será que tudo aquilo só existe mesmo em não viver tudo aquilo?
Eu só sei mesmo reler.
sexta-feira, 16 de março de 2012
terça-feira, 13 de março de 2012
ELABORAÇÃO DE ANDRÉS
Esse, conversa de elevador. Exaustão das seriedades, portanto, vamos tomar chá das 5?
Ao todo tinham sido quatro. Melhor seria que fossem três: o primeiro, o segundo, e o terceiro. Melhor, porque mais seguramente enraizado em tradição. Mas não posso, por fidelidade assinada de biografia, te mentir. Então foram quatro.
O primeiro não me chegou nunca. Esse o grande truque. “Na véspera do não partir nunca, ao menos não se há que arrumar as malas”dizia Campos. E na véspera do não chegar nunca, ao menos não se há que desarrumá-las. Seu nome era mentira, assim como seu número de identidade. Falsário dos ensaios silenciosos, me enviou – e com este correio que temos...- uma rosa de pelúcia, um enorme R maiúsculo embrulhado em papel virtual. Aparecia todas as noites, disfarçado de silencioso e tímido. Vinha comer meu fígado como a águia de prometeu. Me prometeu três vezes chorar se eu não desse as caras. Pedia meus abraços escritos, queria um foreplay eterno que mistura tesão desconsertante e amor fraternal que inventava. Me chamava de asas, não entendia nadíssima de nada. Era um “se você for eu vou”, “não toma lá nem dá cá”de arrancar os nervos debaixo da pele. Um dia cheguei a perguntar costas-a-costas, se abriria a porta pra mim. Disse mesmo que iria até lá e levaria sorvete. Me desrespondeu que não, ameaçou violar todas as regras das religiões que não seguimos. Aproveitou-se da minha culpa atávica, do meu medinho de quebrar os copos pra penetrar-me o mais profundo do corpo num jogo surdo e mudo, escrito. É muito mais fundo ser fodida por poros que não se vêm, sem tocar-me uma vez o corpo. A distância. Olhos de canto, umas tentativas burras de implicitar nosso sexo explícito, no meio do salão. Nunca trepamos. Foi deixando de dizer-me asneiras, foi achando um ponto para mirar na pirueta, até que sumiu na multidão dos três amigos. Reapareceu um dia com uma raiva ofendida de não ser poeta de palavras doces, mordeu meu pescoço sem suor nem ternura, roa o osso e deixe a carne. Pedi licença para ir ao toilette, retocar a maquiagem dos meus meses de paixão, encontrar aquela correspondência fingida que deixei cair no corredor, e na volta o encontrei ajoelhado diante do altar de santa franca do norte, com olhos que a terra ha de comer ou não me chamo fulana de tal. Maldisse todas as noites de insônia, devolvi presentes e engoli a seco setenta e nove noites de histórias inacabadas. Cherasade, sua vaca, queria te beijar as mãos com todo o meu amor.
O segundo, menos e mais inventado. Veio como providência ineficaz no meio do caminho do primeiro. Era a ele todo oposto: olhos rasos, uma sinceridade banal de quem viu flores com meu nome e lembrou de mim. Sem amor nem mentiras, só assim de leve na ponte. Tinha nome de conde nórdico. O mesmo dos outros, com as letras trocadas. Ironias infindáveis pra disfarçar um otimíssimo coração. Fumava cigarros azuis, e por isso veio me falar. Uma conversa, um cigarro a menos. Mal sabia que quem me curava vício era ele. Existiu ali mesmo, de carnezinhas macias e ossos pequenos, por três noites. Escutava-me com um sotaque providencial. Uma delícia tão simples de dar saudade. Carregou do avesso uma despedida leve, me pediu que o seguisse. Um até amanhã meio doído de para nunca mais. Verdadeiro feito folhas de relva, verde mesmo, queria te conhecer melhor. Coloquei do outro lado da balança, tecendo correspondência incompleta na falta das noites de insônia e tortura. Uma ternura leve, de quem ia se esquecer em breve. Segurei esperas, pedi um copo de água e uma passagem de avião. Não veio, mas quis. Como quereria me entregar as pequeniníssimas flores de jardim. Teu país é lindo e distante, chego a querer te escrever nos pés. Foi indo também, simples e singelo como quem não quer nada, mas se pudesse queria, e teríamos tido oito filhinhos com nomes difíceis. Gostava de gostar, um jeito manso que desconhecia. Guardei os cartões postais. Distância segunda, sem desespero, uma pequena pena só. Quando cheguei, anos depois, para ver de verdade a cara do poema, não quis aparecer. I came a long long way to see you, and I’m glad you are not here, I told him. Foi assim, trem de metro, jazz.
O terceiro, já estava. Estava de antes de todos os outros, escondido atrás de frases bestas, uma arrogância insegura e três olhares desviados. Consegue um? E dois? E três? Me queria desde o começo, só porque eu estava, e tinha longos cabelos. Não me amou nem despertou quebras nas grandiosas geleiras, estava atento e atado, apenas. Esse sim, pra tirar o foco das minhas olheiras cansadas. “Coisa ínfima, quero ficar perto de ti”. Uma compaixão daquelas inflamadas na pele mesmo, apelidos e briguinhas antes mesmo dos primeiros ais. Chá de camomila, não consigo te definir melhor. Resfriado que virou gripe, e eu ali fingindo primeiras intenções. Pedíamos, podíamos, sim? Me chama pra comer alguma coisa, e não avisamos para mais ninguém. Toda a inocência do mundo, é claro. Descuidei e você desespertou de medo no meio da avenida. Será que foi assim? “Teria sido na praia, medo, vai ser um erro, uma palavra errada, nada basta quase nada”. Ele que disse pra ele que diria pra mim que aquele outro ele talvez sentisse que ele... enfim. Desfim, desfez, desfeito, tô de mal come sal na panela de mingau. Tão criança quanto você, despi as facilidades e me armei de setecentos argumentos e vontades. Nada melhor do que perguntas explícitas pra receber as respostas erradas. Me salvou e largou ali, como se não tivesse se quer me salvo. Fiquei bem, sã e salva mesmo, apesar de uma pedra no sapato, você me doendo os calcanhares.
O quarto, na verdade, não teve a menor importância. Foi e veio na mais pura perfeição de uns 17 minutos. Com aquela cara de despeito passado, birrinha de quem não ganhou os doces e voltou pra mostrar a cobra e matar o pau. Me desafiava de longe, sem beleza, todo charme e cerveja. A noite alta me ensopara toda. Caetaneando alegre nas lamas envolta dos dois comprometidos, me decidira a ficar sóbria. Bem que se quis. Voltava torta para o meio da grama onde chovia e gargalhavam as luzes verdes do campus, e a música me partia os pés. Tomei-te um gole, e achei a boca desse quarto e último de consolo para todos os fracassos. “Ela é minha menina, e eu sou o menino dela”por exatamente 17 e vai-te embora que vais perder o trem. Um gole, e só. Serviu-me bem às coxas, pra fechar com chave de nada a grande saga. O quarto foi um relance no nome, despedida de soleira.
Entrava, depois dele, na inacreditável e inigualável era dos Is.
Ao todo tinham sido quatro. Melhor seria que fossem três: o primeiro, o segundo, e o terceiro. Melhor, porque mais seguramente enraizado em tradição. Mas não posso, por fidelidade assinada de biografia, te mentir. Então foram quatro.
O primeiro não me chegou nunca. Esse o grande truque. “Na véspera do não partir nunca, ao menos não se há que arrumar as malas”dizia Campos. E na véspera do não chegar nunca, ao menos não se há que desarrumá-las. Seu nome era mentira, assim como seu número de identidade. Falsário dos ensaios silenciosos, me enviou – e com este correio que temos...- uma rosa de pelúcia, um enorme R maiúsculo embrulhado em papel virtual. Aparecia todas as noites, disfarçado de silencioso e tímido. Vinha comer meu fígado como a águia de prometeu. Me prometeu três vezes chorar se eu não desse as caras. Pedia meus abraços escritos, queria um foreplay eterno que mistura tesão desconsertante e amor fraternal que inventava. Me chamava de asas, não entendia nadíssima de nada. Era um “se você for eu vou”, “não toma lá nem dá cá”de arrancar os nervos debaixo da pele. Um dia cheguei a perguntar costas-a-costas, se abriria a porta pra mim. Disse mesmo que iria até lá e levaria sorvete. Me desrespondeu que não, ameaçou violar todas as regras das religiões que não seguimos. Aproveitou-se da minha culpa atávica, do meu medinho de quebrar os copos pra penetrar-me o mais profundo do corpo num jogo surdo e mudo, escrito. É muito mais fundo ser fodida por poros que não se vêm, sem tocar-me uma vez o corpo. A distância. Olhos de canto, umas tentativas burras de implicitar nosso sexo explícito, no meio do salão. Nunca trepamos. Foi deixando de dizer-me asneiras, foi achando um ponto para mirar na pirueta, até que sumiu na multidão dos três amigos. Reapareceu um dia com uma raiva ofendida de não ser poeta de palavras doces, mordeu meu pescoço sem suor nem ternura, roa o osso e deixe a carne. Pedi licença para ir ao toilette, retocar a maquiagem dos meus meses de paixão, encontrar aquela correspondência fingida que deixei cair no corredor, e na volta o encontrei ajoelhado diante do altar de santa franca do norte, com olhos que a terra ha de comer ou não me chamo fulana de tal. Maldisse todas as noites de insônia, devolvi presentes e engoli a seco setenta e nove noites de histórias inacabadas. Cherasade, sua vaca, queria te beijar as mãos com todo o meu amor.
O segundo, menos e mais inventado. Veio como providência ineficaz no meio do caminho do primeiro. Era a ele todo oposto: olhos rasos, uma sinceridade banal de quem viu flores com meu nome e lembrou de mim. Sem amor nem mentiras, só assim de leve na ponte. Tinha nome de conde nórdico. O mesmo dos outros, com as letras trocadas. Ironias infindáveis pra disfarçar um otimíssimo coração. Fumava cigarros azuis, e por isso veio me falar. Uma conversa, um cigarro a menos. Mal sabia que quem me curava vício era ele. Existiu ali mesmo, de carnezinhas macias e ossos pequenos, por três noites. Escutava-me com um sotaque providencial. Uma delícia tão simples de dar saudade. Carregou do avesso uma despedida leve, me pediu que o seguisse. Um até amanhã meio doído de para nunca mais. Verdadeiro feito folhas de relva, verde mesmo, queria te conhecer melhor. Coloquei do outro lado da balança, tecendo correspondência incompleta na falta das noites de insônia e tortura. Uma ternura leve, de quem ia se esquecer em breve. Segurei esperas, pedi um copo de água e uma passagem de avião. Não veio, mas quis. Como quereria me entregar as pequeniníssimas flores de jardim. Teu país é lindo e distante, chego a querer te escrever nos pés. Foi indo também, simples e singelo como quem não quer nada, mas se pudesse queria, e teríamos tido oito filhinhos com nomes difíceis. Gostava de gostar, um jeito manso que desconhecia. Guardei os cartões postais. Distância segunda, sem desespero, uma pequena pena só. Quando cheguei, anos depois, para ver de verdade a cara do poema, não quis aparecer. I came a long long way to see you, and I’m glad you are not here, I told him. Foi assim, trem de metro, jazz.
O terceiro, já estava. Estava de antes de todos os outros, escondido atrás de frases bestas, uma arrogância insegura e três olhares desviados. Consegue um? E dois? E três? Me queria desde o começo, só porque eu estava, e tinha longos cabelos. Não me amou nem despertou quebras nas grandiosas geleiras, estava atento e atado, apenas. Esse sim, pra tirar o foco das minhas olheiras cansadas. “Coisa ínfima, quero ficar perto de ti”. Uma compaixão daquelas inflamadas na pele mesmo, apelidos e briguinhas antes mesmo dos primeiros ais. Chá de camomila, não consigo te definir melhor. Resfriado que virou gripe, e eu ali fingindo primeiras intenções. Pedíamos, podíamos, sim? Me chama pra comer alguma coisa, e não avisamos para mais ninguém. Toda a inocência do mundo, é claro. Descuidei e você desespertou de medo no meio da avenida. Será que foi assim? “Teria sido na praia, medo, vai ser um erro, uma palavra errada, nada basta quase nada”. Ele que disse pra ele que diria pra mim que aquele outro ele talvez sentisse que ele... enfim. Desfim, desfez, desfeito, tô de mal come sal na panela de mingau. Tão criança quanto você, despi as facilidades e me armei de setecentos argumentos e vontades. Nada melhor do que perguntas explícitas pra receber as respostas erradas. Me salvou e largou ali, como se não tivesse se quer me salvo. Fiquei bem, sã e salva mesmo, apesar de uma pedra no sapato, você me doendo os calcanhares.
O quarto, na verdade, não teve a menor importância. Foi e veio na mais pura perfeição de uns 17 minutos. Com aquela cara de despeito passado, birrinha de quem não ganhou os doces e voltou pra mostrar a cobra e matar o pau. Me desafiava de longe, sem beleza, todo charme e cerveja. A noite alta me ensopara toda. Caetaneando alegre nas lamas envolta dos dois comprometidos, me decidira a ficar sóbria. Bem que se quis. Voltava torta para o meio da grama onde chovia e gargalhavam as luzes verdes do campus, e a música me partia os pés. Tomei-te um gole, e achei a boca desse quarto e último de consolo para todos os fracassos. “Ela é minha menina, e eu sou o menino dela”por exatamente 17 e vai-te embora que vais perder o trem. Um gole, e só. Serviu-me bem às coxas, pra fechar com chave de nada a grande saga. O quarto foi um relance no nome, despedida de soleira.
Entrava, depois dele, na inacreditável e inigualável era dos Is.
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