em momentos breves
imperceptíveis
que piscam entre uma xícara de café
e o próximo copo d'água
quando nada se vê debaixo da minha pele
rosada
naqueles instantes lisos
em que a minha alma corre perigo
solta num vazio de signos
(luzes coloridas acendem
apagam
a frase musical que não comunica)
nos momentos em que um pedaço
fundo e escuro dentro de mim,
velho como a arena de Verona,
flutua perdido no espaço
momento em que nenhuma palavra ancora
o lastro grosso do traço
(não do silêncio, mas do ar condicionado)
ruído branco, espesso, pálido
nesse quarto de hora em que não se espera nada
minha alma quieta está em perigo.
é de repente nessas horas que eu torço
por uma notícia tua.
não tem nem nome de saudade isso
é a ponta de um pé que desliza procurando
a areia do fundo
não chega nem a ser saudades isso
porque não é coisa que se mate:
é a mão que tateia o interruptor
é o pé no freio,
o corrimão na escada escura.
eu espero notícias tuas
que o mundo não acabe,
- como se espera a previsão do tempo -
que chegue a eleição
que não chova amanhã de manhã
que chova na cantareira
eu espero notícias tuas como espero a voz da vizinha
cantora lírica pela janela
como espero que não tenha acabado o azeite,
que volte o sinal do wi-fi.
As tuas notícias são menos notícias tuas
mais a prova dos nove:
a luz que bate no objeto e
carrega até os meus olhos,
o vento que me lembra que tenho pele.