Ando querendo trocar de carteira. Não, espera. Ando querendo trocar... não pruma carteira melhor, nova. Ando querendo trocar de carteira, pruma carteira menor, pequena, minúscula, vazia, que quase suma. Ando querendo trocar de corpo. Prum corpo assim pequeno, minúsculo, vazio, que quase suma encolhido num ninho de edredom gigante vermelho. Durma. Ando querendo trocar de olhos. Pruns olhos daqueles que estão acordando, quando já é dia mas ainda não há sol. Pruns olhos que pisquem ao revés: abertos só por alguns segundos,só pra limpar e proteger um pouquinho o escuro.
Ando querendo trocar de amor. Prum amor assim pequeno, discreto, que quase nem exista. Prum amor assim bem infantil, de dar laranjas de presente, sentir vergonha de encostar os ombros. Prum amor que não se toque, que não quase não me toque, que olhe assim pra mim meio de longe meio de lado. Prum amor presente quieto pequenininho feito um bezouro.
Isso hoje, talvez amanhã. Depois ou voltar a querer uma imensidão desperta, uns olhos vivos em quase desespero, bile, sangue e suor, panos grandes, costuras fortes e complicações. Depois vou voltar q querer carne rija, sexo sedento, amor mordido absoluto prédios, volantes, berros do tamanho da cidade. Vou voltar a querer o espaço vasto dos goles, as voltas em volta dos desejos irreais, Bowie e as explosões astronômicas que não se originam em nada, em ninguém.
Depois de amanhã.
"fim da tarde, a terra cora, e a gente chora porque fim da tarde"
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