terça-feira, 10 de março de 2015

verbete do desespero

introduzo um ponto na superfície calma
a linha alarga, atravessa, cruza léguas desenfreada
tudo é feito de tsunami

esconde a palma da mão debaixo da mesa
limpa o suor na toalha
segura a faca e corta, abre a mata, ninguém responde atrás das bananeiras

é do mesmo fio que tece o tapete, é do mesmo fio do telefone de lata dos vizinhos
eu te amo de fio e tsunami
eu não te amo de fio e tsunami
eu te amo de dentro da casa, por cima do muro
eu não te amo por baixo dos últimos capachos,
acima dos telhados.

Não existe superfície, a película da água é lâmina
os peixes abissais estão transbordando de bocas abertas
jogados em fileiras na rede de um pescador sozinho.

conta três dias
não morre
não mata
conta três dias