quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Começa assim: fiz um blog. Ou, "queixei-me de baratas".

[Não, não possuo a pretensão nem, mais importante, a despretensão da "Quinta História" nem muito menos das "Primeiras"]
Gosto, apenas, de pontuação, ao modo do pêssego: pelo sabor desordenado.

O primeiro chama-se:

Três Tentativas de Três Poemas de Lisboa para Três Tigres Tristes

BAIXO:

A Ladeira do Salitre
E eu não escuto canções portuguesas...
Apenas as minhas
As minhas canções de fora.
O nome da rua é uma palavra cheia
(Tinha os seus sapatos...
Tem o poema de um peruano...)

Se fosse corrosivo, não passaria do chão
perambulantemente liso,
do escorregador que é a Rua do Salitre.

As senhoras portuguesas são as donas do mundo.
- Alguém esqueceu um cacho vazio
Na rua do comércio-
Só as senhoras portuguesas não vão ao chão.
Só o peso de ser uma senhora portuguesa
Equilibra teus pés nessas calçadas.
Nós caimos todo dia.

SALTO:

Que saudades de Lisboa
A Lisboa que eu não vivi
as saudades que eu não amei,
as saudades que não permiti.

Que saudades de Lisboa
Lisboa de distâncias,
triste ânsia de não existir.

Saudades dos teus claros enredos subindo ausentes,
do Salitre dos teus mil ventres.
que saudades do pai que não amei,
das rosas que não lhe dei
dos poemas que desescrevi.

Lisboa, amor estranho,
rejeitado, estanque
ventoso de veias azuis.

Que saudades do teu mar gelado,
me expulsar mastigado...
Lisboa e teu desconforto de lar morto,
tua língua nova que me desaprova
Que saudades de tua lembrança,
Lisboa criança
a espera de partir.

ALTO

Na minha boca, amanheceu.
Fora, continuam os cabelos encrespados da alta noite
O horizonte é mais imagem que distância.
-Ali é o Tejo, e não o mar.-
O horizonte é calmo, como meu antigo armário, espera
-Ali é o Tejo, e não o mar.-
O quadro é de uma Lisboa preta
Como uma bahiana inchada
pintada de luzes coloniais.

Fora, a noite urbana e alta
E o horizonte é baixo braço `a minha espera
-Ali é o Tejo, e não o mar-
Fora, a noite arde em cardumes lascivos
Aglomerados alarmantes testando o porto
ignoram o mar...
-Ali é o Tejo, e não o mar.-

O horizonte diluido na cidade esferográfica
A noite alta rastreia cheiros atlânticos
na direção bucólica de bússola
pra onde apontam meus infantes mamilos
-Ali é o Tejo, e não o mar!

Na minha boca, amanheceu.



"pronto", como dizia a garota portuguesa, que também chamava durex de "fita-cola" e "deitava fora" as fotos que não ficavam bem no laboratório. Acho muito bonito que se deitem fora coisas. Jogar é de fato de uma grande indelicadeza com o passado.
É tempo de inverno, e como diz meu instrutor de kempo: "morre. começa de novo"

Não, não sei quando é a época de pêssegos

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Por que fica aparecendo que eu removi o comentário? E ainda com essa foto very crazy? Apaga isso, que aflição.

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