melhor ser joalheiro do que mau poeta
disse Diderot ao homem de Pondichèry
(e também à Adília)
eu fico pensando nos joalheiros
sem ironia
penso no preço da obra, naquelas
lentes fixadas ao olho
na beleza pura e sem explicações
palavras são coisas feiosas que a gente disfarça
insetinhos tortos que comem a casa
larvas pela carcaça
palavras são desculpas esfarrapadas
para o orgulho feio de velhos carecas
(coisas de românticos meio necrófilos)
mas mulheres carecas também escrevem feias palavras.
o único jeito de entender Diderot
é fingindo demência da sua ironia:
jóias, gioia, folia!
melhor ser má poeta, madrasta má
e má entendedora,
talhar sem tesão
nem trocadilhos
ver a coisa nascer do brilho:
beleza pura, dinheiro yeah
todo poeta quer ser joalheiro.