Quero um trabalho que faça sentido
Não consigo sonhar com um
(agora que minha imaginação se fez menos burra)
Quero um amor que faça sentido
Encontrei-o e estou a ponto de arrancar-lhe o sentido
pra comer
Porque essa fome se sentido me provoca um canibalismo feroz
Era capaz de arrancar as próprias pernas pra matá-la
E não o faço?
Nem sei o que te dizer de tanta saudade
palavra inventada,
affection misplacement
empurrado o afeto de cá
para lá
Inventei então esta saudade burra
analfabeta de pai e mãe
Tenho um dente solto,
e sonhei com um alemão que procurava um business partner.
Como já te disse, o plágio é subestimado
e sigo deglutindo essa carcaça elástica,
disforme, sem carne.
Te queria
Te quis, Te quero
desesperadamente - páro.
(com acento)
de desesperadamente que não me enleva do lado de cá.
Só esse cheiro de cigarro que vem do prédio em frente
Nem meu é o pulmão, mas é meu o vício.
Não tenho palavras pra te pedir tamanho favor.
Lembra-te?
Me traz de volta numa rede como uma sereia muda e estúpida
Queria acordar alienígena tendo que aprender Português,
amor, etiqueta,
violência, regras do tráfego
acentuação, masturbação,
mastigação
e tudo mais.
Queria acordar burra estrangeira desenterrada
descongelada
beijada pela primeira vez
feito uma besta rara de museu
Assustada e convicta.
sem contar as horas de um dia
Completamente inábil, incapaz de indecisão.
Queria acordar translúcida sob seis focos de luz em raio-x
oito bisturis
e bocas por trás de máscaras que não interpreto
Sem saber os símbolos
disléxica, a-léxica
Massa amorfa por ser inventada
reinventada
A Menor Mulher do Mundo
A sobrevivente dos mais ancestrais
inocentes dos animais
Me ponha na cama.
Diz que sim.
Canta-me uma canção que eu já cansei de xingar teu nome
Me explica a teoria da evolução
e o que quer dizer "i-n-d-i-s-c-u-t-i-v-e-l-m-e-n-t-e"
e segura pra mim
um minuto
esse aparelho,
que eu não o entendo
eu não o entendo
eu não o entendo,
aleluia, eu não o entendo.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
tiny lyrics
(It´s as important to be in love, as it is to have been heart-broken)
cause I rarely write about love, now our silence´s well spoken,
now I have only the time to live your night´s token.
And I love having been in love with those early gonners,
those morning mourners
those horny corners...
You leave me room to relate
with all the songs of heartbrake
and maybe I can still write love poems for my lates
back in the day.
All my old muses,
they just all excuses
those fifty-three uses,
I find for your rhymes.
And hell I do love this feeling
This flashback, the wheel in
the road where I´d been in
those early long dreamin,
a child dumb-struck
the trucks that we´d jumped on,
the travels I´d dreamed of
the night´s that we planned on
The weather of babilon,
when you were just gone
and they can all become words, and they can all become line,
and they can all become cream, dripped into the coffee
I sipped in my mind
they melt in the bars while I pay for my crime
I keep them a notebook,
a rose by the bed-side
A chime and a key-chain
(maybe even a postcard, of that strange never-been plain)
A garlic-bread, a graffiti line, steak-knife case and
the words said in wine.
they´ve got all those sobbed tones,
they´ve got all those pink moans,
they´ve got it all drawn out,
they´ve got it all waxed in
they´ve got it all stuffed as
the old envelope´s skin
They´ve got a few tears
A book by the year
Unforgetfull sins, spoken right in my ear
One last joke unspoken,
the leaves still unbroken
and maybe three hearts
of the ones I had stolen...
while I leave you mine.
cause I rarely write about love, now our silence´s well spoken,
now I have only the time to live your night´s token.
And I love having been in love with those early gonners,
those morning mourners
those horny corners...
You leave me room to relate
with all the songs of heartbrake
and maybe I can still write love poems for my lates
back in the day.
All my old muses,
they just all excuses
those fifty-three uses,
I find for your rhymes.
And hell I do love this feeling
This flashback, the wheel in
the road where I´d been in
those early long dreamin,
a child dumb-struck
the trucks that we´d jumped on,
the travels I´d dreamed of
the night´s that we planned on
The weather of babilon,
when you were just gone
and they can all become words, and they can all become line,
and they can all become cream, dripped into the coffee
I sipped in my mind
they melt in the bars while I pay for my crime
I keep them a notebook,
a rose by the bed-side
A chime and a key-chain
(maybe even a postcard, of that strange never-been plain)
A garlic-bread, a graffiti line, steak-knife case and
the words said in wine.
they´ve got all those sobbed tones,
they´ve got all those pink moans,
they´ve got it all drawn out,
they´ve got it all waxed in
they´ve got it all stuffed as
the old envelope´s skin
They´ve got a few tears
A book by the year
Unforgetfull sins, spoken right in my ear
One last joke unspoken,
the leaves still unbroken
and maybe three hearts
of the ones I had stolen...
while I leave you mine.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Chapeuzinho Vermelho - first draft
Sua cor favorita tinha sempre sido vermelho. Aos 8, seu Pai lhe dera de presente um canivetinho vermelho, logo antes de morrer de tuberculose. Depois da morte do Pai, a Avó cortou-lhe um tecido e fez uma capa com capuz, da cor mais bonita, para alegrar sua netinha.
Alguns anos depois, a Avó ficou doente, e Chapeuzinho Vermelho (que não tinha nome, porque capuz e máscara são quase a mesma coisa) ficou muito preocupada. A Mãe preparou doces, bolos e uma garrafa de vinho. Colocou todos numa cesta, e entregou a Chapeuzinho.
-Está bem, minha filha, se quer mesmo visitar sua avó, aproveite e leve a ela esses doces, para alegrar seu dia. Escuta menina, já estás bem grandinha. Não vai pelo bosque florido, que é muito perigoso. Segue sempre o caminho pedregoso da ferrovia.
Chapeuzinho fez que sim, porque era muito obediente, e menina obediente o trem não passa em cima.
Vestiu a capa e as botas pretas de couro, e desceu os degraus da frente.
Mente quem diz que mentira tem perna curta, e que é de pequenino que se torce o pepino. Mente ou escutou muita mentira, e eu desminto porque pressinto cheiro de churrasco. Quem parte, reparte, e não pega a melhor parte, ou é burro, ou não entende da arte. Já dizia minha mãe. E a mãe de Chapeuzinho disse a ela que fosse pela ferrovia, mas veja bem, aí é que está, ela não via as belas flores que crescem bem na beirinha do bosque escuro. Não precisa entrar no bosque, é só seguir pela beira.
Chapeuzinho queria levar, além de doces umas flores vermelhinhas para a Avó. Mal não faz. Esticou os braços, e foi andando pela beirinha do bosque, rente à linha de árvores, muito cuidadosamente. Mas não tem bosque alinhado assim tão bem, e com mais três ou quatro florzinhas, ela já estava no meio do bosque lindo e escuro. Nessa rua, nessa rua tem um bosque. Que se chama que se chama solidão. Dentro dele dentro dele mora um anjo que roubou que roubou meu coração. Chapeuzinho florzinha Vermelha ali no meio do bosque, tão bonita de se colher. Dizem que Lobos são espertos. A vontade é mais esperta que a esperteza, e o que Lobo tem, é uma vontade enorme. Se assim funcionar, então sim, o Lobo que espiava Chapeuzinho ali daquela árvore, era mesmo muito esperto. A fome bateu, como só a fome sabe bater, mas ele sabia que por ali não podia ser. Foi jogar conversa fora, olhar melhor a florzinha vermelha.
-Boa tarde, menina!
-Boa tarde, senhor.
- O que uma menina tão linda como você faz por aqui, no meio do bosque?
- Estou colhendo flores para a minha Avó, ela está muito doente. Quem é você?
- Eu sou o Lobo.
Chapeuzinho olhou então pela primeira vez a figura que lhe dirigia a palavra. Ele tinha olhos, orelhas e uma boca tão grandes. Sim, isso ela já notou logo de início.
- Não posso ficar conversando agora, Lobo, tenho que ir encontrar minha Avó.
- E onde mora a sua Avó?
- Do outro lado do bosque.
Cada um seguiu seu caminho, e algum tempo depois Chapeuzinho chegou, com a cesta cheia de flores, à casa da Avó.
Bateu na porta. Ninguém atendeu. Vovó?
Abriu a porta e entrou. A casa escura de tão deitada, deixou-se iluminar um pouco pelo dia que já ia caindo. No canto, uma cama. Vovó?
Chapeuzinho sentiu um cheiro triste de final, de depois de depois de amanhã. A capa envolvia-lhe, e o medo da chuva é o mesmo medo que o medo da seca. O cheiro de poeira e doces, o cheiro de vinho e...
Deu três passos. A figura na cama, debaixo dos cobertores. Debaixo dos cobertores um rosto cara escura de bicho sob panos brancos. Ele, com um gesto de cabeça, apontou a mesa de cabeceira. Ela olhou, viu a taça de vinho, o prato de carne. A carne é vermelha.
Aproximou-se, dois passos.
Desentendida menininhinhazinha diminuindo com olhos de cadê minha mãe que eram mesmo cadê minha Vó, minha velha velhinha que já me esquecia cadê. Estendeu as mãos para a taça, bebeu um gole do vinho. As mãos tremiam, não de medo, mas de frio. Tinto descendo um antes-do-amargo de quem ia entender. Rastro queimado de álcool que traçava uma linha da cabeça ao ventre, e de volta aos olhos. Olhou-o novamente.
Na cama, a figura esguia, de esguelha transparência. O monstro do homem. O escuro debaixo da cama, deitado em cima, invertendo palíndromo a ordem dos medos. A ordem dos modos.
Olhos nos olhos quero ver o que você faz
(A morte era flor cor de vinho ali com cheiro de mofo, de carne, de sangue seco, de saliva ainda viva. A morte cheirava sua nuca, nunca dantes mordida. A morte acenava da janela de trás enquanto sua pele branca pedia pedia pedia um copo d´água, tenho sede, e os meus olhos pedem teu olhar. A pele pedia um novo atrito dissecado e branco, explosivamente branco de onde surgem todas as células. E a morte ali, penetrando a vida amolecida de sucos, sulcos banhados de vinhos antigos, nascimentos trágicos e outros tantos ardores futuros. A morte e o desejo de abrir todas as janelas. A morte na cama, o orgasmo discreto dos teus dentes. Quando a dor e o desejo soltassem um o corpo suado do outro, ela teria finalmente entendido.)
Dos medos todos que poderiam ter aflorado em passos desesperados, gritos aflitos ou não, nenhum deles conseguiu distanciar-se da beira do estômago. A tristeza das realizações mais duras tomou-lhe os vinte dedos, os dois milhões e quatrocentos fios de cabelo, as duas pernas, os olhos tão grandes e a única boca vermelha, entreaberta. Deu um passo em direção ao lado da cama, como que para velar um doente. A perda corta as cordas e as amarelinhas, as pedrinhas de cinco marias, os panos das bonecas e uma capa vermelha.
- Você matou minha Avó?
Era e não era um pergunta. Ele inclinou ligeiramente a cabeça para baixo, sem tirar os olhos dos seus olhos. Os olhos seguravam cada um a ponta de uma vara de equilibrista. O perigo abísmico sobre a cama, ameaça vulnerável, despida, crua de animal. Os olhos negros de bicho não diferenciavam pupilas, e ela insistiu em ver melhor seu próprio reflexo no poço: deu o último passo, expondo perpendicular. Espelhada vermelha nos dois círculos negros. A barra da sua saia branca roçava de leve os cobertores. Nunca estivera tão próxima.
O tempo virou do avesso suas mangas e bolsos, desembaraçando a vastidão inerte que se alastrava. E tudo aconteceu no tempo em que um olho prepara-se para piscar. As duas bocas se abriram em espelho: A dele num rosnado de bote, dentes na velocidade de flechas brancas, afiadas como a lança na mão do selvagem, o homem em seu berro de posse, de perfuração. Sua vida pela minha, minha vida sobre a sua, por entre a sua. A dela num gemido agudo e curto, do susto sabido e fundo, de arregalar os olhos verticais e olhar de frente pela primeira vez o grande abismo. Desperta a dança, simultânea sacou invisivelmente do bolso o canivete.
Os caninos brancos apenas talharam levemente o ventre macio, afastados rapidamente pelo ardor do corte que o canivete espelhava em sua pele negra de pelos grossos. Estancou novamente o ar. Dois cortes. Feridos, ambos: Chapeuzinho via a linha vermelha cortada logo abaixo do seu umbigo, o sangue que lentamente transbordava transversal, manchando sua saia branca. Ainda tremia, segurando com força desembainhado seu canivetinho vermelho. O Lobo na cama, o corte que ela lhe abrira manchando sua carne de um vermelho vivo, superficial, excruciantemente real.
Traçada a linha, cortada a margem. Ela levou a mão ao ventre, apertado de dor. Ele retraiu um pouco o corpo de fera acuada.
Ainda segurava o canivetinho, baixava devegar o braço. O Lobo já não mostrava os dentes. Olhavam-se ainda, talvez tomados do mesmo assombro.
Quando chegasse em casa diria à Mãe que enterrara a Avó no jardim, e que o corte no ventre era dos espinhos das roseiras. Não saberia jamais explicar, e nem tentaria nunca entender o motivo do que fez em seguida. Executou as ações como se não estivesse lá, lentamente, como alguém que nunca tivesse decidido se mover: Fechou a lâmina do canivete vermelho, e ainda olhando-o nos olhos, guardou no bolso a arma. Cortou com força um pedaço do pano da saia. Deixou, dolorida, que lhe escorressem três lágrimas dos olhos, e molhou com elas o retalho. Aproximou-se calmamente e esticou a mãozinha branca na direção da figura monstruosa. Estancou com o pano branco o sangue que escorria do corte, abaixo dos olhos negros do Lobo. Ele não se moveu. Apenas o som de duas respirações, contraídas em direções opostas. Ela então soltou o pano, e percebeu tirando a outra mão do ventre, que também o seu corte estancara. Ardia.
Deu um passo atrás. É para te ver melhor.
Olhou pela última vez aqueles fundos olhos negros. Compreenderam-se, em acordo silencioso e imóvel.
Voltou-se para a porta, deixando cair dos ombros a capa vermelha. Só um vestido branco, manchado leve de sangue. Nunca mais veria a capa, nem o Lobo, nem a Avó. E depois de certo tempo, chapeuzinho vermelho sem seu capuz não faria mais sentido, e teriam de chamá-la por seu verdadeiro nome.
Alguns anos depois, a Avó ficou doente, e Chapeuzinho Vermelho (que não tinha nome, porque capuz e máscara são quase a mesma coisa) ficou muito preocupada. A Mãe preparou doces, bolos e uma garrafa de vinho. Colocou todos numa cesta, e entregou a Chapeuzinho.
-Está bem, minha filha, se quer mesmo visitar sua avó, aproveite e leve a ela esses doces, para alegrar seu dia. Escuta menina, já estás bem grandinha. Não vai pelo bosque florido, que é muito perigoso. Segue sempre o caminho pedregoso da ferrovia.
Chapeuzinho fez que sim, porque era muito obediente, e menina obediente o trem não passa em cima.
Vestiu a capa e as botas pretas de couro, e desceu os degraus da frente.
Mente quem diz que mentira tem perna curta, e que é de pequenino que se torce o pepino. Mente ou escutou muita mentira, e eu desminto porque pressinto cheiro de churrasco. Quem parte, reparte, e não pega a melhor parte, ou é burro, ou não entende da arte. Já dizia minha mãe. E a mãe de Chapeuzinho disse a ela que fosse pela ferrovia, mas veja bem, aí é que está, ela não via as belas flores que crescem bem na beirinha do bosque escuro. Não precisa entrar no bosque, é só seguir pela beira.
Chapeuzinho queria levar, além de doces umas flores vermelhinhas para a Avó. Mal não faz. Esticou os braços, e foi andando pela beirinha do bosque, rente à linha de árvores, muito cuidadosamente. Mas não tem bosque alinhado assim tão bem, e com mais três ou quatro florzinhas, ela já estava no meio do bosque lindo e escuro. Nessa rua, nessa rua tem um bosque. Que se chama que se chama solidão. Dentro dele dentro dele mora um anjo que roubou que roubou meu coração. Chapeuzinho florzinha Vermelha ali no meio do bosque, tão bonita de se colher. Dizem que Lobos são espertos. A vontade é mais esperta que a esperteza, e o que Lobo tem, é uma vontade enorme. Se assim funcionar, então sim, o Lobo que espiava Chapeuzinho ali daquela árvore, era mesmo muito esperto. A fome bateu, como só a fome sabe bater, mas ele sabia que por ali não podia ser. Foi jogar conversa fora, olhar melhor a florzinha vermelha.
-Boa tarde, menina!
-Boa tarde, senhor.
- O que uma menina tão linda como você faz por aqui, no meio do bosque?
- Estou colhendo flores para a minha Avó, ela está muito doente. Quem é você?
- Eu sou o Lobo.
Chapeuzinho olhou então pela primeira vez a figura que lhe dirigia a palavra. Ele tinha olhos, orelhas e uma boca tão grandes. Sim, isso ela já notou logo de início.
- Não posso ficar conversando agora, Lobo, tenho que ir encontrar minha Avó.
- E onde mora a sua Avó?
- Do outro lado do bosque.
Cada um seguiu seu caminho, e algum tempo depois Chapeuzinho chegou, com a cesta cheia de flores, à casa da Avó.
Bateu na porta. Ninguém atendeu. Vovó?
Abriu a porta e entrou. A casa escura de tão deitada, deixou-se iluminar um pouco pelo dia que já ia caindo. No canto, uma cama. Vovó?
Chapeuzinho sentiu um cheiro triste de final, de depois de depois de amanhã. A capa envolvia-lhe, e o medo da chuva é o mesmo medo que o medo da seca. O cheiro de poeira e doces, o cheiro de vinho e...
Deu três passos. A figura na cama, debaixo dos cobertores. Debaixo dos cobertores um rosto cara escura de bicho sob panos brancos. Ele, com um gesto de cabeça, apontou a mesa de cabeceira. Ela olhou, viu a taça de vinho, o prato de carne. A carne é vermelha.
Aproximou-se, dois passos.
Desentendida menininhinhazinha diminuindo com olhos de cadê minha mãe que eram mesmo cadê minha Vó, minha velha velhinha que já me esquecia cadê. Estendeu as mãos para a taça, bebeu um gole do vinho. As mãos tremiam, não de medo, mas de frio. Tinto descendo um antes-do-amargo de quem ia entender. Rastro queimado de álcool que traçava uma linha da cabeça ao ventre, e de volta aos olhos. Olhou-o novamente.
Na cama, a figura esguia, de esguelha transparência. O monstro do homem. O escuro debaixo da cama, deitado em cima, invertendo palíndromo a ordem dos medos. A ordem dos modos.
Olhos nos olhos quero ver o que você faz
(A morte era flor cor de vinho ali com cheiro de mofo, de carne, de sangue seco, de saliva ainda viva. A morte cheirava sua nuca, nunca dantes mordida. A morte acenava da janela de trás enquanto sua pele branca pedia pedia pedia um copo d´água, tenho sede, e os meus olhos pedem teu olhar. A pele pedia um novo atrito dissecado e branco, explosivamente branco de onde surgem todas as células. E a morte ali, penetrando a vida amolecida de sucos, sulcos banhados de vinhos antigos, nascimentos trágicos e outros tantos ardores futuros. A morte e o desejo de abrir todas as janelas. A morte na cama, o orgasmo discreto dos teus dentes. Quando a dor e o desejo soltassem um o corpo suado do outro, ela teria finalmente entendido.)
Dos medos todos que poderiam ter aflorado em passos desesperados, gritos aflitos ou não, nenhum deles conseguiu distanciar-se da beira do estômago. A tristeza das realizações mais duras tomou-lhe os vinte dedos, os dois milhões e quatrocentos fios de cabelo, as duas pernas, os olhos tão grandes e a única boca vermelha, entreaberta. Deu um passo em direção ao lado da cama, como que para velar um doente. A perda corta as cordas e as amarelinhas, as pedrinhas de cinco marias, os panos das bonecas e uma capa vermelha.
- Você matou minha Avó?
Era e não era um pergunta. Ele inclinou ligeiramente a cabeça para baixo, sem tirar os olhos dos seus olhos. Os olhos seguravam cada um a ponta de uma vara de equilibrista. O perigo abísmico sobre a cama, ameaça vulnerável, despida, crua de animal. Os olhos negros de bicho não diferenciavam pupilas, e ela insistiu em ver melhor seu próprio reflexo no poço: deu o último passo, expondo perpendicular. Espelhada vermelha nos dois círculos negros. A barra da sua saia branca roçava de leve os cobertores. Nunca estivera tão próxima.
O tempo virou do avesso suas mangas e bolsos, desembaraçando a vastidão inerte que se alastrava. E tudo aconteceu no tempo em que um olho prepara-se para piscar. As duas bocas se abriram em espelho: A dele num rosnado de bote, dentes na velocidade de flechas brancas, afiadas como a lança na mão do selvagem, o homem em seu berro de posse, de perfuração. Sua vida pela minha, minha vida sobre a sua, por entre a sua. A dela num gemido agudo e curto, do susto sabido e fundo, de arregalar os olhos verticais e olhar de frente pela primeira vez o grande abismo. Desperta a dança, simultânea sacou invisivelmente do bolso o canivete.
Os caninos brancos apenas talharam levemente o ventre macio, afastados rapidamente pelo ardor do corte que o canivete espelhava em sua pele negra de pelos grossos. Estancou novamente o ar. Dois cortes. Feridos, ambos: Chapeuzinho via a linha vermelha cortada logo abaixo do seu umbigo, o sangue que lentamente transbordava transversal, manchando sua saia branca. Ainda tremia, segurando com força desembainhado seu canivetinho vermelho. O Lobo na cama, o corte que ela lhe abrira manchando sua carne de um vermelho vivo, superficial, excruciantemente real.
Traçada a linha, cortada a margem. Ela levou a mão ao ventre, apertado de dor. Ele retraiu um pouco o corpo de fera acuada.
Ainda segurava o canivetinho, baixava devegar o braço. O Lobo já não mostrava os dentes. Olhavam-se ainda, talvez tomados do mesmo assombro.
Quando chegasse em casa diria à Mãe que enterrara a Avó no jardim, e que o corte no ventre era dos espinhos das roseiras. Não saberia jamais explicar, e nem tentaria nunca entender o motivo do que fez em seguida. Executou as ações como se não estivesse lá, lentamente, como alguém que nunca tivesse decidido se mover: Fechou a lâmina do canivete vermelho, e ainda olhando-o nos olhos, guardou no bolso a arma. Cortou com força um pedaço do pano da saia. Deixou, dolorida, que lhe escorressem três lágrimas dos olhos, e molhou com elas o retalho. Aproximou-se calmamente e esticou a mãozinha branca na direção da figura monstruosa. Estancou com o pano branco o sangue que escorria do corte, abaixo dos olhos negros do Lobo. Ele não se moveu. Apenas o som de duas respirações, contraídas em direções opostas. Ela então soltou o pano, e percebeu tirando a outra mão do ventre, que também o seu corte estancara. Ardia.
Deu um passo atrás. É para te ver melhor.
Olhou pela última vez aqueles fundos olhos negros. Compreenderam-se, em acordo silencioso e imóvel.
Voltou-se para a porta, deixando cair dos ombros a capa vermelha. Só um vestido branco, manchado leve de sangue. Nunca mais veria a capa, nem o Lobo, nem a Avó. E depois de certo tempo, chapeuzinho vermelho sem seu capuz não faria mais sentido, e teriam de chamá-la por seu verdadeiro nome.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
trying to rid part I
Mais um pêssego, e outro, nacional tradicional e o teor coisal da minha cama eu não aguento mais. Não satisfez, eu tentei expurgar, exorcisar, voltar ao centro do que... voltar ao centro de quem?
And no I don´t oh no I don´t and no I can´t change the subject.
He´s been gone for eight years, I told her. Eight whole fucking years and the short story I wrote repeats itself as a perverted myth.
We sat some five feet from the recent grave, me and The Boy With the Callous Mind. The Boy with the Callous Mind, and the Girl of the Callous Heart. We sat there some five minutes in silence, as our own version of the funeral developed inside our eyes. Our own version of his song, and our own silent goodbye. We imagined teenly we were witnessing the sad ending of a disease we couldn´t imagine naming. The two of us, we were children, and the beggining seemed like an ending.
Of all the people to sit with that day, I sat with him. Imature for death as we were for sex, love, and all separations to come, we tortured our minds with the guilt of not having saved our loved one. And looking around at him, sitting with me, simply passed me by. We never truly understood life as it sat there, we could only grief death, as it laid.
I do not blame myself, I blame both of us. For the lack of sensibility to what really there was: life, and the shortness of breath you would one day experience. As if his testament to you: hold on to my life, as I haven´t, hold on to the wind, hold on to their hearts till you queeze their blood, and the air off their lungs. And so you did.
And we loved, though we did not know how. Me and the Boy of The Callous Mind. We loved the size of friendship and our childish arguments, we loved rainy days, and rainy cinnamon cakes. We loved the same man, and as kids we roamed in the dead of dangerous indoor nights. I took things from the Boy, he took things from me. As a pair of brother dogs, we pleeded the milk to ourselves, and we loved each other in tears. I made so many mistakes, and I needed you to understand. You made so many mistakes, and I needed you to keep away.
I´m sorry. And I still need you to be sorry.
One day, after one of the Boy´s Callous Mind-spats with my Heart, I exploded in seven million tears, and told him to leave and never come back. I despised his laughter as I did his jealousy, I felt tired and small under his enormous lack of need for niceness. For consideration. I ate stale popcorn as I watched that awfull starwars movie, and cried with the princess as she said it: "Ani, you´re breaking my heart." I imagined I watched my devilish friend becoming a monster, and then I realised my exagerated hatred and desperation. And then I didn´t realise my exageration was nothing short of true. I was scared of your ability to cause pain, as I am now. I am scared of your ability to feel pain. I am now. I kept away from your hatred and love for a blesses period of rational self-care... And I almost hate myself for it.
Whatever you did during that time, I have no record, I have no idea. I hurt you deeply, as you hurt me. I shot it all with a ridiculous bebegun, and the wounds are almost laughable. But I was right. As I was wrong.
You knew I´d come back, I always did.
Whatever he left for you, you seem to have left for me. Although you have not gone. The Boy with the Callous Mind, of a thousand faces, smiles at the moon as if he knows her. And yes, although you have gone, you have.
The perfection of that bleeding vein, the perfection, it scares me out of my mind. It scares me, worst, out of my Heart. Yes, what is this? Yes, I feel it. Whatever it is you felt, I cannot name, and I feel it. Oh dear god I plead in your inexistance, I feel the Boy´s scar, it hurts between my eyes, and I cannot hold your life in my hands. But that is a line, and it is my life, and it is all our lives, and it is also the body that´s been dead for 8 years.
Lacks air. Lacks hair. Lacks light. Exceeds, expells, extracts, and it contracts and spins down and out again. I cannot hold it, and I ask you to sit.
I had asked you to sit, hadn´t I? Then I pleeded. I kneed, and I pleaded, and prayed that you would sit. For I was tired, for I still am, for you left me with the giant lock and I am searching, and I see the door to your apartment, and I see the dusty light outside, and I feel what you felt: and I start separating them, one by one... like kettle. I start seeing the disease in them, and they scare me, and they threaten me, and they will they will all betray me. So I start separating them as kettle. I´m scared of you, and I am scared of me. As I was scared of him.
With them, there is the image of you, almost saintlike in white, and yet monster-like with eyes of Anakin turning red. I list the bad in the good, I search for the wolves amongst the sheep. And I had never been one to kill. Here I am pointing the gun at passer-bys, here I am holding tight to my pockets. Why am I you? I cry so terribly hard I cannot hear my heart anymore. I tell you to breathe. I had told you to breathe, hadn´t I?
breathe
ignore all, just breathe.
And I can´t.
What if it was me? - I scream at your face as if you´re guilty.
What if it were me behind the wind and over the window? would you have had me in your arms?! Would you have held me like I held his trembling wet body, would you!? Would you have had the guts to sit by my body, would you have held my hands and pleaded me to sit?! Would you have told me to fucking breathe?!
It is absolutely absurd to want any of this from you. You wouldn´t and you couldn´t have. And I am a spoiled brat with the notion of dual love. I am a spoiled brat and I need caring for. I am a spoiled brat and I wanted myself when I had given myself to all of you. When we were kids, and you all but me had me on my knees for your fucking saity. For your fucking love. For his fucking life. And I needed it to be me, in my own arms. I´m so sorry I left you. I´m so sorry I still consider leaving you.
"And I´m crying for things that I tell others to do without crying"
I´m scared of trust, and of my own open arms. Were his arms open as he fell? I´ve always wanted to know. I´ve always kept a secret hope that his arms were open as he fell. My unconditional love has developed into a little baby white boy, and he laughs at all my lack of will, as I try to feed it and help it survive. I am weaker, and less myself than I´ve been in years. Yet. Yet. I wonder. Would it could it possibly be the best time to find out? Maybe I don´t want to know. The door you opened that night scares the fuck out of all my organs, and I hope for a greater decision. Things are so fickle and they pass. You are as strong as the roots of your soul. I am a tree, and I want to be a tree. I want to love all of them, as I always have, and I want no more wounds to question light and water. I don´t want to wonder, I want to, as a child, walk straight into the wall, and cry my eyes out when it hurts. But your learn that walls can kill. And yes, I am scared.
And no I don´t oh no I don´t and no I can´t change the subject.
He´s been gone for eight years, I told her. Eight whole fucking years and the short story I wrote repeats itself as a perverted myth.
We sat some five feet from the recent grave, me and The Boy With the Callous Mind. The Boy with the Callous Mind, and the Girl of the Callous Heart. We sat there some five minutes in silence, as our own version of the funeral developed inside our eyes. Our own version of his song, and our own silent goodbye. We imagined teenly we were witnessing the sad ending of a disease we couldn´t imagine naming. The two of us, we were children, and the beggining seemed like an ending.
Of all the people to sit with that day, I sat with him. Imature for death as we were for sex, love, and all separations to come, we tortured our minds with the guilt of not having saved our loved one. And looking around at him, sitting with me, simply passed me by. We never truly understood life as it sat there, we could only grief death, as it laid.
I do not blame myself, I blame both of us. For the lack of sensibility to what really there was: life, and the shortness of breath you would one day experience. As if his testament to you: hold on to my life, as I haven´t, hold on to the wind, hold on to their hearts till you queeze their blood, and the air off their lungs. And so you did.
And we loved, though we did not know how. Me and the Boy of The Callous Mind. We loved the size of friendship and our childish arguments, we loved rainy days, and rainy cinnamon cakes. We loved the same man, and as kids we roamed in the dead of dangerous indoor nights. I took things from the Boy, he took things from me. As a pair of brother dogs, we pleeded the milk to ourselves, and we loved each other in tears. I made so many mistakes, and I needed you to understand. You made so many mistakes, and I needed you to keep away.
I´m sorry. And I still need you to be sorry.
One day, after one of the Boy´s Callous Mind-spats with my Heart, I exploded in seven million tears, and told him to leave and never come back. I despised his laughter as I did his jealousy, I felt tired and small under his enormous lack of need for niceness. For consideration. I ate stale popcorn as I watched that awfull starwars movie, and cried with the princess as she said it: "Ani, you´re breaking my heart." I imagined I watched my devilish friend becoming a monster, and then I realised my exagerated hatred and desperation. And then I didn´t realise my exageration was nothing short of true. I was scared of your ability to cause pain, as I am now. I am scared of your ability to feel pain. I am now. I kept away from your hatred and love for a blesses period of rational self-care... And I almost hate myself for it.
Whatever you did during that time, I have no record, I have no idea. I hurt you deeply, as you hurt me. I shot it all with a ridiculous bebegun, and the wounds are almost laughable. But I was right. As I was wrong.
You knew I´d come back, I always did.
Whatever he left for you, you seem to have left for me. Although you have not gone. The Boy with the Callous Mind, of a thousand faces, smiles at the moon as if he knows her. And yes, although you have gone, you have.
The perfection of that bleeding vein, the perfection, it scares me out of my mind. It scares me, worst, out of my Heart. Yes, what is this? Yes, I feel it. Whatever it is you felt, I cannot name, and I feel it. Oh dear god I plead in your inexistance, I feel the Boy´s scar, it hurts between my eyes, and I cannot hold your life in my hands. But that is a line, and it is my life, and it is all our lives, and it is also the body that´s been dead for 8 years.
Lacks air. Lacks hair. Lacks light. Exceeds, expells, extracts, and it contracts and spins down and out again. I cannot hold it, and I ask you to sit.
I had asked you to sit, hadn´t I? Then I pleeded. I kneed, and I pleaded, and prayed that you would sit. For I was tired, for I still am, for you left me with the giant lock and I am searching, and I see the door to your apartment, and I see the dusty light outside, and I feel what you felt: and I start separating them, one by one... like kettle. I start seeing the disease in them, and they scare me, and they threaten me, and they will they will all betray me. So I start separating them as kettle. I´m scared of you, and I am scared of me. As I was scared of him.
With them, there is the image of you, almost saintlike in white, and yet monster-like with eyes of Anakin turning red. I list the bad in the good, I search for the wolves amongst the sheep. And I had never been one to kill. Here I am pointing the gun at passer-bys, here I am holding tight to my pockets. Why am I you? I cry so terribly hard I cannot hear my heart anymore. I tell you to breathe. I had told you to breathe, hadn´t I?
breathe
ignore all, just breathe.
And I can´t.
What if it was me? - I scream at your face as if you´re guilty.
What if it were me behind the wind and over the window? would you have had me in your arms?! Would you have held me like I held his trembling wet body, would you!? Would you have had the guts to sit by my body, would you have held my hands and pleaded me to sit?! Would you have told me to fucking breathe?!
It is absolutely absurd to want any of this from you. You wouldn´t and you couldn´t have. And I am a spoiled brat with the notion of dual love. I am a spoiled brat and I need caring for. I am a spoiled brat and I wanted myself when I had given myself to all of you. When we were kids, and you all but me had me on my knees for your fucking saity. For your fucking love. For his fucking life. And I needed it to be me, in my own arms. I´m so sorry I left you. I´m so sorry I still consider leaving you.
"And I´m crying for things that I tell others to do without crying"
I´m scared of trust, and of my own open arms. Were his arms open as he fell? I´ve always wanted to know. I´ve always kept a secret hope that his arms were open as he fell. My unconditional love has developed into a little baby white boy, and he laughs at all my lack of will, as I try to feed it and help it survive. I am weaker, and less myself than I´ve been in years. Yet. Yet. I wonder. Would it could it possibly be the best time to find out? Maybe I don´t want to know. The door you opened that night scares the fuck out of all my organs, and I hope for a greater decision. Things are so fickle and they pass. You are as strong as the roots of your soul. I am a tree, and I want to be a tree. I want to love all of them, as I always have, and I want no more wounds to question light and water. I don´t want to wonder, I want to, as a child, walk straight into the wall, and cry my eyes out when it hurts. But your learn that walls can kill. And yes, I am scared.
domingo, 24 de abril de 2011
lyrics. for you to song it, babe.
She tells me she´s in love. says she´s in deep absolute fucking love. and it´s complicated.
oh dear sweet heart, sugar babe, lay lay hun, lay your head hun.
And I tell her I´d been wanting to write love, and to think love. think. such an interesting verb to do love. like some kind of violation, I´d strip it down from it´s masked feelings, and think it. plainly. sexualy, as a ghost.
I tell you, sweet pea, love is almost understandable from two miles below.
I tell you, babe, you listen, eh?
Love be almost plausible, from two miles below.
I mean icecream here out from that park, and I look me this view of clifs and clydes. I find myself at the distance of your eyes. And I see it green, you be sixteen, I am a mean mean ol gal with her spyglass and her vail.
Nah, love, chant your hours away, pray t´yar gods you may, they may come to you at night to kiss your berry lips. I, dear?
I sit over here, I see it all, from two miles below.
And I tell ya, babe, maybe it just be simplest, from two miles below.
Out this park avenue, it´s sunny day, I see them kids, them run them play.
All the little girls and boys, and all o their little toys, seem they all be stil waitin,
just waitin on you.
Love is this, that I think right now, love is this quiet sound of Knowhow,
and the lack of object, and the choke of subject,
and I flow em out, til ya see the bubbles from my pipe-organ.
From outside o´love,my darlin, from inside of every drop of it,
I think love, my darlin, I remember and I build, my darlin,
all the love you live, my darlin,
for my leaves of summer.
for my clay-made mate.
From two miles downside, from two-miles offroad,
I hitchike my away across and over
those no-lonely trays of smiley faces on park avenue
I be tellin you the truth my love.
Love is simple thought, my love. I be honest as god, I be honest to you
as you to your love:
I miss the loss of this road ahead, and I remember the swirle of life over your head. And it´s all so clear, darlin,
from two miles below.
Last night I asked him,
said honey please you do me this one favor:
I could see you walk around town with all kinds of maidens
I don´t mind the many Louises dresses in white,
I don´t mind them feelin you up real nice
I see she´s pretty sweet, that burnet Louise,
I´d treat her real nice, introduce myself, offer her a cup o´tea
hope she´s treatin you right, like once you treated me
glad she be the one by your side when it´s winter, babe
glad she´s puttin up those lights as well as me,
glad she makes you happy, babe, glad she can see.
Ain´t no irony in my friendly gaze towards her, love
aint no sarcasm when I say, love, she be doin you some good,
that sweet Louise.
But I tell you, babe,
Just don´t show up my town with that other maid,babe
Don´t stroll down my town with Johana, babe
Be it Louise, babe, she be sweet and I don´t mind.
Just don´t bring me Johana in your arms, she don´t be kind.
Don´t you dare, babe, tear me up, babe
and give her none o your fingers, mine all to her.
It aint me, or all the world.
It just be this confusing feeling, babe.
Love be this confusing thing, I told her...
Sometimes it just stings your eyes as if it was still there
sometimes there aint no figuring out our own affairs.
I just ask him: do me this favor, babe
don´t you go givin your smile
To Johana´s likes, babe.
that be all, babe, that be all.
And she told me she´s in love. Darlin, dear me. I can think of what you feel, and I love the deep indeed of all this that has gone, and I love me what comes. I can tell you the view of a few clues from up here, babe. The smile on my face from lovin no place from up here babe. The want of a lifetime, the heart of a gaze, from up here babe,
from two miles up.
oh dear sweet heart, sugar babe, lay lay hun, lay your head hun.
And I tell her I´d been wanting to write love, and to think love. think. such an interesting verb to do love. like some kind of violation, I´d strip it down from it´s masked feelings, and think it. plainly. sexualy, as a ghost.
I tell you, sweet pea, love is almost understandable from two miles below.
I tell you, babe, you listen, eh?
Love be almost plausible, from two miles below.
I mean icecream here out from that park, and I look me this view of clifs and clydes. I find myself at the distance of your eyes. And I see it green, you be sixteen, I am a mean mean ol gal with her spyglass and her vail.
Nah, love, chant your hours away, pray t´yar gods you may, they may come to you at night to kiss your berry lips. I, dear?
I sit over here, I see it all, from two miles below.
And I tell ya, babe, maybe it just be simplest, from two miles below.
Out this park avenue, it´s sunny day, I see them kids, them run them play.
All the little girls and boys, and all o their little toys, seem they all be stil waitin,
just waitin on you.
Love is this, that I think right now, love is this quiet sound of Knowhow,
and the lack of object, and the choke of subject,
and I flow em out, til ya see the bubbles from my pipe-organ.
From outside o´love,my darlin, from inside of every drop of it,
I think love, my darlin, I remember and I build, my darlin,
all the love you live, my darlin,
for my leaves of summer.
for my clay-made mate.
From two miles downside, from two-miles offroad,
I hitchike my away across and over
those no-lonely trays of smiley faces on park avenue
I be tellin you the truth my love.
Love is simple thought, my love. I be honest as god, I be honest to you
as you to your love:
I miss the loss of this road ahead, and I remember the swirle of life over your head. And it´s all so clear, darlin,
from two miles below.
Last night I asked him,
said honey please you do me this one favor:
I could see you walk around town with all kinds of maidens
I don´t mind the many Louises dresses in white,
I don´t mind them feelin you up real nice
I see she´s pretty sweet, that burnet Louise,
I´d treat her real nice, introduce myself, offer her a cup o´tea
hope she´s treatin you right, like once you treated me
glad she be the one by your side when it´s winter, babe
glad she´s puttin up those lights as well as me,
glad she makes you happy, babe, glad she can see.
Ain´t no irony in my friendly gaze towards her, love
aint no sarcasm when I say, love, she be doin you some good,
that sweet Louise.
But I tell you, babe,
Just don´t show up my town with that other maid,babe
Don´t stroll down my town with Johana, babe
Be it Louise, babe, she be sweet and I don´t mind.
Just don´t bring me Johana in your arms, she don´t be kind.
Don´t you dare, babe, tear me up, babe
and give her none o your fingers, mine all to her.
It aint me, or all the world.
It just be this confusing feeling, babe.
Love be this confusing thing, I told her...
Sometimes it just stings your eyes as if it was still there
sometimes there aint no figuring out our own affairs.
I just ask him: do me this favor, babe
don´t you go givin your smile
To Johana´s likes, babe.
that be all, babe, that be all.
And she told me she´s in love. Darlin, dear me. I can think of what you feel, and I love the deep indeed of all this that has gone, and I love me what comes. I can tell you the view of a few clues from up here, babe. The smile on my face from lovin no place from up here babe. The want of a lifetime, the heart of a gaze, from up here babe,
from two miles up.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
unfinished
There are winters that last years,
There are nights that last for months
There are places in the world where the dark skies are filled with colorfull lights from a chilling reality,
that people of the summer lands could only call fantasy.
Rules do not aply.
Repetition does not indicate prediction,
and that harsh knowledge is pushed away by rules,
that do not aply.
There are flowers that grow under feet of snow.
As I watched it fall, from the window of a temporary home, summer would change into winter in hours of sleep. Because rules do not aply.
As I fled summer into winter, rules of continuous time, of cicles, rules of passages and phases, melted into ice.
There are nights that last for months
There are places in the world where the dark skies are filled with colorfull lights from a chilling reality,
that people of the summer lands could only call fantasy.
Rules do not aply.
Repetition does not indicate prediction,
and that harsh knowledge is pushed away by rules,
that do not aply.
There are flowers that grow under feet of snow.
As I watched it fall, from the window of a temporary home, summer would change into winter in hours of sleep. Because rules do not aply.
As I fled summer into winter, rules of continuous time, of cicles, rules of passages and phases, melted into ice.
domingo, 10 de abril de 2011
religious thought
A "new" (nothing is new) view on Creation:
In his Unbearable Lightness of Being, Kundera explains that while humans come from other humans, characters are created from an image. A new belief starts to take over me, inevitable, as I embrace and accept more and more my love for those that have created, before me, the image and the words of me. While human bodies may very well come from the combination of other two human bodies... (And I thank my mother and father for their great love to each other, lasting however long it lasted)
All of the rest of a human existence cannot, to me, be reduced anymore to the studies of pshycology. While the human body is created of the human body, so many other parts of the self are, I now believe, created from pieces of the world, that may or may not have been accessed by those called our parents. Works of art, acts of love, random life moments, experiences lived and manufactured by other beings, in moments past may have the beauty and strenghth to create a fragment of someone to come. Fragments of an existence that excedes that specific moment and shines into some other form of being, in whatever random time or space.
Maybe we can divide the idea of epiphany into two: the epiphany of creation, and the epiphany of reception. (Dealing here with the art-related idea of epiphany, since I do not yet comprehend greater meanings). The epiphany of creation is the moment in which the brief experience of the divine is translated into a creation of art: words to a poem or prose, a perfect shot for a photographer, the precise brushstroke or line, a sequence of movements... That one "inspiration" moment that makes creation of something REAL possible. In art, epiphany is possible not only in a creative moment, but also as a receptive epiphany: when the work of some other inspired soul touches you so deeply and imediately that you feel you have seen in it... truth. It is not mere "relating" rationaly to the work of art, it is not subtle "identifying" something of yours, and of the world in it. It is the great moment when you experience that particular work as it is, as it may be, as a whole. Sometimes it feels as a fast glimpse into a mirror. Not an ilusive inverted mirror, but a real mirror. What I believe now is that the moment of receptive epiphany is IN FACT a glimpse into one´s creation. One sees in that particular artistical fragment, a detail in one´s creation. Sometimes I am absolutely certain, when reading very specific words put together by Ana C, or Virginia, or lately Patti, that some parts of my existence have been created by precisely those words.
Maybe the receptive epiphany is not a vision of god, but a vision of our partial creator: that exact moment without which our existence, as it is, would not be possible. A glance at one´s self. I look at a specific Paul Klee painting, and I am sure for a fragment of a second, to have seen myself in it´s most crude form; to have seen a beam of light responsible for one of the cells of my existence, of my soul, of my experience.
I have come to believe that parts of my life and experience, personality and coincidences, reactions and loves have been created by fragments of someone´s life, in it´s artistical form.
Just to have it registered, a self-memo, this was the phrase that brought one spcific part of me to life:
"I learned from him that often contradiction is the clearest way to truth"
by miss Patti Smith, to whom I would, if I could, dedicate entirely this new belief.
In his Unbearable Lightness of Being, Kundera explains that while humans come from other humans, characters are created from an image. A new belief starts to take over me, inevitable, as I embrace and accept more and more my love for those that have created, before me, the image and the words of me. While human bodies may very well come from the combination of other two human bodies... (And I thank my mother and father for their great love to each other, lasting however long it lasted)
All of the rest of a human existence cannot, to me, be reduced anymore to the studies of pshycology. While the human body is created of the human body, so many other parts of the self are, I now believe, created from pieces of the world, that may or may not have been accessed by those called our parents. Works of art, acts of love, random life moments, experiences lived and manufactured by other beings, in moments past may have the beauty and strenghth to create a fragment of someone to come. Fragments of an existence that excedes that specific moment and shines into some other form of being, in whatever random time or space.
Maybe we can divide the idea of epiphany into two: the epiphany of creation, and the epiphany of reception. (Dealing here with the art-related idea of epiphany, since I do not yet comprehend greater meanings). The epiphany of creation is the moment in which the brief experience of the divine is translated into a creation of art: words to a poem or prose, a perfect shot for a photographer, the precise brushstroke or line, a sequence of movements... That one "inspiration" moment that makes creation of something REAL possible. In art, epiphany is possible not only in a creative moment, but also as a receptive epiphany: when the work of some other inspired soul touches you so deeply and imediately that you feel you have seen in it... truth. It is not mere "relating" rationaly to the work of art, it is not subtle "identifying" something of yours, and of the world in it. It is the great moment when you experience that particular work as it is, as it may be, as a whole. Sometimes it feels as a fast glimpse into a mirror. Not an ilusive inverted mirror, but a real mirror. What I believe now is that the moment of receptive epiphany is IN FACT a glimpse into one´s creation. One sees in that particular artistical fragment, a detail in one´s creation. Sometimes I am absolutely certain, when reading very specific words put together by Ana C, or Virginia, or lately Patti, that some parts of my existence have been created by precisely those words.
Maybe the receptive epiphany is not a vision of god, but a vision of our partial creator: that exact moment without which our existence, as it is, would not be possible. A glance at one´s self. I look at a specific Paul Klee painting, and I am sure for a fragment of a second, to have seen myself in it´s most crude form; to have seen a beam of light responsible for one of the cells of my existence, of my soul, of my experience.
I have come to believe that parts of my life and experience, personality and coincidences, reactions and loves have been created by fragments of someone´s life, in it´s artistical form.
Just to have it registered, a self-memo, this was the phrase that brought one spcific part of me to life:
"I learned from him that often contradiction is the clearest way to truth"
by miss Patti Smith, to whom I would, if I could, dedicate entirely this new belief.
quarta-feira, 30 de março de 2011
errei a mira teórica e des-colhi pêssegos
mordida de pêssego pra ver se forra a camada a cimentar de teoria obrigatória, visceral, deliciosa, e mortalmente diária.
nunca estou escrevendo quando escrevo. Quase sempre dirigindo. Começo uma corrida sem respirar pra ver se não me perco, mas em casa desidealizo, e aí então às favas as palavras e as coisas. Todas tão inteiras. E dá uma fome do tamanho de mim. Uma fome de dizer, pra dentro e pra fora, de comer todas as nectarinas e pêssegos do mundo. Se eu fosse digna de estudo, tentariam descobrir a metáfora... mas já me esqueci. E acho muito cômico, como criança perdendo a frase na metade. Não tinha importância, e é essa a graça.
então fico no sobre-aviso a mim. Warning: não estou escrevendo.
teoria platônica, porque as paixões que Ana me causa não permitem pensamento reto de nenhuma espécie. E tenho que fugir da biblioteca, porque não pode entrar em combustão, nem começar a chorar na biblioteca (boys don´t cry at the library), em cima do livro que eu devia estar estudando e não deglutindo, desarmando, descabelando, vestindo, amando, fermentando, re-gestando, sorvendo, lambendo, cozendo, umedecendo, descabendo, cochichando, gargarejando e sendo.
Fujo e desteorizo, tentada e incontrolada. Não foi minha culpa. Tenho raiva dela a ponto de me dar tesão pela tentação de amá-la e incompreendê-la na sua infinita simplicidade que eu poderia muito bem ter escrito, porque é exatamente-me. Uma admiração do tamanho de um omicídio.
rasgo, transgressora clandestina um pedaço do caderno-todo-certinho fingindo que ninguém me vê:
Toda vez que eu releio Ana C dá essa sensação que mensagem de texto é poesia, uma vontade de levantar e gritar e rasgasr o mundo em 60 pedaços. Rasgar na fibra do mundo uma grande vagina, um sorriso de pé. E um abrir de braços que ninguém nessa biblioteca ia entender, mas ia dar pra respirar muito. Gastar um rasgo imenso e gritar "Eu Te Amo!", com um grito setentista quase sem destinatário que chora e ri de esplêndidos explêndidos berros. "eu te amo" e você não precisa me amar de volta, só precisa mesmo me querer bem.
e ler minhas cartas.
Gasgar um rasgo imenso e gritar "Eu Te Amo!", com um grito setentista quase sem destinatário
um destinatário passado, repassado antigo, scorso, mal-passado do ponto a ponto de não ter mais pedaço de gente ali no fim daquele fio de barbante-telefone que cruza um oceano inteiro. Acaba o outrolado, passa o destinatário passado num trem velho, e fica o "eu te amo", que nem brigadeiro que sobrou da festa. E eu estou mesmo afim de dar o brigadeiro que sobrou da festa no dia seguinte prum algum anti-lobo anti-príncipe que soubesseriará nada de novo, o endereço de casa, e passa de manhã, na manhã do dia seguinte. Aguardo.
quando danço mal, de manhã, quando tango errado porque ainda prendo-me em pernas e erro o abraço, morro de vontade de chorar. e daí passa. Eu não gosto mesmo de acabar, fico deixando esse e que começa-me
nunca estou escrevendo quando escrevo. Quase sempre dirigindo. Começo uma corrida sem respirar pra ver se não me perco, mas em casa desidealizo, e aí então às favas as palavras e as coisas. Todas tão inteiras. E dá uma fome do tamanho de mim. Uma fome de dizer, pra dentro e pra fora, de comer todas as nectarinas e pêssegos do mundo. Se eu fosse digna de estudo, tentariam descobrir a metáfora... mas já me esqueci. E acho muito cômico, como criança perdendo a frase na metade. Não tinha importância, e é essa a graça.
então fico no sobre-aviso a mim. Warning: não estou escrevendo.
teoria platônica, porque as paixões que Ana me causa não permitem pensamento reto de nenhuma espécie. E tenho que fugir da biblioteca, porque não pode entrar em combustão, nem começar a chorar na biblioteca (boys don´t cry at the library), em cima do livro que eu devia estar estudando e não deglutindo, desarmando, descabelando, vestindo, amando, fermentando, re-gestando, sorvendo, lambendo, cozendo, umedecendo, descabendo, cochichando, gargarejando e sendo.
Fujo e desteorizo, tentada e incontrolada. Não foi minha culpa. Tenho raiva dela a ponto de me dar tesão pela tentação de amá-la e incompreendê-la na sua infinita simplicidade que eu poderia muito bem ter escrito, porque é exatamente-me. Uma admiração do tamanho de um omicídio.
rasgo, transgressora clandestina um pedaço do caderno-todo-certinho fingindo que ninguém me vê:
Toda vez que eu releio Ana C dá essa sensação que mensagem de texto é poesia, uma vontade de levantar e gritar e rasgasr o mundo em 60 pedaços. Rasgar na fibra do mundo uma grande vagina, um sorriso de pé. E um abrir de braços que ninguém nessa biblioteca ia entender, mas ia dar pra respirar muito. Gastar um rasgo imenso e gritar "Eu Te Amo!", com um grito setentista quase sem destinatário que chora e ri de esplêndidos explêndidos berros. "eu te amo" e você não precisa me amar de volta, só precisa mesmo me querer bem.
e ler minhas cartas.
Gasgar um rasgo imenso e gritar "Eu Te Amo!", com um grito setentista quase sem destinatário
um destinatário passado, repassado antigo, scorso, mal-passado do ponto a ponto de não ter mais pedaço de gente ali no fim daquele fio de barbante-telefone que cruza um oceano inteiro. Acaba o outrolado, passa o destinatário passado num trem velho, e fica o "eu te amo", que nem brigadeiro que sobrou da festa. E eu estou mesmo afim de dar o brigadeiro que sobrou da festa no dia seguinte prum algum anti-lobo anti-príncipe que soubesseriará nada de novo, o endereço de casa, e passa de manhã, na manhã do dia seguinte. Aguardo.
quando danço mal, de manhã, quando tango errado porque ainda prendo-me em pernas e erro o abraço, morro de vontade de chorar. e daí passa. Eu não gosto mesmo de acabar, fico deixando esse e que começa-me
domingo, 13 de março de 2011
O poeta é um amador
é um rascunho, mas me importa, me interessa:
Literatura é arte? Era provavelmente a pergunta de uma pré-adolescente, ou de um arte-educador sem originalidade, tentando criar conversas pseudo-espontâneas com o público de uma das obras de uma exposição de artes visuais, que consistia num poema escrito em letras supostamente brilhantes em uma grande parede. Talvez ela fosse eu. A pergunta (tendo ouvido, ou feito -porque afinal quando se faz uma pergunta, tomando-se um certo cuidado, acaba-se logo em seguida por ouvi-la-) a pergunta me soou imensamente estúpida. O que mais seria literatura se não arte? Afinal ela não está entre as tais sete, listada, catalogada, devidamente ordenada e enclausurada? Pois bem! E então, se literatura é de fato arte, como me disse a dona Carminha, minha professora da terceira série; o escritor é um artista. Certo?
Acontece então que, ao pensar na resposta aparentemente óbvia, me deparei com um seríssimo problema. Não sei ainda afirmar se é um problema nacional, ou se chega a atingir dimensões mundiais, mas suas conseqüências são, a meu ver, socialmente gravíssimas! (Faça-me o leitor o favor amável de ignorar o tom irônico com que meus dedos insistiram em redigir esses pensamentos. Conseqüência tola e infantil da reação emotiva que me causa o tópico) Ao que interessa: O gravíssimo problema ao qual me refiro é o fato que... não, o escritor aparentemente não é um artista. O escritor é advogado, desembargador, dona de casa, etc etc etc.
O que eu insisto em me perguntar é: O que há na nossa sociedade brasileira que ainda nos faz ver a atividade do escritor como atividade amadora, desvinculada de sua profissão? Sim, pois bem, há dentre nós tantos escritores renomados, valorizados até exclusivamente por sua escrita, que jamais sequer tocaram num processo, pisaram num tribunal, ou exerceram qualquer que fosse a profissão determinada por sua formação. E a estes chamamos escritores. Nós leitores os chamamos escritores. Nós críticos os chamamos escritores. Mas burocraticamente, seus diplomas, os dados fiscais, ou qualquer cazzo que importe em termos de documentos formais ligados à universidade, os chamam ainda advogados, matemáticos, dentistas, eu sei lá.
Não, acalmem-se, não estou de forma alguma tentando dar um valor desnecessário e definitivamente datado à tal famigerada graduação. Uma das profissionais que mais admiro é formada em artes cênicas, e leciona filosofia; enquanto outras de formação em cinema e comunicações exercem a psicanálise, e vice versa, os exemplos são infinitos, e vêm crescendo graças a não sei bem que deidade da tal “interdisciplinariedade”. Entretanto me parece significativo o fato de não termos um curso superior para formar escritores. Está bem, meu conhecimento é de fato muitíssimo restrito para estender essa afirmação para além do meu pequeno círculo de convívio. Pois bem, tomemos como exemplo apenas a tão renomada Universidade de São Paulo. Determinando-se que literatura é arte, imaginaríamos, portanto, que na ECA, Escola de Comunicação e Artes da USP, haveria um prédio, ou ao menos o currículo de um curso reservado à milenar arte literária. A arte de Homero, afinal! O ator, o roteirista, o designer gráfico, o diretor de teatro, TV, cinema, o pintor, o escultor, o publicitário, e veja bem até o biblioteconomista têm seu curso, com disciplinas obrigatórias e optativas, vagas limitadas e dificuldade xis ou y pra passar no vestibular da ECA. Não estou esquecendo os dramaturgos, também habilitados pela ECA. (Além desse detalhe não amenizar a questão, a meu ver, a torna mais grave, já que o dramaturgo é um grupo muito específico dentro do que costumamos chamar escritores.) E tentemos buscar fora da Escola de Comunicação e Artes, então.
Qualquer um que já tenha passado pelo tal “ciclo básico” (primeiro ano) da Letras, na FFLCH, dirá que se há algo que se aprende em relação a uma produção própria de talvez-possível-literatura na faculdade, é que ela deve ser inteiramente descartada e desconsiderada. O que aprendemos logo de cara, é que aquilo que fazem os grandes, a quem tentamos romanticamente imitar aos 14, 15, 16 anos, é imensamente mais complexo, magnânimo, incrível e inatingível do que já imaginávamos. É o grande fenômeno writter´s block em massa de todos os pós-adolescentes recém saídos do mundo do colegial ou do cursinho, que aspiraram algum dia estudar literatura, para fazer literatura.
Honestamente, acho esse choque inicial muito positivo, e extremamente necessário. Talvez um tapa na cara não faça de fato mal para começar a olhar para a arte que se quer fazer com outros olhos, menos ingênuos. Seria sim um absurdo julgar categoricamente a literatura dos diários adolescentes como não-literatura, e a discussão do que é ou não é arte, não é a que interessa no momento (apesar de ter começado o texto justamente com uma pergunta análoga, mas isso é apenas um recurso de uma não-escritora para introduzir aos seus não-leitores uma discussão já tão começada e recomeçada que não parece ter começo) Pois bem, acho sim que esse bloqueio inicial dos alunos de primeiro ano, saindo fresquinhos do forno, é algo necessário. Afinal se concordarmos (e eu concordo) com Valery, que todo escritor deve ser também crítico; talvez o primeiro passo seja de fato o questionamento daquilo que se pretendia como futuro escritor. Pode ser tradicionalismo meu, mas acredito que uma boa dose de humildade perante o caminho que se pretende trilhar (seja na arte, ou numa empreitada de dirigir 20 horas seguidas numa estrada de mão única, por exemplo), não vá mal a ninguém.
Entretanto, essa dose inicial de sentimento do sublime perante A Literatura, que vive o aspirante a escritor cursando a faculdade de Letras da USP, ao invés de se tornar combustível para estudo, pesquisa, tentativa e erro e erro e erro e erro; acaba tornando-se silêncio absoluto, que beira o trauma. Talvez exagere, mas apenas no tom, porque o efeito de fato é visível, paupavel, sentido quase no ar. Aquilo que poderia ter se tornado terreno de exploração, crítica, estudo para uma produção própria acaba se transformando em quintal baldio, humildade subvertida em auto-depreciação. Acho de fato uma pena que a instituição de ensino, ao invés de incentivar uma produção consciente, dotada da possibilidade de estudo e crítica simultâneos à produção literária, incentive apenas a forma acadêmica, a teorização, a crítica. E de preferência a crítica a tudo aquilo que já tenha sido criticado e re-criticado, canonizado, de forma que o aluno forme-se um excelente organizador de fortuna crítica, mestre em compreender minuciosamente apenas aquilo que já foi catalogado por outros, maiores que ele.
Sim, poderia resumir minha crítica ao fato que a faculdade que curso (há tanto tempo que já acredito poder falar de um lugar quase de fora) não possui nenhuma espécie de disciplina ligada à produção de literatura, à chamada por alguns cursos livres de “escrita criativa”, à produção própria de literatura do aluno. Mas isso é apenas um detalhe, ou melhor, uma conseqüência da grande questão. O que é que se preenche no campo “profissão” no formulário do dentista, quando se é graduado em Letras? Literato? Professor? Crítico? Duvido que alguém, por simples lógica, preencha “escritor”. Não, a Letras não forma escritores, como a Faculdade de Artes Cênicas forma “atores”, “dramaturgos”, “diretores de teatro” ou como a Poli forma “engenheiros”.
Mais uma vez gostaria de reiterar: talvez uma formação de escritor não fosse a melhor escolha para um indivíduo que desejasse com toda sua mais profunda paixão dedicar-se à literatura; assim como não necessariamente é a faculdade de Artes Visuais que de fato forma um artista plástico. A questão aqui levantada não é a melhor ou mais adequada (que terrível expressão) forma de se aprender ou desenvolver uma determinada atividade, artística ou não. A questão é o motivo e as conseqüências do fato que aparentemente, academicamente e institucionalmente, o escritor ainda é colocado num lugar de amador; ou mais problemático que isso, de gênio, dono de um conhecimento individual e impossível de ser compartilhado.
A meu ver, uma das difíceis conseqüências desse lugar distanciado da figura do escritor, é a distância entre a crítica e a literatura. Aprendemos a desvalorizar com os melhores e mais embasados argumentos, grande parte da literatura que surge contemporaneamente, da literatura bem recebida pela Folha de São Paulo, da literatura das vitrines da Livraria da Vila, dos Best-sellers. Nós, da Letras, criticamos ascépticos cada um dos recém auto-denominados escritores por sua falta de profundidade, interesse, matéria “artística”. A prática e a teoria estão mesmo tão distantes? Sou a primeira a meter o dedo na publicação alheia, na palestra supostamente realizada para discutir processo criativo, em que acaba por se dizer que é este um processo “muito pessoal”, “intransferível”, “inexplicável”, e se mantém o autor num lugar intocável, de quem no fundo não tem nada a dizer. Sou também a primeira a reclamar a falta de consciência crítica, do rigor ou do simples interesse de tanta literatura feita por aí. Sinto raiva da raiva ao crítico, entro na dança e sinto raiva da consciência pouco pesada de tantos que parecem escrever sem ler. Escreveu, não leu... Mas a ordem é inversa. Nem todo escritor deve ser crítico? Nem todo crítico precisa ser escritor. Mas a serviço de quê está esse muro acadêmico? Ou melhor, a serviço de quê está o não-lugar acadêmico vivido pelo nosso amigo fantasma escritor?
Por quê acredita-se que se torne um melhor músico aquele que estuda música, e um melhor ator aquele que estuda (inclusive na sua teoria e história) o teatro; mas não se associa o estudo da literatura à boa produção literária? Não quero passar uma impressão conservadora que determina previamente que o bom escritor será o estudioso de literatura (isso seria inclusive a meu ver uma afirmação dura e errônea), apenas questionar o por quê do distanciamento tão imenso entre a crítica, a teoria, e o fazer literário. É como se crítico e escritor dividissem de forma sagrada um trabalho que toca a ambos como espécie de time, mas no qual é expressamente proibido a um fazer o trabalho do outro.
É de fato uma curiosidade levemente preocupada o que me move nessa reflexão. Não tenho ainda (e me pareceria estranho ter) hipóteses bem embasadas para comprovar, teorias a argumentar. Resta-me apenas essa vontade de diálogo a respeito, essa necessidade de compreender quais são as implicações desse lugar isolado no qual foi metida a figura ranzinza e solitária, essa espécie de gênio de talento inexplicável não “ensinavel”, no qual francamente não acredito. Se tantos artistas reconhecidos a menos tempo na história que o escritor, lutaram por um espaço acadêmico, por um lugar de troca e formação, por não ter mais o glamour e o peso das artes ditas dons que se nasce possuindo, aprende sozinho, aprende fazendo... A serviço de quê está esse afastamento da arte da escrita de sua teoria, de sua crítica, de seu estudo? A serviço de quê formamos críticos e teóricos com máscaras estereotípicas de frustrados e amargos, prontos a detonar seus inimigos artistas incompreendidos, tantas vezes cobrados justamente na sua falta de diálogo com a teoria?
Me incomodam profundamente tanto a imagem estereotípica do crítico mal amado e amargurado, quanto do escritor gênio incompreendido e inatingível. Me parece que a ambos falta a liberdade de ser, ao menos por vezes, justamente o outro.
Literatura é arte? Era provavelmente a pergunta de uma pré-adolescente, ou de um arte-educador sem originalidade, tentando criar conversas pseudo-espontâneas com o público de uma das obras de uma exposição de artes visuais, que consistia num poema escrito em letras supostamente brilhantes em uma grande parede. Talvez ela fosse eu. A pergunta (tendo ouvido, ou feito -porque afinal quando se faz uma pergunta, tomando-se um certo cuidado, acaba-se logo em seguida por ouvi-la-) a pergunta me soou imensamente estúpida. O que mais seria literatura se não arte? Afinal ela não está entre as tais sete, listada, catalogada, devidamente ordenada e enclausurada? Pois bem! E então, se literatura é de fato arte, como me disse a dona Carminha, minha professora da terceira série; o escritor é um artista. Certo?
Acontece então que, ao pensar na resposta aparentemente óbvia, me deparei com um seríssimo problema. Não sei ainda afirmar se é um problema nacional, ou se chega a atingir dimensões mundiais, mas suas conseqüências são, a meu ver, socialmente gravíssimas! (Faça-me o leitor o favor amável de ignorar o tom irônico com que meus dedos insistiram em redigir esses pensamentos. Conseqüência tola e infantil da reação emotiva que me causa o tópico) Ao que interessa: O gravíssimo problema ao qual me refiro é o fato que... não, o escritor aparentemente não é um artista. O escritor é advogado, desembargador, dona de casa, etc etc etc.
O que eu insisto em me perguntar é: O que há na nossa sociedade brasileira que ainda nos faz ver a atividade do escritor como atividade amadora, desvinculada de sua profissão? Sim, pois bem, há dentre nós tantos escritores renomados, valorizados até exclusivamente por sua escrita, que jamais sequer tocaram num processo, pisaram num tribunal, ou exerceram qualquer que fosse a profissão determinada por sua formação. E a estes chamamos escritores. Nós leitores os chamamos escritores. Nós críticos os chamamos escritores. Mas burocraticamente, seus diplomas, os dados fiscais, ou qualquer cazzo que importe em termos de documentos formais ligados à universidade, os chamam ainda advogados, matemáticos, dentistas, eu sei lá.
Não, acalmem-se, não estou de forma alguma tentando dar um valor desnecessário e definitivamente datado à tal famigerada graduação. Uma das profissionais que mais admiro é formada em artes cênicas, e leciona filosofia; enquanto outras de formação em cinema e comunicações exercem a psicanálise, e vice versa, os exemplos são infinitos, e vêm crescendo graças a não sei bem que deidade da tal “interdisciplinariedade”. Entretanto me parece significativo o fato de não termos um curso superior para formar escritores. Está bem, meu conhecimento é de fato muitíssimo restrito para estender essa afirmação para além do meu pequeno círculo de convívio. Pois bem, tomemos como exemplo apenas a tão renomada Universidade de São Paulo. Determinando-se que literatura é arte, imaginaríamos, portanto, que na ECA, Escola de Comunicação e Artes da USP, haveria um prédio, ou ao menos o currículo de um curso reservado à milenar arte literária. A arte de Homero, afinal! O ator, o roteirista, o designer gráfico, o diretor de teatro, TV, cinema, o pintor, o escultor, o publicitário, e veja bem até o biblioteconomista têm seu curso, com disciplinas obrigatórias e optativas, vagas limitadas e dificuldade xis ou y pra passar no vestibular da ECA. Não estou esquecendo os dramaturgos, também habilitados pela ECA. (Além desse detalhe não amenizar a questão, a meu ver, a torna mais grave, já que o dramaturgo é um grupo muito específico dentro do que costumamos chamar escritores.) E tentemos buscar fora da Escola de Comunicação e Artes, então.
Qualquer um que já tenha passado pelo tal “ciclo básico” (primeiro ano) da Letras, na FFLCH, dirá que se há algo que se aprende em relação a uma produção própria de talvez-possível-literatura na faculdade, é que ela deve ser inteiramente descartada e desconsiderada. O que aprendemos logo de cara, é que aquilo que fazem os grandes, a quem tentamos romanticamente imitar aos 14, 15, 16 anos, é imensamente mais complexo, magnânimo, incrível e inatingível do que já imaginávamos. É o grande fenômeno writter´s block em massa de todos os pós-adolescentes recém saídos do mundo do colegial ou do cursinho, que aspiraram algum dia estudar literatura, para fazer literatura.
Honestamente, acho esse choque inicial muito positivo, e extremamente necessário. Talvez um tapa na cara não faça de fato mal para começar a olhar para a arte que se quer fazer com outros olhos, menos ingênuos. Seria sim um absurdo julgar categoricamente a literatura dos diários adolescentes como não-literatura, e a discussão do que é ou não é arte, não é a que interessa no momento (apesar de ter começado o texto justamente com uma pergunta análoga, mas isso é apenas um recurso de uma não-escritora para introduzir aos seus não-leitores uma discussão já tão começada e recomeçada que não parece ter começo) Pois bem, acho sim que esse bloqueio inicial dos alunos de primeiro ano, saindo fresquinhos do forno, é algo necessário. Afinal se concordarmos (e eu concordo) com Valery, que todo escritor deve ser também crítico; talvez o primeiro passo seja de fato o questionamento daquilo que se pretendia como futuro escritor. Pode ser tradicionalismo meu, mas acredito que uma boa dose de humildade perante o caminho que se pretende trilhar (seja na arte, ou numa empreitada de dirigir 20 horas seguidas numa estrada de mão única, por exemplo), não vá mal a ninguém.
Entretanto, essa dose inicial de sentimento do sublime perante A Literatura, que vive o aspirante a escritor cursando a faculdade de Letras da USP, ao invés de se tornar combustível para estudo, pesquisa, tentativa e erro e erro e erro e erro; acaba tornando-se silêncio absoluto, que beira o trauma. Talvez exagere, mas apenas no tom, porque o efeito de fato é visível, paupavel, sentido quase no ar. Aquilo que poderia ter se tornado terreno de exploração, crítica, estudo para uma produção própria acaba se transformando em quintal baldio, humildade subvertida em auto-depreciação. Acho de fato uma pena que a instituição de ensino, ao invés de incentivar uma produção consciente, dotada da possibilidade de estudo e crítica simultâneos à produção literária, incentive apenas a forma acadêmica, a teorização, a crítica. E de preferência a crítica a tudo aquilo que já tenha sido criticado e re-criticado, canonizado, de forma que o aluno forme-se um excelente organizador de fortuna crítica, mestre em compreender minuciosamente apenas aquilo que já foi catalogado por outros, maiores que ele.
Sim, poderia resumir minha crítica ao fato que a faculdade que curso (há tanto tempo que já acredito poder falar de um lugar quase de fora) não possui nenhuma espécie de disciplina ligada à produção de literatura, à chamada por alguns cursos livres de “escrita criativa”, à produção própria de literatura do aluno. Mas isso é apenas um detalhe, ou melhor, uma conseqüência da grande questão. O que é que se preenche no campo “profissão” no formulário do dentista, quando se é graduado em Letras? Literato? Professor? Crítico? Duvido que alguém, por simples lógica, preencha “escritor”. Não, a Letras não forma escritores, como a Faculdade de Artes Cênicas forma “atores”, “dramaturgos”, “diretores de teatro” ou como a Poli forma “engenheiros”.
Mais uma vez gostaria de reiterar: talvez uma formação de escritor não fosse a melhor escolha para um indivíduo que desejasse com toda sua mais profunda paixão dedicar-se à literatura; assim como não necessariamente é a faculdade de Artes Visuais que de fato forma um artista plástico. A questão aqui levantada não é a melhor ou mais adequada (que terrível expressão) forma de se aprender ou desenvolver uma determinada atividade, artística ou não. A questão é o motivo e as conseqüências do fato que aparentemente, academicamente e institucionalmente, o escritor ainda é colocado num lugar de amador; ou mais problemático que isso, de gênio, dono de um conhecimento individual e impossível de ser compartilhado.
A meu ver, uma das difíceis conseqüências desse lugar distanciado da figura do escritor, é a distância entre a crítica e a literatura. Aprendemos a desvalorizar com os melhores e mais embasados argumentos, grande parte da literatura que surge contemporaneamente, da literatura bem recebida pela Folha de São Paulo, da literatura das vitrines da Livraria da Vila, dos Best-sellers. Nós, da Letras, criticamos ascépticos cada um dos recém auto-denominados escritores por sua falta de profundidade, interesse, matéria “artística”. A prática e a teoria estão mesmo tão distantes? Sou a primeira a meter o dedo na publicação alheia, na palestra supostamente realizada para discutir processo criativo, em que acaba por se dizer que é este um processo “muito pessoal”, “intransferível”, “inexplicável”, e se mantém o autor num lugar intocável, de quem no fundo não tem nada a dizer. Sou também a primeira a reclamar a falta de consciência crítica, do rigor ou do simples interesse de tanta literatura feita por aí. Sinto raiva da raiva ao crítico, entro na dança e sinto raiva da consciência pouco pesada de tantos que parecem escrever sem ler. Escreveu, não leu... Mas a ordem é inversa. Nem todo escritor deve ser crítico? Nem todo crítico precisa ser escritor. Mas a serviço de quê está esse muro acadêmico? Ou melhor, a serviço de quê está o não-lugar acadêmico vivido pelo nosso amigo fantasma escritor?
Por quê acredita-se que se torne um melhor músico aquele que estuda música, e um melhor ator aquele que estuda (inclusive na sua teoria e história) o teatro; mas não se associa o estudo da literatura à boa produção literária? Não quero passar uma impressão conservadora que determina previamente que o bom escritor será o estudioso de literatura (isso seria inclusive a meu ver uma afirmação dura e errônea), apenas questionar o por quê do distanciamento tão imenso entre a crítica, a teoria, e o fazer literário. É como se crítico e escritor dividissem de forma sagrada um trabalho que toca a ambos como espécie de time, mas no qual é expressamente proibido a um fazer o trabalho do outro.
É de fato uma curiosidade levemente preocupada o que me move nessa reflexão. Não tenho ainda (e me pareceria estranho ter) hipóteses bem embasadas para comprovar, teorias a argumentar. Resta-me apenas essa vontade de diálogo a respeito, essa necessidade de compreender quais são as implicações desse lugar isolado no qual foi metida a figura ranzinza e solitária, essa espécie de gênio de talento inexplicável não “ensinavel”, no qual francamente não acredito. Se tantos artistas reconhecidos a menos tempo na história que o escritor, lutaram por um espaço acadêmico, por um lugar de troca e formação, por não ter mais o glamour e o peso das artes ditas dons que se nasce possuindo, aprende sozinho, aprende fazendo... A serviço de quê está esse afastamento da arte da escrita de sua teoria, de sua crítica, de seu estudo? A serviço de quê formamos críticos e teóricos com máscaras estereotípicas de frustrados e amargos, prontos a detonar seus inimigos artistas incompreendidos, tantas vezes cobrados justamente na sua falta de diálogo com a teoria?
Me incomodam profundamente tanto a imagem estereotípica do crítico mal amado e amargurado, quanto do escritor gênio incompreendido e inatingível. Me parece que a ambos falta a liberdade de ser, ao menos por vezes, justamente o outro.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
detective down
Trying, for a change, to skip the train of thought
the train of thought that led to... how do these add up?
trying, for a change, to skip the details and explanations.
stop making sense
only the absolute certainty of one imediate, ultimate, and shamefull need:
for the provision ex machina
who comes in singing
Roxanne, you don´t have to wear that dress tonight.
Those days, Roxanne, my dearest,
are over.
the train of thought that led to... how do these add up?
trying, for a change, to skip the details and explanations.
stop making sense
only the absolute certainty of one imediate, ultimate, and shamefull need:
for the provision ex machina
who comes in singing
Roxanne, you don´t have to wear that dress tonight.
Those days, Roxanne, my dearest,
are over.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
dois livros e nenhum grafite
"e porque já somos pessoas sem ódio"
primeira coisa ao chegar foi procurar Bonnie and Clyde 0,1% 0,2% 0,1%
1.6%
....
Hoje o trânsito foi maior que eu, assim. ganhou-me, unido à dor de estômago que vai e vem desde o pêssego das 12:36. Chego a perguntar-me se comi pêssegos demais essa semana. Mas um foi uma nectarina, justifico.
Uma daquelas chuvas extremamente previsíveis, que quase me agradam nesse ritual de respeito a uma força maior que minha obrigação das 18:50 em São Caetano da Putaqueopariu (nenhum tom de grosseria desejado, apenas uma unidade de medida de distância mesmo)
a questão é que aviso desde já que esse trecho está todo errado, que essas palavras já foram escritas antes hoje, e que na falta de superfície se perderam por rios de sarjeta, nas ladeiras afluentes da Paulista. Isso aqui, sinto informar-me, é a cópia da cópia da cópia da cópia, e a paixão platônica das palavras primeiramente pronunciadas na minha cabeça é meio de cristo, meio trágica, impossivel. Isso aqui é um rascunho depois da obra. saca? Uma pena, mas a obra que fique lá, acriticável, nos meus momentos de pequeniníssimos assombros de encontrar na catedral de hoje.
Quis deixar apenas a luz do corredor acesa. Mas não pude, porque quando a da sala queimou, troquei a lâmpada por uma incandescente, que é agora a única luz decentemente quente da minha casa. Todas as outras, deixadas por ela, frias. Não é nenhum espanto. Substituo aos poucos, com uma calma inventada que deixa as roupas no chão.
Dizia, o trânsito, a chuva. Permiti que imperasse sobre meus deveres, larguei-o (la machina, la maledetta odiosa maccchhhhiiinnnna.) Fui sentar-me no café a ler Ana Cristina. Procuro a caneta, que agora de súbito estou produtiva, desejo anotações imprescindíveis e utilíssimas, calculo as pontas de uma produção um pouco mentirosa, mas muito menos preguiçosa que minha presença em casa. Não trouxe caneta. Retorno ao livro. Na falta de grifos, faço infinitas orelhas nas páginas, marco numa mistura imensa os poemas que interessam tanto a um assunto como ao outro, começo a sentir uma vontade imensa de rasgar pequenos pedaços das páginas, fazer cortes no espaço entre as linhas, origami de cada página, que expresse todas as minhas flechas e notas. Maldita seja essa necessidade de palavras. Desencano, teórica, da fidelidade ao distanciamento de estudo. leio. A mão direita se alterna entre o copo de chai, e o pêlo ínfimo, imperceptível e resistente, que não cede às minhas unhas descascadas: minha discretíssima obcessão.
Começa a vir-me uma vontade imensa de escrever, não, que eu perdoe-me a mim mesma-me a imbeleza desta imagem: uma vontade de escrever que é quase um movimento peristáltico. Se não morresse de vergonha de mim mesma começaria ali um vômito íngreme de palavras (não tenho a mais vaga ideia quais) Mas faladas as palavras, que se queriam escritas, se esvaziariam.
Olho em volta, procuro mesmo. Chego a procurar no chão por um lápis ex machina. Porque algum deus haveria de existir, e algum deus haveria de haver deixado cair um lápis junto aos guardanapos amassados debaixo dessa poltrona, tenho absoluta certeza. Olho em volta de novo, se alguém olhasse bem de perto veria uns olhos quase de absitinência. Vejo os palitinhos de mexer café, os potes de canela e açucar, e me imagino escrevendo com palitinhos e canela. Tomo uma certa coragem ridícula, e pergunto às garotas na minha frente se têm um lápis. Não. Poderia pedir a qualquer outra pessoa, o café está lotado, e alguém terá um lápis. Mas me dou por derrotada e ridícula. A garota no balcão parece a Carol. tem o cabelo da carol, o corpo da carol, se veste um pouco melhor que a carol, e se fosse a carol me emprestaria um lápis. Poderia escrever com o meu guarda-chuva. "a menina que escrevia com um guarda-chuva", imagino mais um personagem de conto infantil que não vou escrever. Volto ao livro, tento controlar-me.
Paro em algum momento crucial, alguma frase que exige um olho que olhe pra outro ponto, e a re-imagine. leio "starbucks" e alguma cidade que não me lembro. outro quadro e outras palavras, e todos os cantos estão cheios de palavras e só eu não posso, só eu só eu não posso preciso quero tanto, roubaria a lapiseira das mãos dela e sairia em disparada fugindo triunfante com meu pão nosso de cada dia nas mãos. É que estou quase enfiando-me numa personagem pobre, sinto uma inveja faminta deles todos, como se sentisse de fato fome, e eles comessem. Uma fraqueza de fome que nem me permite pedir um pedaço.fome fome. Só penso envergonhada "Ninguém nesse café tem um grafite 0.5?" "Ninguém nessa porra de café tem um grafite 0.5?" 0.5? Ou era 0.7? Sempre erro, compro sempre o grafite errado, acumulo em casa caixas e caixas de grafite inutil e carrego comigo lapiseiras vazias.
Os homens, como os poemas, ou os grafites, vêm sempre na hora errada.
"um remédio da minha cabeeeeça... misturando o mel de abelha com bicarbonato de sódio"
Volto ao livro. leio mais um pouco, afundo-me de não saber quem são se é que são alguém Gil, Ângela, e nem poder escrever que não sei quem são. Quis grifar:
"O mesmo Gil que jura que são de Shakespeare os versos "trepar é humano, chupar divino" e desvia o olhar para o centro da mesa, depois de diagnosticar silenciosamente minha paranóia."
rio.
Transformada a angústia trágica e as palavras épicas em comédia rasgada interna, termino a página, troco de livro. And just like that I am transported. Because this is the work of a copyist, let it be clear, but a copyist, I feel, using each and every wrong word. I can hear her voice. Patti speaks a bit like some woman I´ve heard in a movie. Strong voice, yet sweet, surprised at her own self. I read, treasuring, yet another page of my recently elected Romeo and Juliet, Tristan and Isolda, my Romantic, ideal and purest love heroes: Patti and Robert. each page is cherished and rationed as water, already sure as a little girl, that this will be the most beautifull love story I will ever know.
Like a small London girl reliving the time of the princesses, and making sketches of beautifull castles and a strong prince; while reading MY chosen fairytale, I imagine passionately that love was only true and possible in the 60s and 70s. Not a sad feeling, just a conscious dive into a kind of subversive Bovary state, and it beautifies all colors around, and brings me to tears. Every word of hers seems to be drawn like a thin weed from fluf earth, put together as the poor ornaments they both collected in the sweet cold of the hunger years.
I notice it is already the second phrase in the same page that has produced a line streaming down my face. As I am now the little child reader, embarassed, I get together my things, decide to leave the cafe, and show no more of my weak emotions to the strangers pittyless of those in need of pencil.
The street is wet, and I cry a little. I cry because the city is beautifull, I cry because I want to write, I cry because I am not writing, I cry because I have never writen, I cry because the sky is the same color of that picture I took, that night in December. I cry, but only very little. A Paulista é linda, e eu decido não limpar o rosto das duas linhas que brilham simétricas. Ignoro a vergonha ao atravessar a rua exposta, por um motivo puramente estético (sempre confundo aesthetic with static) - And if they both were "aesthetic thiefs", I would be an aesthetic cryer. Porque a Paulista está mesmo linda com o ornamento de duas lágrimas meio Românticas, datadas e quase cristãs. A Paulista está muito bonita ornada com esse pequeno pontinho amarelo que deslisa em passinhos rápidos. O que é o que é um pontinho amarelo na paulista? Não, a Paulista está mesmo linda com esse pequeno risco amarelo, porque sou mais um pequeno risco que um pequeno ponto. A dor de estômago começa a voltar, e a cidade é tão excessiva que até a lua parece eternamente sair de trás do escuro, prometer uma outra face que não faz-se.
I would be an aesthetic cryer. Mas ali mais pra frente, penso ver de canto de olho aproximar-se um homem, e para me defender de uma cantada desagradavel por enquanto apenas prevista, I quickly wipe my face, and put my hand in my pocket. E me lembro dos votos de fidelidade à arte, acho dificílimo e lindo que se façam votos destes nos nossos tempos. Só mesmo quando o amor era possivel, teria sido possivel a arte. Desejaria ter tido também esta coragem. Lembro-me que fiz como estes apenas dois votos na vida: mais de uma vez, num trem que se afastava de Verona, prometi intensa e imensamente o retorno, e tenho cumprido. Um voto talvez a uma família escolhida. The other, standing in front of a Paul Klee painting, the promise of a son. An offering: The painting as a present to a future child, and the future child as a present to the painting.
Doscendo a Peixoto Gomide, percebi gostar das sandálias de 30 reais, por causa da alta música íngreme e rítmica de descida criada por elas. Retomo o caminho de volta ao carro, sentindo na sola o sabão seco do rio que se formara de alguma lavagem na ida: espuma assim sem mais escorrendo em meio ao trânsito. E sinto voltar a dor de estômago, que invento dever melhorar devido à caminhada. Talvez tenha comido pêssegos demais essa semana. No caminho para casa passo pelos mesmos faróis que se lembravam de mim no dia dos amarelos, hoje vermelhos todos, te-lo juro, e está escrito "delivery rodésia" em algum lugar, porque vou jogando as frases que me lembrar até não acabar mais, porque essa história não tinha fim, Ana.
75.2% - quase.
primeira coisa ao chegar foi procurar Bonnie and Clyde 0,1% 0,2% 0,1%
1.6%
....
Hoje o trânsito foi maior que eu, assim. ganhou-me, unido à dor de estômago que vai e vem desde o pêssego das 12:36. Chego a perguntar-me se comi pêssegos demais essa semana. Mas um foi uma nectarina, justifico.
Uma daquelas chuvas extremamente previsíveis, que quase me agradam nesse ritual de respeito a uma força maior que minha obrigação das 18:50 em São Caetano da Putaqueopariu (nenhum tom de grosseria desejado, apenas uma unidade de medida de distância mesmo)
a questão é que aviso desde já que esse trecho está todo errado, que essas palavras já foram escritas antes hoje, e que na falta de superfície se perderam por rios de sarjeta, nas ladeiras afluentes da Paulista. Isso aqui, sinto informar-me, é a cópia da cópia da cópia da cópia, e a paixão platônica das palavras primeiramente pronunciadas na minha cabeça é meio de cristo, meio trágica, impossivel. Isso aqui é um rascunho depois da obra. saca? Uma pena, mas a obra que fique lá, acriticável, nos meus momentos de pequeniníssimos assombros de encontrar na catedral de hoje.
Quis deixar apenas a luz do corredor acesa. Mas não pude, porque quando a da sala queimou, troquei a lâmpada por uma incandescente, que é agora a única luz decentemente quente da minha casa. Todas as outras, deixadas por ela, frias. Não é nenhum espanto. Substituo aos poucos, com uma calma inventada que deixa as roupas no chão.
Dizia, o trânsito, a chuva. Permiti que imperasse sobre meus deveres, larguei-o (la machina, la maledetta odiosa maccchhhhiiinnnna.) Fui sentar-me no café a ler Ana Cristina. Procuro a caneta, que agora de súbito estou produtiva, desejo anotações imprescindíveis e utilíssimas, calculo as pontas de uma produção um pouco mentirosa, mas muito menos preguiçosa que minha presença em casa. Não trouxe caneta. Retorno ao livro. Na falta de grifos, faço infinitas orelhas nas páginas, marco numa mistura imensa os poemas que interessam tanto a um assunto como ao outro, começo a sentir uma vontade imensa de rasgar pequenos pedaços das páginas, fazer cortes no espaço entre as linhas, origami de cada página, que expresse todas as minhas flechas e notas. Maldita seja essa necessidade de palavras. Desencano, teórica, da fidelidade ao distanciamento de estudo. leio. A mão direita se alterna entre o copo de chai, e o pêlo ínfimo, imperceptível e resistente, que não cede às minhas unhas descascadas: minha discretíssima obcessão.
Começa a vir-me uma vontade imensa de escrever, não, que eu perdoe-me a mim mesma-me a imbeleza desta imagem: uma vontade de escrever que é quase um movimento peristáltico. Se não morresse de vergonha de mim mesma começaria ali um vômito íngreme de palavras (não tenho a mais vaga ideia quais) Mas faladas as palavras, que se queriam escritas, se esvaziariam.
Olho em volta, procuro mesmo. Chego a procurar no chão por um lápis ex machina. Porque algum deus haveria de existir, e algum deus haveria de haver deixado cair um lápis junto aos guardanapos amassados debaixo dessa poltrona, tenho absoluta certeza. Olho em volta de novo, se alguém olhasse bem de perto veria uns olhos quase de absitinência. Vejo os palitinhos de mexer café, os potes de canela e açucar, e me imagino escrevendo com palitinhos e canela. Tomo uma certa coragem ridícula, e pergunto às garotas na minha frente se têm um lápis. Não. Poderia pedir a qualquer outra pessoa, o café está lotado, e alguém terá um lápis. Mas me dou por derrotada e ridícula. A garota no balcão parece a Carol. tem o cabelo da carol, o corpo da carol, se veste um pouco melhor que a carol, e se fosse a carol me emprestaria um lápis. Poderia escrever com o meu guarda-chuva. "a menina que escrevia com um guarda-chuva", imagino mais um personagem de conto infantil que não vou escrever. Volto ao livro, tento controlar-me.
Paro em algum momento crucial, alguma frase que exige um olho que olhe pra outro ponto, e a re-imagine. leio "starbucks" e alguma cidade que não me lembro. outro quadro e outras palavras, e todos os cantos estão cheios de palavras e só eu não posso, só eu só eu não posso preciso quero tanto, roubaria a lapiseira das mãos dela e sairia em disparada fugindo triunfante com meu pão nosso de cada dia nas mãos. É que estou quase enfiando-me numa personagem pobre, sinto uma inveja faminta deles todos, como se sentisse de fato fome, e eles comessem. Uma fraqueza de fome que nem me permite pedir um pedaço.fome fome. Só penso envergonhada "Ninguém nesse café tem um grafite 0.5?" "Ninguém nessa porra de café tem um grafite 0.5?" 0.5? Ou era 0.7? Sempre erro, compro sempre o grafite errado, acumulo em casa caixas e caixas de grafite inutil e carrego comigo lapiseiras vazias.
Os homens, como os poemas, ou os grafites, vêm sempre na hora errada.
"um remédio da minha cabeeeeça... misturando o mel de abelha com bicarbonato de sódio"
Volto ao livro. leio mais um pouco, afundo-me de não saber quem são se é que são alguém Gil, Ângela, e nem poder escrever que não sei quem são. Quis grifar:
"O mesmo Gil que jura que são de Shakespeare os versos "trepar é humano, chupar divino" e desvia o olhar para o centro da mesa, depois de diagnosticar silenciosamente minha paranóia."
rio.
Transformada a angústia trágica e as palavras épicas em comédia rasgada interna, termino a página, troco de livro. And just like that I am transported. Because this is the work of a copyist, let it be clear, but a copyist, I feel, using each and every wrong word. I can hear her voice. Patti speaks a bit like some woman I´ve heard in a movie. Strong voice, yet sweet, surprised at her own self. I read, treasuring, yet another page of my recently elected Romeo and Juliet, Tristan and Isolda, my Romantic, ideal and purest love heroes: Patti and Robert. each page is cherished and rationed as water, already sure as a little girl, that this will be the most beautifull love story I will ever know.
Like a small London girl reliving the time of the princesses, and making sketches of beautifull castles and a strong prince; while reading MY chosen fairytale, I imagine passionately that love was only true and possible in the 60s and 70s. Not a sad feeling, just a conscious dive into a kind of subversive Bovary state, and it beautifies all colors around, and brings me to tears. Every word of hers seems to be drawn like a thin weed from fluf earth, put together as the poor ornaments they both collected in the sweet cold of the hunger years.
I notice it is already the second phrase in the same page that has produced a line streaming down my face. As I am now the little child reader, embarassed, I get together my things, decide to leave the cafe, and show no more of my weak emotions to the strangers pittyless of those in need of pencil.
The street is wet, and I cry a little. I cry because the city is beautifull, I cry because I want to write, I cry because I am not writing, I cry because I have never writen, I cry because the sky is the same color of that picture I took, that night in December. I cry, but only very little. A Paulista é linda, e eu decido não limpar o rosto das duas linhas que brilham simétricas. Ignoro a vergonha ao atravessar a rua exposta, por um motivo puramente estético (sempre confundo aesthetic with static) - And if they both were "aesthetic thiefs", I would be an aesthetic cryer. Porque a Paulista está mesmo linda com o ornamento de duas lágrimas meio Românticas, datadas e quase cristãs. A Paulista está muito bonita ornada com esse pequeno pontinho amarelo que deslisa em passinhos rápidos. O que é o que é um pontinho amarelo na paulista? Não, a Paulista está mesmo linda com esse pequeno risco amarelo, porque sou mais um pequeno risco que um pequeno ponto. A dor de estômago começa a voltar, e a cidade é tão excessiva que até a lua parece eternamente sair de trás do escuro, prometer uma outra face que não faz-se.
I would be an aesthetic cryer. Mas ali mais pra frente, penso ver de canto de olho aproximar-se um homem, e para me defender de uma cantada desagradavel por enquanto apenas prevista, I quickly wipe my face, and put my hand in my pocket. E me lembro dos votos de fidelidade à arte, acho dificílimo e lindo que se façam votos destes nos nossos tempos. Só mesmo quando o amor era possivel, teria sido possivel a arte. Desejaria ter tido também esta coragem. Lembro-me que fiz como estes apenas dois votos na vida: mais de uma vez, num trem que se afastava de Verona, prometi intensa e imensamente o retorno, e tenho cumprido. Um voto talvez a uma família escolhida. The other, standing in front of a Paul Klee painting, the promise of a son. An offering: The painting as a present to a future child, and the future child as a present to the painting.
Doscendo a Peixoto Gomide, percebi gostar das sandálias de 30 reais, por causa da alta música íngreme e rítmica de descida criada por elas. Retomo o caminho de volta ao carro, sentindo na sola o sabão seco do rio que se formara de alguma lavagem na ida: espuma assim sem mais escorrendo em meio ao trânsito. E sinto voltar a dor de estômago, que invento dever melhorar devido à caminhada. Talvez tenha comido pêssegos demais essa semana. No caminho para casa passo pelos mesmos faróis que se lembravam de mim no dia dos amarelos, hoje vermelhos todos, te-lo juro, e está escrito "delivery rodésia" em algum lugar, porque vou jogando as frases que me lembrar até não acabar mais, porque essa história não tinha fim, Ana.
75.2% - quase.
domingo, 30 de janeiro de 2011
Superfície, Tela, Terreno
“a seda azul do papel que envolve a maçã”
a caneta faz diferença
a caneta, lápis, lapiseira, azul, preta, cinza, ponta fina, 07,9,5... determina.
Papel, caderno, computador: panela ou frigideira, com tefau ou sem.
Tudo são telas.
Computador: o cotidiano mesmo mesmíssimo teclado todo dia ela faz tudo sempre igual, disposições absolutamente gastas, não há novas combinações entre as mesmíssimas teclas. Explico. Certa vez tomei emprestado o computador da minha mãe para escrever um email. Outra marca, teclado, material. Nesta mesma vez sentei-me também noutra posição, sobre outro colchão. O design das teclas (e para não soar por demais representante de vendas do senhor Steve), a textura do material sob meus dedos, a temperatura sobre minha coxa- que difere em graus da máquina com a qual habituei-me tão rapidamente- mostram-se parte do próprio corpo daquilo que se escreve. Transparece inevitavelmente a mudança, a re-disposição daquilo que se cria num suposto universo abstrato.
É como se, talvez em menor escala, eu pensasse em outra língua.
A idéia não é algo imaterial, expelido em letras através de um ser humano com mãos, e tinta a disposição. Idéias são confeccionadas e construídas do material sobre o qual são projetadas. Óleo sobre tela; pensamento sobre metal mais ou menos frio, mais ou menos liso, através de um corpo mais ou menos confortável, dobrado sobre uma superfície mais ou menos dura, quente, áspera ou lisa. Não há, começo a aceitar, independência ou autonomia do pensamento, nem do ser pensante. A mente como unidade geradora de organizações, produtora de idéias desvinculada e apoderada do próprio corpo, do espaço em torno, é uma ficção. E arrisco o exagero: ficção produtora de cisões esquizofrênicas, delírios megalomaníacos, que beiram, ao mesmo tempo constantemente abismos de depressão: a improdutividade.
A tela, superfície imediata estende-se: o que vejo pela janela, o peso excessivamente conhecido desse ar. E a percepção da mudança minusculamente significativa que o peso e o material de outra máquina tiveram sobre minhas palavras, espelha-se na minha necessidade constante de “novos ares”. O corpo é o mesmo aqui, que seria ao pousar na china, certo? Não, absolutamente não. Terreno daquilo que penso, ou mais ainda sinto, é parte da concepção de tudo o que sai de mim, dependente de fora, completamente dependente. Mudança de material: preciso escolher madeira hoje, depois me esforçarei para conseguir grandes planícies plásticas, para cores mais vivas... Ou menos.
A descoberta da absoluta materialidade das ideias e sentimentos, essa afirmação inevitavel da dependência que a figura tem de sua tela, a compreensão da importância e da determinação criada pela superfície, gera ainda outra imediata compreensão: A minha necessidade quase Sabínica de enfileirar planos de partida. Melhor: modelar situações inimaginadas, produzir cuidadosamente a possibilidade do sentimento de todos os sentimentos: "I never thought I´d be here".
Daí a necessidade do novo terreno: não a traição do antigo, mas a soma de outras superfícies, que possibilitem a criação de novas combinações para os mesmos signos emocionais.
Talvez contraditório perceber que apesar dessa sequência infinita de nomes novos para placas de estrada, meu apego à nova superfície é sempre quase imediato! Coleciono em poquíssimos dias, minutos, horas, uma lista quase fotográfica de características daquele lugar, criadoras de ligações emocionais usualmente cotidianas, nesse caso guardadas como absolutas, depois de apenas um gole. Sabores experimentados apenas uma vez são guardados em algum ponto tão fundo da memória, que provavelmente passam em breve a ter mais relação com a imaginação, que qualquer experiência de fato vivida. Estranhamente, no entanto, sou capaz de reconhecer o mesmo exato gosto, o mesmo exato cheiro depois de anos e anos: por algum motivo que desconheço, meu paladar e meu olfato são imensamente superiores à minha capacidade racional de expressão: a essa necessidade de guardar em palavras pedaços antigos de mim.
O novo e a repetição não se excluem nem contradizem: somam-se, tornando absolutamente impossivel chegar mais perto do fim da lista interminavel de "afazeres para a vida": É como se eu percorresse sempre a metade do caminho que falta, já que cada novo espaço não elimina aquele nome, não passa ao próximo, mas torna-se uma vontade incessante de retorno. Cada espaço novo é vizinho de um outro espaço-tela de nome desconhecido, que possibilitaria combinações absolutamente novas da minha carne-tinta, e o número de novas superfícies é redondamente infinito! No entanto, os terrenos pelos quais passo por alguns instantes também se somam à lista de afazeres futuros: a repetição daqueles pequenos sabores, a retomada é como um reconhecimento de si mesmo, é como olhar-se no espelho depois de anos, é como a construção de um lar ilimitado.
E a casa, construida, física; faz-se aos poucos, do intervalo entre ir e ir, do conforto um pouco triste de desfazer malas, do preenchimento gradual de paredes com fotos de outras superfícies... que talvez permitam, no mínimo, outro cheiro para os pensamentos de sempre.
a caneta faz diferença
a caneta, lápis, lapiseira, azul, preta, cinza, ponta fina, 07,9,5... determina.
Papel, caderno, computador: panela ou frigideira, com tefau ou sem.
Tudo são telas.
Computador: o cotidiano mesmo mesmíssimo teclado todo dia ela faz tudo sempre igual, disposições absolutamente gastas, não há novas combinações entre as mesmíssimas teclas. Explico. Certa vez tomei emprestado o computador da minha mãe para escrever um email. Outra marca, teclado, material. Nesta mesma vez sentei-me também noutra posição, sobre outro colchão. O design das teclas (e para não soar por demais representante de vendas do senhor Steve), a textura do material sob meus dedos, a temperatura sobre minha coxa- que difere em graus da máquina com a qual habituei-me tão rapidamente- mostram-se parte do próprio corpo daquilo que se escreve. Transparece inevitavelmente a mudança, a re-disposição daquilo que se cria num suposto universo abstrato.
É como se, talvez em menor escala, eu pensasse em outra língua.
A idéia não é algo imaterial, expelido em letras através de um ser humano com mãos, e tinta a disposição. Idéias são confeccionadas e construídas do material sobre o qual são projetadas. Óleo sobre tela; pensamento sobre metal mais ou menos frio, mais ou menos liso, através de um corpo mais ou menos confortável, dobrado sobre uma superfície mais ou menos dura, quente, áspera ou lisa. Não há, começo a aceitar, independência ou autonomia do pensamento, nem do ser pensante. A mente como unidade geradora de organizações, produtora de idéias desvinculada e apoderada do próprio corpo, do espaço em torno, é uma ficção. E arrisco o exagero: ficção produtora de cisões esquizofrênicas, delírios megalomaníacos, que beiram, ao mesmo tempo constantemente abismos de depressão: a improdutividade.
A tela, superfície imediata estende-se: o que vejo pela janela, o peso excessivamente conhecido desse ar. E a percepção da mudança minusculamente significativa que o peso e o material de outra máquina tiveram sobre minhas palavras, espelha-se na minha necessidade constante de “novos ares”. O corpo é o mesmo aqui, que seria ao pousar na china, certo? Não, absolutamente não. Terreno daquilo que penso, ou mais ainda sinto, é parte da concepção de tudo o que sai de mim, dependente de fora, completamente dependente. Mudança de material: preciso escolher madeira hoje, depois me esforçarei para conseguir grandes planícies plásticas, para cores mais vivas... Ou menos.
A descoberta da absoluta materialidade das ideias e sentimentos, essa afirmação inevitavel da dependência que a figura tem de sua tela, a compreensão da importância e da determinação criada pela superfície, gera ainda outra imediata compreensão: A minha necessidade quase Sabínica de enfileirar planos de partida. Melhor: modelar situações inimaginadas, produzir cuidadosamente a possibilidade do sentimento de todos os sentimentos: "I never thought I´d be here".
Daí a necessidade do novo terreno: não a traição do antigo, mas a soma de outras superfícies, que possibilitem a criação de novas combinações para os mesmos signos emocionais.
Talvez contraditório perceber que apesar dessa sequência infinita de nomes novos para placas de estrada, meu apego à nova superfície é sempre quase imediato! Coleciono em poquíssimos dias, minutos, horas, uma lista quase fotográfica de características daquele lugar, criadoras de ligações emocionais usualmente cotidianas, nesse caso guardadas como absolutas, depois de apenas um gole. Sabores experimentados apenas uma vez são guardados em algum ponto tão fundo da memória, que provavelmente passam em breve a ter mais relação com a imaginação, que qualquer experiência de fato vivida. Estranhamente, no entanto, sou capaz de reconhecer o mesmo exato gosto, o mesmo exato cheiro depois de anos e anos: por algum motivo que desconheço, meu paladar e meu olfato são imensamente superiores à minha capacidade racional de expressão: a essa necessidade de guardar em palavras pedaços antigos de mim.
O novo e a repetição não se excluem nem contradizem: somam-se, tornando absolutamente impossivel chegar mais perto do fim da lista interminavel de "afazeres para a vida": É como se eu percorresse sempre a metade do caminho que falta, já que cada novo espaço não elimina aquele nome, não passa ao próximo, mas torna-se uma vontade incessante de retorno. Cada espaço novo é vizinho de um outro espaço-tela de nome desconhecido, que possibilitaria combinações absolutamente novas da minha carne-tinta, e o número de novas superfícies é redondamente infinito! No entanto, os terrenos pelos quais passo por alguns instantes também se somam à lista de afazeres futuros: a repetição daqueles pequenos sabores, a retomada é como um reconhecimento de si mesmo, é como olhar-se no espelho depois de anos, é como a construção de um lar ilimitado.
E a casa, construida, física; faz-se aos poucos, do intervalo entre ir e ir, do conforto um pouco triste de desfazer malas, do preenchimento gradual de paredes com fotos de outras superfícies... que talvez permitam, no mínimo, outro cheiro para os pensamentos de sempre.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
duas madrugadas morenas
Ter que ir embora, é ter que ir embora. A distânicia a percorrer, a urgência ou o tempo da viagem, são camadas finas de contratempo que se acumulam sobre a leve frase: ter que ir embora. Diferença de gênero, número, e grau: diferença nenhuma, na pele daquilo que se dá. Aquilo que se dá é ter que ir embora, é a madrugada morena de despedida.
Sobre a cabeça, sempre os aviões. Sobre, dentro, no entorno da cabeça os sempre eles aviões, de partida. A gente que vive de ir, vive assim, naquele friozinho insone depois da cama; daquele jeito em que acordar demora horas, e se acorda apenas no ar.
Duas madrugadas nos dois pés dum ano, escuros de desavisos, esperando gotas. As novidades de começo e de fim, planejadas ou não, são assim... como duas reticências só, à espera da terceira.
A gente que vive de ir, vive assim, colecionando madrugadas bolas-de-gude, que giram infinitamente em torno de si mesmas. Uma construção de passados nulos pra guardar de relíquia, algum bolso que eu nunca tive.
Minha primeira madrugada morena foi mesmo um casamento com aqueles braços fortes que me queriam. Me queriam assim mesmo como um arado, como um grande arado, o primeiro arado do primeiro homem, da primeira noite no início dos tempos. Na minha primeira madrugada morena, me foi lido o futuro em cartas dispostas entre as nossas pernas. As minhas por cima, e o chão é de um calor fevereiro, negando neves quaisquer. Um imenso começo, elevado a condição de existência, um traçado de planos e linhas futuras, completamente desamarradas uma da outra, soltas dentro dessa vontade imensa de não se despedir nunca, não tendo nunca se apresentado. Curto como um conto, do tamanho da nossa vida inteira. Amei por cinquenta anos: fizemos ali bodas de ouro, como no momento em que se casa, e que se ama pra toda a vida, até depois nunca nunca mais.
Bola-de-gude, minha madrugada que não se queria única. Mas é da sua natureza, e sua natureza saciada fala por si... torna-se inevitavel saber-se em paz, na sua unidade monosilábica. Dura algumas décadas de espera, e depois amadurece um momentinho pequeno, que sempre havia sabido.
A segunda madrugada morena foi de uma pequenina escuridão. Muito prazer, como é mesmo que se escreve o seu nome? O meu é aquele estirado ali ao lado, escrito em letras de... Mas nós pulamos as formalidades, os desinteresses, e os próprios passados todos. Ao contrário, sem votos nem esse tecido de planos doloridos coloridos da primeira. Por acaso estes braços me caem bem- disse. Seguir viagem, mudar de país... mas é como eu disse, há algo de profundamente idêntico nesses olhos que não dormirão. Há sempre um certo desespero em saber-se de leve à beira de tudo... tudo! Ali bem adiante, e a possibilidade de estar alucinando é grande, dado o adiantado da hora. Bobagens, minha filha, bobagens. O tecido das trocas é fino, e meus olhos se percebem de repente assim, expostos, imensamente desconhecidos. A desimportância e a leveza da tua brevidade, madrugada, me deixou assim, no desejo de te coroar, te eleger a mais bela, por singela e solta. Mas não tenho, dessa distância de passos, o poder de te guardar ainda acabada, pronta, una. A vigília daquele que vela é por demais bela, gêmea dos passados sublimes. Deixar-se ver adormecer, e ser desperta por outro, é a mais momentânea entrega, brincadeiras de olhos abertos do calor.
Mas ter que ir embora, é ter que ir embora. E nada se iguala à duçura leve de fruta que amadurece só uma, logo antes de já ser depois. Daí tua semelhança, madrugada morena de segunda viagem! Retorno ao início de tudo o que se perde, em novas camadas mais breves, mais leves, mais.
Sobre a cabeça, sempre os aviões. Sobre, dentro, no entorno da cabeça os sempre eles aviões, de partida. A gente que vive de ir, vive assim, naquele friozinho insone depois da cama; daquele jeito em que acordar demora horas, e se acorda apenas no ar.
Duas madrugadas nos dois pés dum ano, escuros de desavisos, esperando gotas. As novidades de começo e de fim, planejadas ou não, são assim... como duas reticências só, à espera da terceira.
A gente que vive de ir, vive assim, colecionando madrugadas bolas-de-gude, que giram infinitamente em torno de si mesmas. Uma construção de passados nulos pra guardar de relíquia, algum bolso que eu nunca tive.
Minha primeira madrugada morena foi mesmo um casamento com aqueles braços fortes que me queriam. Me queriam assim mesmo como um arado, como um grande arado, o primeiro arado do primeiro homem, da primeira noite no início dos tempos. Na minha primeira madrugada morena, me foi lido o futuro em cartas dispostas entre as nossas pernas. As minhas por cima, e o chão é de um calor fevereiro, negando neves quaisquer. Um imenso começo, elevado a condição de existência, um traçado de planos e linhas futuras, completamente desamarradas uma da outra, soltas dentro dessa vontade imensa de não se despedir nunca, não tendo nunca se apresentado. Curto como um conto, do tamanho da nossa vida inteira. Amei por cinquenta anos: fizemos ali bodas de ouro, como no momento em que se casa, e que se ama pra toda a vida, até depois nunca nunca mais.
Bola-de-gude, minha madrugada que não se queria única. Mas é da sua natureza, e sua natureza saciada fala por si... torna-se inevitavel saber-se em paz, na sua unidade monosilábica. Dura algumas décadas de espera, e depois amadurece um momentinho pequeno, que sempre havia sabido.
A segunda madrugada morena foi de uma pequenina escuridão. Muito prazer, como é mesmo que se escreve o seu nome? O meu é aquele estirado ali ao lado, escrito em letras de... Mas nós pulamos as formalidades, os desinteresses, e os próprios passados todos. Ao contrário, sem votos nem esse tecido de planos doloridos coloridos da primeira. Por acaso estes braços me caem bem- disse. Seguir viagem, mudar de país... mas é como eu disse, há algo de profundamente idêntico nesses olhos que não dormirão. Há sempre um certo desespero em saber-se de leve à beira de tudo... tudo! Ali bem adiante, e a possibilidade de estar alucinando é grande, dado o adiantado da hora. Bobagens, minha filha, bobagens. O tecido das trocas é fino, e meus olhos se percebem de repente assim, expostos, imensamente desconhecidos. A desimportância e a leveza da tua brevidade, madrugada, me deixou assim, no desejo de te coroar, te eleger a mais bela, por singela e solta. Mas não tenho, dessa distância de passos, o poder de te guardar ainda acabada, pronta, una. A vigília daquele que vela é por demais bela, gêmea dos passados sublimes. Deixar-se ver adormecer, e ser desperta por outro, é a mais momentânea entrega, brincadeiras de olhos abertos do calor.
Mas ter que ir embora, é ter que ir embora. E nada se iguala à duçura leve de fruta que amadurece só uma, logo antes de já ser depois. Daí tua semelhança, madrugada morena de segunda viagem! Retorno ao início de tudo o que se perde, em novas camadas mais breves, mais leves, mais.
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