quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O meu maior defeito

Faz um favor ? Não me perdoe. Não me desculpe. Não seria justo que eu te pedisse desculpas por isso, porque disso eu não me desculparei e não me livro, porque disso eu preciso. Do meu maior defeito.

Existe uma linha, um fio, um fio que eu teço. Começa do começo: eu não esqueço.
E como eu não esqueço é preciso tecer em torno, em torno do nada fazer pequenos buracos, porque ao nada em si, eu não chego. Em torno do meu não-esquecer eu vou achando espaço de passos, um lugar onde é possível conectar a imagem à coisa, e a coisa, enfim, a outra coisa.

Aí é que complica. A outra coisa, a segunda, ela vem sempre de um minúsculo nó que puxa o final largado daquela outra linha ali, aquela deixada ali no chão, há alguns anos, minutos, dias. Então eu costuro, amarro, acho a ponta e conecto. Porque não faço ponto sem nó. Ou, pelo contrário, só faço nós que puxem os outros fios, e vamos assim deixando pontos e pontas. Três, para não perder a viagem.

Todos os fios novos são criados de amarras antigas. Uma frase, uma música, uma imagem. Pronto, achei. Essa aqui eu reconheço, essa aqui é espelho, é ponta livre para desfazer e reescrever aquela velha história que não teve fim. A nova não terá fim também, e é esse o grande jogo.

De vez em quando, no entanto, eu decido, e pico. e corto, e o corpo se desfaz em nunca, e ali acaba uma linha pendurada em si mesma. Dali não sairão tranças ou novos encontros, um passo que dê em outra linha gêmea, causa dessa. Essa linha não será causa de nada.

De vez em quando mesmo os seres memoriosos do abismo acham um ponto cego.
Ufa.


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