, na disputa eterna de significados), tenha ajudado a construir as bases para a cultura feminista que se configura hoje, mais popularizada, talvez. Uma cultura feminista menos resumida à estética do choque (que não precise abrir mão totalmente dela, mas que encontre nos âmbitos da sensibilidade também suas manifestações), uma cultura do feminismo mais plural nas suas manifestações artísticas, imagéticas, poéticas. A própria pluralidade de “feminismos” da qual se fala hoje na militância e no espaço mais massificado das redes sociais talvez seja fruto também dessa mudança que se evidencia pelas poetas da geração de Ana Cristina: ser mulher e procurar compreender-se enquanto mulher se torna mais plural, as imagens se misturam entre a delicadeza e o soco, há menos certo e errado. O que não quer dizer que haja menos busca, menos perguntas, pelo contrário. É possível que essas poetas das quais nos falava Heloisa em 81, Ana C como carro chefe, tenham contribuído imensamente na construção, justamente, das imagens da cultura pop atual, mais plurais da mulher. </span><br />
<div style="font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal;">
<br /></div>
</div>
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-37677833984567436182016-06-09T14:27:00.000-07:002016-06-09T14:27:06.738-07:00Um poema em Ueu queria...<br />
te escrever um poema.<br />
<br />
era importante<br />
te escrever um poema.<br />
como se quando eu, finalmente,<br />
te escrevesse um poema<br />
fosse ser possível<br />
ver estrelas<br />
o primeiro planeta<br />
que não se vê daqui,<br />
focar o espaço embaçado sem os óculos,<br />
vestir uma lã que coubesse,<br />
estancar um corte, descansar um corpo.<br />
<br />
como se fosse, a cada palavra, ser desdobrado<br />
um barco de papel<br />
<br />
quando o poema chegasse.<br />
<br />
o poema está engasgado<br />
o poema arranha<br />
o poema está engolido feito um choro<br />
feito um choro bom<br />
(alguém engole choro bom?)<br />
<br />
o poema quer existir como uma pedra, uma concha,<br />
mas ele pisca<br />
refrata,<br />
uma imagem que deseja desesperadamente ser refletida<br />
numa onda.<br />
ele esboça<br />
dança<br />
ensaia,<br />
mas a onda quebra.<br />
o poema se vsilumbra<br />
deslumbra,<br />
e desiste.<br />
<br />
os desenhos das montanhas que se espelham na areia da praia...<br />
<br />
o poema não dá tempo<br />
<br />
o poema queria ser uma praia<br />
pra você deitar um lábio sorridente uma sobrancelha tranquila<br />
o poema queria ser e não sabe<br />
o poema queria saber e não é<br />
<br />
o poema não dá cabo<br />
<br />
uma pipa sem rabo descaso de menina que fez só<br />
um losango de papel de seda<br />
sedo<br />
a sede é o poema que queria ser de<br />
quem antes de mim fez versos<br />
de quem depois de mim fará<br />
mas é meu<br />
e em mim não sabe pousar<br />
<br />
o poema não é meu<br />
o poema é seu<br />
mas ele não sai<br />
ensaio<br />
um desmaio oblícuo<br />
um grito curto<br />
um mergulho fundo<br />
recaio<br />
diante da soleira<br />
<br />
o poema é um homem de terno com um buquê de flores<br />
que não toca uma campainha<br />
que não berra debaixo da sacada<br />
nem canta<br />
<br />
o poema está quieto<br />
bicho tímido<br />
acabrunhado e mudo<br />
pintando os próprios lábios<br />
pra ver se aparece<br />
<br />
meu lápis de olho é uma caneta bic<br />
<br />
o poema me olha de lado<br />
ri da minha cara<br />
imita a tua risada<br />
pra me fazer sorrir<br />
<br />
há tanto tempo eu quero<br />
te escrever um poema.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-58554726292692475862016-05-05T13:38:00.002-07:002016-05-05T16:37:09.669-07:00quintaEssas cores de inverno tardio estão ridículas<br />
vivas e ardidas<br />
bonitas mesmo.<br />
E os óculos que são pra longe e perto<br />
segundo ele<br />
não vêm longe um caralho.<br />
<br />
prefiro a brandura sem aros<br />
<br />
Está gelado como se quis<br />
Aqui<br />
longe de você e da luta.<br />
passada a pauta, o papel contact.<br />
Está gelado depois de dizer 'não quero mais,<br />
querida, não quero mais os teus conselhos grossos'<br />
essa massa de piche, esse púlpito.<br />
<br />
Gelada, mas azul<br />
um azul cru<br />
sobre o vermelho-terra do prédio da frente<br />
(que é na verdade prédio de trás)<br />
uma nesga de árvore no meio roncando de verde<br />
o som do busão com as núvens por cima.<br />
<br />
Puta que me pariu quanta beleza<br />
nesses pedaços<br />
caquinhos<br />
de fim de tarde<br />
nesse gelo de logo antes de vestir a meia<br />
<br />
- Dormir com dois cobertores<br />
Ter plantas na sacada<br />
Conseguir pensar em qualquer outra coisa . -<br />
<br />
A lambida laranja que desce sobre a Lapa<br />
hoje não misturou nenhum<br />
dos tons da minha janela<br />
<br />
O som das buzinas é claro<br />
Tudo é mensurável<br />
audível<br />
tudo dá pra ver.<br />
<br />
O sol se põe, mas não escurece.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-21350628899722199892016-03-28T21:41:00.001-07:002016-03-28T21:41:45.309-07:00mortetem sempre alguém que está morrendo. no mundo, tem sempre alguém morrendo. morre muita gente no mundo, muita gente diria. Nasce também muita gente no mundo. Mas às vezes tem a notícia de alguém que está morrendo. Alguém que estava vivo, alguém que apareceu na nossa história está morrendo. Alguém que a gente lembra da voz, alguém que a gente conhece o sotaque, o jeito do sorriso, a posição dos dentes, o jeito que gosta das coisas, a arte que fez. Alguém que estava vivo está morrendo. A voz ecoa ainda dentro da gente, e a pessoa morre fora da gente. Perdemos, nós perdemos, como uma partida do jogo: time, perdemos essa. A gente para, respira, aperta e esguicha sal, porque perdemos uma pessoa. Não precisa medir a proximidade, sim, a dor é maior quanto mais perto do ponto na reta: mas é morte, apaga uma coisa que estava acesa, silencia, seca um espaço, some uma cor leve do céu. às vezes choramos por pessoas que não conhecíamos: anthony marignetti, david bowie, lou reed. mas a arte da pessoa é a pessoa misturada com outras coisas, e a gente chora porque o mundo não tem mais uma coisa que tinha antes. antes no mundo existia uma pessoa chamada lou reed que fez um disco que me faz chorar para os dois amigos dele que morreram de câncer, que costura o luto dos outros, que faz poema com a guitarra e canta a cidade de nova york como precisava alguém cantar. depois daquele dia, não tinha mais isso no mundo. perdemos, dá aqui tua mão, moça do meu lado na fila do mercado, me da a mão, dono da papelaria, me dá a mão que não tem mais no mundo uma coisa que tinha antes, e que era tão bonita, e que eu não conhecendo eu conheço uma pegada, e eu vejo a cor que desaparece entre as outras. eu imagino, e imaginando a gente vê.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
lou reed morreu dia 27 de outubro de 2013. eu fui para ny na semana seguinte, deitei numa cama num quarto alugado de um apartamento e escutei o New York olhando pro teto, chorando de vez em quando, colorindo nos espaços em branco entre as letras, imaginando o espaço possível que ele me deu de presente, e entendendo que a voz gravada entrando pelos meus ouvidos não existia mais. agradeci a alguns deuses pelo privilégio de tê-lo visto tocar ao vivo uma vez um som tão lindo e distante da linguagem em que conversávamos, eu e o querido amigo sentado ao meu lado. me lembro de ter escrito algo de lapis no escuro no panfleto do show no meio de uma música, uma frase que devia um dia virar um poema. não sei mais a frase, não escrevi o poema. Ontem procurava um cd para ouvir na estrada e uma coincidência colocou o Magic and Loss na minha mão. Outro disco do Lou Reed, bem posterior ao New York. O Magic and Loss foi feito para dois amigos dele que morreram de câncer, naquele formato poesia-punk dele em que frases dissonantemente diretas e anti-sentimentais atravessam mares de sons doloridos e fundos de um azul ou preto, cause "the coal black sea waits forever", ou cortes de metáfora estilhaçam um aparentemente inocente rockzinho animado. Pensei naquela guitarra que pra mim sempre pareceu poesia em língua estrangeira. Poesia numa língua antiga que não falo, mas que, muitos anos atrás, originou a minha (talvez no ouvido dos meus pais, recém apaixonados de jaquetas de couro e cabelos raspados aos vintepoucos anos). Pensei naqueles punk poems regados a melodia do magic and loss e dos amigos dele que teriam escutado de novo essas canções depois da morte dele, ressignificando e mudando personagens de lugar: agora somos nós that didn't get a chance to say goodbye. Pensei nos lutos. Pensei na Mônica também.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Hoje de manhã minha mãe me contou que a Mônica estava morrendo, já estava no hospital há alguns dias, e não havia mais muito o que fazer. As histórias de câncer se repetem. Lembrei da Jane, que visitamos todos os últimos dias. Hoje a Mônica morreu em um hospital em Porto Alegre. And no I didn't get a chance to say goodbye. A história não é minha, quase tanto quanto não é minha a morte do Lou Reed. Mas o luto dele pelos amigos no magic and loss, o luto nosso por ele e por sua guitarra escritora de poemas faz trança no ar com a Mônica e sua risada, tudo o que ela construiu, seus filmes, seus amigos, seu jeito de dizer o nome das pessoas. Gostava muito do seu sotaque. Gostava de muitas coisas. A morte nos outros é a morte na gente também, a lembrança daquilo que tece o chão onde pisamos: "there's a bit of magic in everything. and then some loss to even things out". Pensamos que temos que ir no médico, que temos que dizer que nos amamos, que temos que ser mais verdadeiros, pensamos em desespero que queremos viver pra sempre. Não, eu não acho que sejamos egoístas: eu acho que a morte é uma rede, e que os pontos de encontro os nós são feitos são nós de pensar nos outros e de pensar em nós. Quando anthony morreu eu chorei e tive muita certeza de que era preciso ser verdadeira com o que eu sentia: não posso morrer sem viver isso. eu chorei pela perda da pessoa que não conheço, com quem troquei três mensagens, mas que escreveu coisas belas e disse coisas lindas a uma pessoa que escreveu outras coisas belas que me fazem ser quem eu sou. a rede. A rede não é projeção da gente no mundo: a rede é a gente no mundo. Eu amo minha invenção dessas pessoas que não é menos real que a minha lembrança da Mônica escalando a pedra nãolembroonome e a gente acenando lá embaixo, e a Mônica pra quem eu dei chiclete sabor hortelã porque tinha a piada no filme, e ela me olhava e sorria e eu achava que ela estava feliz porque tinha uma criança no meio daquela bagunça toda de pós-produção. Amor é amor, e se mistura com imaginação, com dor, com o que a gente quer e não quer para nós. Tive muito medo de morrer hoje. Tive muito medo de perder as pessoas que amo hoje. Chorei o choro da amiga e do marido que estão agora se preparando para ir para o enterro amanhã e que vão aprender a viver sem um pedaço deles para sempre. Nós perdemos, time, hoje nós perdemos mais uma pessoa. Mais um pedaço de sol, de cor. </div>
<div>
<br /></div>
<div>
Pensei também ontem que, por alguma sorte minha, a maioria das pessoas que perdi estão vivas. A maioria das pessoas que perdi não morreram, perdi pra outras coisas, mas não pra morte. Perdi algumas pessoas para a morte sim: a Doni quando criança, quando comecei a tentar entender o que era alguém deixar de existir. O Florestan na adolescência, dia 20 de Outubro de 2003, perto do dia do lou reed, 10 anos antes. O Florestan que está em todos os pores do sol que eu olhar pro resto da minha vida, e que tinha sardas e cachos, e sim, me lembro da voz dele. E ontem também tocou Babe Im Gonna Leave You na estrada. A Jane cantando "se eu quiser falar com deus" numa clareira de mundo que se formou em torno para ouvir a voz mais profunda numa noite de grilos, e deixou pra nós a menina que me sabe mais que todos os seres: the angel on my bike. Perdi meu vô, meu "nonno", que fazia piadas e me leu a odisséia na infância, dolorido e antigo, um conto inacabado na gaveta desde então e um casulo da lagarta que encontramos na noite anterior na hortelã. Tudo tece metáforas, e é nelas que a gente se segura. Todas as pessoas viram histórias: não a história de vida delas só, mas a biblioteca imensa de histórias que se entrecruzam nas memórias dos outros, a gente dá cores e tons, e as pessoas ficam escritas no mundo, em milhões de versões. Ainda assim, a maioria das pessoas que eu perdi está viva. Isso, pensei, isso deveria bastar. Não, eu não vou, mesmo que me tente de leve no auge de alguns choros de solavanco, pegar o telefone e tentar reatar cortes que não têm linha, não por isso. Mas perder alguém para a vida não é como perder alguém para a morte. As pessoas que eu perdi para a vida, para as mudanças de cada um, para os momentos, para as distâncias, para os erros mútuos ou acertos, para os desencontros puros, essas pessoas o mundo ainda tem. Outras pessoas têm por perto as pessoas que eu perdi, e isso, insisto, isso deverá um dia me bastar. Me alegra agora saber que vocês existem. Que em algum lugar em algum canto vocês cantam, riem, escrevem, dançam, pensam, inventam e fazem vento e garoa macia para a vida de outras pessoas. Vocês existem, que alegria. As pessoas que eu perdi pra vida o mundo não perdeu. Isso deve bastar.</div>
<div>
<br /></div>
<div>
Quando aos outros, quanto à Mônica, à Jane, ao Nonno, ao Anthony, ao Lou Reed, o Bowie, o Florestan, a Doni. Quando a vocês: o mundo se encarrega de transformá-los em arte, tecida e trançada nas memórias e desenhos daqui. O mundo se encarrega, e eu faço meus votos: rego as flores e os pores do sol todos os dias pela manhã, e agradeço ao me deitar. Fiquem em palavras e amor. Vão em paz. </div>
moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-79234028249501755422016-01-06T14:15:00.001-08:002016-01-06T14:15:45.460-08:00Unpaintedthere is a canvas<br />
on the corner of my bedroom<br />
on the corner of my bedroom it sits and there it gathers dust<br />
it is not a canvas, but a very old wooden framed reproduction of some painting.<br />
probably 17th century art<br />
it belonged, along with another dozen or so, to my grandfather<br />
and I saved them when he died,<br />
from the typhoon of my uncle's haste and anger,<br />
from the earthquake of my grandmother's bitter pain<br />
not because I wanted the figure, which I can't remember:<br />
I saved it along with maybe another ten of them, because I wanted something<br />
because I wanted garbage that had once been art<br />
because I needed something that once had been beautiful to someone:<br />
because I had been the family scavenger, roaming about rooms and gardens, behind bridges and under dinner tables, saving up broken pieces of. Of.<br />
<br />
I still have the shattered green glass that belonged to my great grandmother in a box somewhere, which I broke stupidly and cried, because I left it on the floor by the sofa one night while watching TV. I stood up and kicked it, and it broke. But I don't keep only my old guilty shreds, the things that were still memories to myself, the things I broke personaly. It is my self-asigned job gathering bits of rest, rests of string, strings of wool left behind from the severed bonds. marriage, birth, companionships. I was the gatherer, and in my tiny shop I made my tiny baby frankensteins. my little affection monsters of clay, the small cardboard models of houses made to be build from wood and concrete. wax dolls of old smiles, from faces that never truly meant them.<br />
<br />
I gathered the dozen or so old and cheap wooden frames with the already whitening images of famous paintings my grandfather held, one day, I imagine, dear. Not for him, but for us, whoever that may be. My first plan was an artistic project: I would cut up shreds from words written by all of them: my mother's thesis, my grandmother's papers, my uncle's books, and finaly my grandfather's autobiography, wich, scared, I never read. I would cut up the phrases to make new. I would glue them to the old reproductions of old paintings and with the old words I would glue together a frankenstein of my family. I tought it was an interesting contemporary piece about -the artist's- personal life and a deep critique on each member of my family's individual truth in words. It was brilliant. It was not. It was a lame excuse for the true work of the gatherer of ages: the collage artist of severed ties. It was to be, in truth, my final frankenstein, the last shred of unspoken hope for fiction and dream to glue together worlds. I never made it. As I often do, I left it, idealized and appreciated for what it was: the brilliant final project. The old portraits, or canvases, or were they art reproductions, sat there, waiting, in my closet, as patheticaly metaphorical as it sounds. Instead, one day, I chose one to make into a gift.<br />
<br />
I had loved a woman ever since I met her. This story is not about this love. It is, as much as it is about all love and all loss and all pain and hatred and all the impossibility of holding, and my awful gift of breaking and broken things. I have come to open doors as much as I have come to break things. But some things need breaking, and it takes strenghth (and maybe it also takes oblivion) to do the work of the storms. In any case, although this -is- as much as it can be, the story of this love, I don't wish to tell it, not this part, not deeply. Let it be said only that I was a coward and that I was a liar, for I loved her more than I could hold, understand or believe, and that my love tore itself apart entirely, for lack of water and sun, for lack of air and space, and for charging, uncontrollably, incapable and desperate like a caged animal, in the right direction once it found it. Sometimes finding the right direction after a long time of darkness only means running desperately into blindness and abyss.<br />
<br />
I had decided to make her a gift. I would paint over one of those old pictures from the canvases left by my grandfather, and over that I would glue slivers of pictures I had taken of her. Not the entire pictures, but slivers, between which I would write poetry about permanent things. No, I did not, at the time, catch any of the irony, neither did I understand that only could I ever, for whom I was, glue anything but slivers of the things I loved back together into those old portraits. I chose the pictures. I saved them on my computer's desktop. I've always had thousands of undone things saved on my desktop. I have more ideas than I have will, and I had the knack for the scavenger collage, which must never be entirely done. Then I looked through the things under my bed to find paint. I never painted, not really, so I had many half used bottles of school paint, washable paint, but also, ever since I was a little girl, plastic paint I used to make t-shirts for my dad on his birthday. These are permanent. I chose different tones of blue, and I splattered the old immage with lines of dark and light blue, and I smiled as I covered my old family cracks with an immense ocean I would only later understand the depths of. It was meant to say words of permanence, of things that last, of never-ending, never-leaving stories: it was meant to be a promise. I have made her many promises. I failed to keep them when I understood my guils would never grow, and I would never be alive under water forever.<br />
<br />
They say the immense creature only comes to the surface once every six billion years. But the creature has no guils. The creature breathes. And once, every six billion years, the creature does come to the surface, and you can hear, from every corner of the world, the unmistakeable breath of the immense blue whale.<br />
<br />
there she blows.<br />
<br />
The birthday came, the ocean was beautifully scattered on the canvas, but the pictures were not printed, and the present was once again, undone. I am sure she resented me for the presents I promised and never gave, as much as I resented her for the presents she promised and never gave, the letters never read, or written. I know now we were unable to finish off these small tokens of our lies: we could lie every day, but we had to leave certain affection objects untouched, for they were not as big as our hearts. I can only guess if this is true on her side, but I, for once, am certain my heart was too gigantic to bare the small knots we tried to tie. It never got done. It sat, the ocean painting, on the corner of my bedroom, so I would not forget. The pictures all sat on my desktop, her beautiful reflections, the reproduction of a snowy peral skin, frekles I adored and the look I came to fear and almost even hate, for it tricked me between love and diception, and I never knew of the mirage or the beach.<br />
<br />
This part of the story I will not tell, for this is not a confession letter, nor is it a letter of forgiveness to myself, though maybe both should come in time, but a retelling of the tale of the blue portrait, made from the pieces under the dinner table. This is the part where the creature's breath splashes the continents, where the seamen run and scream in desperation, where entire ships are sunk and lay at the bottom of the sea by one simple swift movement of the tail. It is also the part where the harpoons struck, and where, tied to the bleeding creature, wailing in the deepest cry afer the once-in-a-lifetime breath, the captain sank. This is the part I will not retell for I am not in place to recount the lives I have drowned nor the torments I have created, and it is not my intention to tell you the creature means no harm. I am neither here to repent, nor to retell of blood and assassination. Stories, as our lives, are not trials, which I will continue to refuse for they have the despicable habit of starting from the worng end, and ending at the bottom of a helpless pit, out of which people who are dangerously sure of themselves throw out the fruit they see rotten, and ignore the colors of the sky.<br />
<br />
What's left is the day in which I took the old ocean-painted square thing out from the corner of my room, and stared at it's wrinkled childlike painting, covered in dust, and remembered every gift I never finished, and the words I never said in silence, or out-loud. It was over, and there was nothing to do. It was over and the promise of permanent matter has to go, because it was the last of the lies, holding together pieces of a love that would not dare come to light. Love, as people, does not want to die. And if you breathe, you are alive, and if you are alive, you will die. The fear was stronger and deeper than all the other promises. The ocean, though, is not deep enough for such fear, and one must, eventually, come up. I can see destruction and regret for the blood and the splashes as I look at it, but mostly the regret comes from somewhere else. The regret splashed onto the canvas is deeper than the ruins of the ships I wrecked in a few days or months. Regret is a thing of years, the words unsaid, the space unmade, the questions not asked, the things it took me so long to open. The gift I never finished, because it wasn't made for finishing. Because it was made from the spare-parts, because it was made to mend the eternal wounds. The wounds will be wounds. Dust covers this bizarre object that was to be a gift to the woman who will never forgive me. But the one thing that strikes me now is not the need to be forgiven. It is the feeling that she will never forgive me for the wrong things, the fact that I need forgiving not for the mess, the splashes, the truth in the recent blood. I need forgiving indeed, but for the six billion years where I had us believe the sea was a placid surface from which never would any thing, any one, any matter erupt. I need forgiving for the years in which I never asked her to dance with me, to open her eyes, to let me in, and out.<br />
<br />
As I have said, I have come to break as much as to open. Openers are breakers, in the end. Some doors are locked, and sometimes you need to break in, or out. And now I stared at this would be present of an ocean that needed, as many things do, to be destroyed. I pondered. Burning something in a city like ours is a mess, simply something foolish people don't do, so I do not burn it, for I won't find the intimacy and the open space burning it would require. There are no tears as I take it to the bathroom and undress, turning on the shower, and setting it to cold, cold water. Somehow it needs cleaning, as much as it needs destroying. So, naked, I let the water run over it, half expecting the school paint to wash away and reveal something special underneath, something I have forgotten. But most of the paint is plastic, and I have to rip it apart, slowly, in pieces, like the skin of a sea animal. Underneath it, it is white. The paint has erased the old immage, and I won't ever know what it was. It doesn't matter, I wish not to restart the business of the scavenger underneath the dinner table, this will not be another frankenstein. I notice, thouhg, the other side of it seemed to have another old reproduction. It used to be a Van Gogh, hidden on the other side, glued to the wood. I'm surprised, as I expected old painters I don't like, and I smile vaguely remembering my grandfather loved things, once or twice, that I too find beauty in. But there is little or no temptation to keep this, though it hurts like washing an open wound. The old paper and paint make for pieces of skin I gather in a small ball, soaked in water. It could make something new, I think, and I look at it with love. But it won't, and it shouldn't. I gather the pieces, and throw them in a bag, left with the cheap wooden frame underneath. Should I break it in little pieces? Burn it after all? I stare at how blank and firm it looks, and the scavenger in me makes a move, suggesting how much this too could be transformed, reused, remade, glued into new forms of life. But I'm retired now, I have found my way back into the world which I came from, where things are made up and written down, not glued back and frankensteined. I do not want my old job back. I consider smashing it to pieces so no one else can remake it, but there is no anger. I understand that when and if it falls in new hands, the canvas will not be the slivers of severed ties, but something new. Truly new. I understand that by saying goodbye to this perfectly good piece of wood I am allowing someone who would actually be far removed enough to transform this deeply, to take it from me, to live. To love over the old wood, or to warm themselves on it, burning the last bit of love I could not live. I remember the young girls hand in hand walking from the icecream place, honest with each other as with themselves, like we were never able to be, and I give them my blessings. And then I take it all outside, and I say goodblye.<br />
<br />
and I dive once more, in the truest and most transparent waters I would have ever hoped for.<br />
<br />moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-48481268468027228872015-07-17T12:02:00.002-07:002015-07-17T12:02:38.319-07:00descobertosos peitos pequenos<br />
fazem um peito aberto:<br />
planície rasa e exposta<br />
bem no meio<br />
onde você crava,<br />
vermelha,<br />
a chave que eu te deimoonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-70494199652889051192015-07-08T23:42:00.000-07:002015-07-08T23:42:14.714-07:00Porta de GizHoje a vida acordou te mandando<br />
ser corajosa<br />
com as coisas pequenas<br />
com o chá e o fogo,<br />
com os discos velhos<br />
riscados<br />
e os intactos.<br />
Te mandou ter coragem no trânsito,<br />
no transtorno do chuveiro frio,<br />
para entrar no elevador,<br />
ter coragem com a literatura e a televisão.<br />
A coragem aterrorizada<br />
dos heróis de ficção científica<br />
que sabem que vivem apenas<br />
um episódio de quarenta minutos.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-82518195848625590172015-06-17T21:42:00.000-07:002015-06-17T21:42:50.605-07:00Páginanão é uma ameaça, minha partida.<br />
não é blefe, tampouco.<br />
minha partida é um risco contínuo<br />
dessa linha que corta<br />
da ponta de cá<br />
até a beira da página tímida.<br />
<br />
ou a folha preenche de cores, abre-se,<br />
origami<br />
ou o risco da caneta transcreve<br />
e rasga o ar.<br />
<br />
é a falta de cabimento:<br />
é o caber sem pertencer<br />
que deixo para trás<br />
feito caroço.<br />
<br />
quero a página transbordante de linhas e curvas,<br />
cheiro de tinta fresca.<br />
O ponto sem nó, as doze vírgulas,<br />
e aquele agradecimento periférico,<br />
eles, meu amor,<br />
eu nego.<br />
não me ofereça alternativas, um p.s,<br />
notas de rodapé.<br />
Ou bem a escolha que desencolhe,<br />
ou bem o horizonte.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-49627936798444625032015-06-03T22:45:00.000-07:002015-06-03T22:45:09.290-07:00Corvos e gaivotas: música dissonante.<br />
A Normandia é um cemitério à beira-mar<br />
<br />
Ovelhas e gaivotas: varas de pescar e lã<br />
Não cabe no cartão postal<br />
Como faz pra caber? A mão traça<br />
retas, separa<br />
<br />
repara bem:A Normandia é imensa.<br />
<br />
O Sertão vai virar mar.<br />
e o marmoonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-37489209863952491222015-04-26T01:20:00.004-07:002015-04-26T01:20:46.402-07:00spade a spade<br />
you may not want the flower,<br />
but I'm all out of the fruit.<br />
<br />
can you smell the rose? Would you take my hand?<br />
Can you could you ever understand?<br />
<br />
we're all out of the fruit. I'm not going back.<br />
<br />
I love you. I love you all. But<br />
the only water in the forest<br />
is the river<br />
<br />
if you want the old pond<br />
if you can't handle waterfalls<br />
i love you all<br />
but I'll see you on the other sidemoonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-64948532988976020992015-04-22T19:47:00.000-07:002015-04-22T19:47:18.344-07:00I know because you have two different kinds of curls<br />
<br />
my finger knows your fair thin skin<br />
the right temple,<br />
where your eyes go to hide<br />
<br />
my finger knows your thick brown skin, the sweat on your nose<br />
your left temple<br />
where your eyes go to lie<br />
<br />
your pointy fingers, your silent nails<br />
the sweetness of your honest pulse<br />
<br />
your rounded fingers, your small home hands<br />
the drumbeat of your open heart<br />
<br />
I know because of your hair<br />
I know because of your curls<br />
<br />
because of your narrow curls that smile, when I touch my fingers on them<br />
scheming unseeming from my firm hands<br />
<br />
because of your wide long curls that glide down over your shoulder as I brush them away and they lay gently over my bare hands<br />
<br />
I know I love you because of your curls<br />
That's how<br />
I know I love you both<br />
<br />moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-69831176863211746052015-04-13T22:45:00.004-07:002015-04-13T22:45:50.406-07:00autobiographyI had hair<br />
the longest, straightest, finest hair.<br />
they said I was scared of change, he said I was a nymph, they said I was a christian<br />
they said I should cut it they said I should never cut it<br />
they said I was afraid of change.<br />
<br />
I was born under the sun. The sun held my feet as the doctor pulled me up (like a cheap ringo tune, you know it don't come easy). I was no natural, I was late. Born under the sun, ten days overdue, my flaming father looked through my soles said go be my daughter, go untame lions, exchange words and part the oceans, so I did. So by his sign I resigned to yellow the fields. So I yellowed and I blued the fields. A child with the blues of ages, father sun father son. His was my kingdom and I learned to burn. and light. and travel light. Except for the one luggage I owe my creator, yours truly the hair of gold.<br />
<br />
At fourteen they cut right through me (could have been fifteen, she always says. I say fourteen cause I count them all at once: the cut the stain the drought, the flames). They gave me the blade, but not the knive. It's yours to bare but I'll walk by your side. She asked did I want it gone, I said never. Scars are canvas and wood: what is underneath a painting when all colors have gone? I was fourteen and I used the straw to cover my face: with the illness and cure came Him, grandfather godfather of the dark and dead, I'm not afraid of your deep pits. he came to bless me from below, I would address him mr wolf. I covered my face like my godfather said, so the judges couldn't see through, my smile magnet-tar-pit-trap. I got by, I made it through the matador corridor.<br />
<br />
In a year or so it was finaly pushed back. one boy or three, they'd slide down with ease. over your back my back your bare hands my chest your tongue I was too young. Veil. The sun down my back, father I can't lose track, where is it what's the time? When do I come in flying blade at hand for the kill, the offering to the god of light. father sun father son.<br />
<br />
What is it with the hair? What is it with the skin so fair... you make for a nice little red ridding hood, child, your make for a nice neck to bite through. I sat in silence, she is a burnette. My yellow was the chords in sore voice, the knotted rope down my tower, could you ever climb up?<br />
What is it with the hair? Change is everlasting time is a cancer eating away, I'd say. Time and space have devoured my home, time and space have declared me shipwreck. But my father stands over my head, he shines and commands: stability and order in his realm. There will be stability, and memories I'll tie around it. The hair is simple, I'd explain. The hair is the only thing you can't break. 'You're afraid of change'. I'm simply holding on.<br />
<br />
It started simple, easy, with image. It started as it should: from the trunk. In dream I met a god. He was a strong man with purple skin, and eyes of a bright blue, the shapes of fish. He told me his name was Mart, oh din y any other, but him. I saw the tree, the sails in thee. I sat down on the stone steps where fighters once stood, and I heard inside the machine someone sobbing an old song. It hurt to eat, to love, to root. It hurt to sit, so I stood. I walked and stumbled upon the Jack of cups, selling his own good luck: going to ten months and no arrest, come with us, we'll be your test. I walked the city and I knew, the battle's lost but not my crew. I walked through Manhattan and I knew, the battle's over: now begins you. The bead broke, the clock stroke two. Where I found an abandoned garden, there I left it to sow: I, yes, take my blood and take my seed, concrete. father sun has little to perceive. In waking and wine I met a second god: Choose, said the elephant man. It's in the trunk. The coin and the charter were my first strip. Here is the real skin. It hurts, she said, breathe in and let me show them what you hold within. The image uncoveres real skin. The pain discovers, a shot of in. And there it was. My real skin was made of tree, no leafs, no flowers, I'm sure it's me.<br />
<br />
Oh father sun father son, could you ever forever rest in me, I still gazed upon creation as an anguished child of thee. But the undraping had begun, and not even He could bare his daughter's burn. Mask after mask, I decided in sleep. Mask under mask, I will shed. Mask under mask I will burn. Sun after sun I will cast upon myself, until there's nothing left but me. The right moment had come, when the snow-white boy made a break for the vast plains. As I watched him go, half the weight of the first mask fell down a thousand stone steps, clanking and shining as it went. Kitchen scisors, no more, no less, show me my breasts. She cut and snipped, strip me from what I can't see. No father, it was not the mask that holds me to thee, I need no straw to reign at your feet. I am not afraid of change, dear friend. I am afraid of myself. I lie in the shadows I rest inside wells. I am beast and I lash, I am wolves and man, I am the shadow behind your only true door. I am terrified, my friend, and wouldn't you be? When walking in darkness I listen for me. In dark mirrors I smile a terrible smile, and chaos reigns, in deep oceans I swim and the sailors I break. I am the fear and the tiger, I am the darkness and the monster behind every single door.<br />
<br />
It was decided, and I had no choice. Start slowly, I wispered, so a lick of blue sea I asked of Ie mother ocean indeed. Your yellow is too strong, father, too heavy over me. I need to breathe. Ie's tears made way for me: my ocean is in you, child, survive and you're free. In due time nursing shadows, the cliff rose higher and I could dream. Over the cliff a bench stood precarious against the rock. We watched the ocean and the city below, we waited for the last show: the monster rose slowly from the deep, the whale is coming, child, you're nearly free. Who is he I asked desperately, hush daughter, now sleep. Your masks are all falling, and soon you will breathe, He's no one, she said in my years as I fell asleep, no monster can rise, but the whale it seems.<br />
<br />
As I woke up from the blue dream, realising the red stain underneath, all the shadows around danced graceful around my bed. The name of the last curtain is red. I read the prophecy over and over and backwords, but the weight over my lids was strong, and from there I struck: the blade is done, gone. silence all the swords. To shed all the masks you must fight them no more: the hairs grow thick, cockroach legs around my pubis. The hair grows strong: vines in dark pits hold the corner of your eye. From legs a corn-field, I am not afraid of your colorful nails, I will stand up strong, rest my blade on the sand, I fight not myself, not in my own command. And the goddess dances, when I see our ropes feathers our gardens of us, the climbing plants over our stones, uncut. I am uncut, I will be uncut. The blade that rested on the ground will serve better purpose, it is found: cut here, if you please, a piece of my father, the string of straw blessed by my godfather, kissed by Ie mother, and hiding my eyes. Cut here for me, as I can't go alone, lend me your hands, that I may with them roam: open my eyes and let my armour go.<br />
A spot for breath near the skull. A place for rest when I have sown. I thank you truly for you have shown. My friend, my love, when the cut bleeds I hear the song. The song is distant but it frees, softly and in blasts, step by step: do not fear the ancient beast. Than you for helping me hold the blade. Now before you go, hand me that arrow, I need to listen, I need to hear the voice that sings so deep within. Pierce me another tube: I will listen with care, my child, I can hear your tune. I have an arrow, I will not go hungry. Pain is relevant. Alive is a complicated word, tenses are difficult.<br />
<br />
I stare into the mirror and I know she's still far, but I see in the distance and can feel her march. The drum beats, the skin prickles. My friends, I remember you: fear of change is not and will never be. Change is becoming, shedding, undraping, change is everlasting. I fear me, and I will fear me. Because when I arrive ships will sink, oceans will open, deserts will spread and a tiny little girl will understand things only the gods know. From the shadows I rise and I mean you no harm. I've just come to claim the body that's mine. There is an arrow zooming through the air: I can see the tree where it will land. I can't see her quite yet, father sun, but she carries all your gifts, and she's already begun. Every change in the mirror is a surprise: I stare expecting confusion and a new name. All I see is, still far off and hazy, the image getting clearer. All I see is a closer shot at describing me. There is no escape and no need for fear: I don't know her name, but she's gorgeous, she's almost here.<br />
<br />
Every tiny chosen and mistaken change I make makes me look a tiny bit more like me.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-631209139349903382015-04-09T08:16:00.003-07:002015-04-09T08:16:59.988-07:00APOROSprocuro em vão.<br />
para você são todos,<br />
e nenhum.<br />
<br />
procuro em vão um plágio inverso:<br />
um verso que diga tudo<br />
o que meus excessos calam.<br />
uma palavra que supra<br />
sufice<br />
surface<br />
que suba à superfície a deusa dela.<br />
que não seja minha<br />
que cortine, cortiça, a minha única palavra cega.<br />
<br />
Para você são todas, e nenhuma.<br />
os poemas dela engasgam nas minhas<br />
cordas curtas<br />
e grossas.<br />
<br />
quero te dizer um copo d'água<br />
quero te dizer um pote de mel<br />
quero te dizer uma pequena orquídea<br />
Azul.moonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2666740973131109734.post-73448697368651963002015-03-10T08:09:00.000-07:002015-03-10T08:09:15.661-07:00verbete do desesperointroduzo um ponto na superfície calma<br />
a linha alarga, atravessa, cruza léguas desenfreada<br />
tudo é feito de tsunami<br />
<br />
esconde a palma da mão debaixo da mesa<br />
limpa o suor na toalha<br />
segura a faca e corta, abre a mata, ninguém responde atrás das bananeiras<br />
<br />
é do mesmo fio que tece o tapete, é do mesmo fio do telefone de lata dos vizinhos<br />
eu te amo de fio e tsunami<br />
eu não te amo de fio e tsunami<br />
eu te amo de dentro da casa, por cima do muro<br />
eu não te amo por baixo dos últimos capachos,<br />
acima dos telhados.<br />
<br />
Não existe superfície, a película da água é lâmina<br />
os peixes abissais estão transbordando de bocas abertas<br />
jogados em fileiras na rede de um pescador sozinho.<br />
<br />
conta três dias<br />
não morre<br />
não mata<br />
conta três diasmoonchildhttp://www.blogger.com/profile/03133337211509586462noreply@blogger.com0